O encolhimento do mercado brasileiro, o aumento do foco em exportações e a concorrência mais acirrada no segmento fizeram com que Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), as maiores produtoras de aços planos do país, perdessem espaço no mercado doméstico. A Gerdau, líder na fabricação de aços longos nas Américas, mas novata no setor de planos acabou abocanhando expressiva fatia das vendas e pode elevar ainda mais sua participação em 2016.
Em 2013, as líderes do mercado nacional de planos ostentavam 72,3% do consumo aparente - produtos nacionais e importados -, segundo levantamento do Valor. A queda foi expressiva, de 16,9 pontos percentuais, e no ano passado essa proporção representava 55,4%. Se forem consideradas apenas as vendas internas, a deterioração foi mais significativa, de 18,1 pontos para 65,4%. A redução para a CSN, foi de 9 pontos percentuais, para 24,3% do consumo, enquanto na Usiminas houve diminuição de 7,5 pontos, para 31,1%.
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Para 2016, o Instituto Aço Brasil prevê consumo aparente de 19,4 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos no país. Considerando a média histórica de participação de planos no total (cerca de 54%), o consumo da área deve chegar a 10,5 milhões de toneladas. Nas previsões mais pessimistas, as vendas internas de Usiminas e CSN recuariam cerca de 30% e, nas otimistas, entre 20% e 10%, respectivamente.
Com essas estimativas, é possível até que a participação de ambas no mercado nacional de planos caia abaixo da metade pela primeira vez em muito tempo. A previsão mais pessimista aponta para 45% de "market share". Na perspectiva mais positiva, a fatia agregada do consumo ficaria em 53%, ainda assim uma queda.
"Essa participação foi quase toda abocanhada pela Gerdau", comenta uma fonte graduada do setor, especialista em aços planos. "A ArcelorMittal Tubarão [terceira colocada] se manteve quase estável e neste ano deve até exportar mais do que vender no Brasil", acrescenta. Gerdau e ArcelorMittal não revelaram dados específicos de aços planos, mas a participação do grupo indo-europeu fica na faixa de 18% a 20%.
A Gerdau ingressou nesse segmento há quase três anos, com a instalação de um laminador de bobinas a quente em Ouro Branco (MG). O equipamento possui capacidade instalada de 800 mil toneladas por ano. Com produção plena, toda direcionada ao mercado interno, teria 8% da demanda - mas acredita-se que parte vá para a exportação.
Em julho, a empresa gaúcha vai estrear uma nova linha, para a produção de chapas grossas, apta a fazer 1,1 milhão de toneladas anuais. O grupo investiu quase US$ 2 bilhões no negócio de laminados a quente e chaps grossas. Se tiver utilização da capacidade próxima de 100% após iniciar a operação, a Gerdau teria potencial para ficar com 19% desse mercado. Em chapas grossas, compete apenas com Usiminas e material importado.
A estratégia da estreante foi agressiva e, além de descontos concedidos aos clientes em alguns casos, a companhia também realizou vendas casadas a preços mais atrativos. De acordo com fontes do mercado, a Gerdau "sempre praticou descontos" e a postura permanece até hoje. O Valor apurou que os valores se aproximam do praticado na Rússia, um dos menores do mundo.
De 2013 a 2015, as vendas internas de aços planos no Brasil caíram 19%, para 9,8 milhões de toneladas, informa o Aço Brasil. O consumo aparente recuou 17,5%, para 11,5 milhões de toneladas. O volume comercializado pela Usiminas ficou em 3,6 milhões de toneladas, 33,5% menor, e no caso da CSN houve redução de 40%, para 2,8 milhões de toneladas.
Vale lembrar que parte das vendas da Gerdau refere-se a materiais de CSN e Usiminas já transformados, mas por meio da distribuidoras própria. Em conversa com analistas, Sérgio Leite, diretor comercial da empresa mineira, lembrou que esse abastecimento diminuiu. "A entrada [de um novo concorrente] representou uma queda de vendas para nós, mas buscamos compensar essa queda", afirmou.
A crise atual, a maior da história do setor no país, explica a queda de ambas, mas a queda também pode ser observada por outro lado: as empresas tentaram se beneficiar do real desvalorizado vendendo seus produtos no exterior. Em 2013, a CSN vendeu 1,5 milhão de toneladas de aço no exterior. O volume subiu, até 2015, de 34%, para 2 milhões de toneladas. A Usiminas também adotou essa estratégia no período: a exportação subiu 63%, para 1,3 milhão de toneladas. Mas, sem competitividade, neste ano praticamente saiu do exterior.
A CSN deve continuar acessando o exterior para compensar a queda interna, mas para a concorrente a situação é um pouco mais difícil. Os Estados Unidos, por exemplo, praticamente fecharam as portas para a Usiminas quando instituíram medidas de defesa comercial que atingiram tanto laminados a quente como a frio.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo