Responsável por cerca de 50% da produção global de aço, o apetite chinês por minério de ferro exerce um peso significativo nas cotações internacionais da commodity. Afinal, é para lá que seguem dois terços dos embarques transoceânicos do minério. Mas a desvalorização da cotação internacional do minério de ferro - uma queda de quase 70% desde 2011 - também reflete uma estratégia das grandes mineradoras globais para eliminar concorrentes de menor escala produtiva.
Em 2000 o mercado mundial de minério de ferro era de 454 milhões de toneladas. Em 2011, puxado pela demanda chinesa, o consumo mundial ultrapassou a marca de um bilhão de toneladas, segundo dados do Credit Suisse. No período, a cotação internacional do minério de ferro registrou uma alta de mais de 1.100%, chegando a um pico de US$ 180 a tonelada. "Essa extraordinária valorização viabilizou inúmeros novos projetos minerais ao redor do mundo, resultando em uma superoferta global do minério", diz Pedro Galdi, analista da Whats Call Corretora.
A queda nos preços internacionais nos últimos quatro anos ocorreu mesmo com o consumo global de minério de ferro tendo apresentado crescimento, chegou a 1,37 bilhão de toneladas em 2014, conforme o Credit Suisse. Segundo dados da Administração Geral de Alfândega da China, em 2015, até o mês de agosto, as importações de minério de ferro pelo país asiático somaram 612,96 milhões de toneladas, um recuo de apenas 0,2% em relação ao mesmo período de 2014.
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Pedro Galdi diz que há um ajuste em curso na produção, com o adiamento de novos projetos por parte das mineradoras de médio porte e até mesmo a descontinuidade de minas que apresentam baixa performance. Por outro lado, há uma concentração da atividade mineral nas operações de grande escala e custos bastante competitivos. Laura Brooks, analista da CRU Consulting, diz que esse ajuste da oferta é um processo lento e um equilíbrio no mercado só deve ser atingido em 2019. "Até lá, os preços do minério devem subir apenas sutilmente", diz.
O consultor Afonso Santorio, da EY, diz que a grande incógnita hoje no mercado está relacionado ao comportamento do consumo do minério, principalmente depois que a China reduziu seu ritmo de crescimento e adotou uma estratégia de expansão econômica estimulando o consumo das famílias e não tanto as obras de infraestrutura, como prevaleceu na última década. As perspectivas sobre a demanda chinesa dividem as opiniões. Um dos maiores especialistas em China, o consultor americano Michael Pettis, afirmou recentemente que a cotação do minério de ferro ainda pode cair pelo menos 30%. A previsão de uma queda de 30% em um prazo de 18 meses também consta de um relatório do Goldman Sachs Group divulgado em agosto.
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, em entrevista ao Valor no início de setembro, tem opinião diferente. Ele acredita numa recuperação dos preços internacionais em um prazo não muito longínquo, puxado pela demanda por aço pelo mercado imobiliário chinês.
O consultor Eduardo Raffaini, da Deloitte, diz que no curto prazo não há um viés de alta nos preços do minério, mas ele já vê sinais de um aquecimento na demanda internacional puxada pelos Estados Unidos e Europa. "São economias que já superaram a fase mais crítica de ajuste após a crise de 2008 e apresentam uma recuperação, mesmo que ainda pequena. O crescimento da China, na casa de 6% a 7% ao ano, não é tão exuberante como o patamar de dois dígitos de anos anteriores, mas é expressivo", afirma.
Raffaini diz ainda que existem demandas globais por infraestrutura reprimidas em países da África, Ásia e América Latina que podem impulsionar novos ciclos de alta nos preços do minério de ferro. "A Índia cresce 6% ao ano, tem uma população de mais de um bilhão de pessoas e uma infraestrutura muito pobre. É uma candidata natural a comandar um novo ciclo de demanda pela commodity", afirma.
Fonte: Valor Econômico/Domingos Zaparolli | Para o Valor, de São Paulo