Em plena época de alta das matérias-primas para o setor siderúrgico, o grupo Gerdau revelou ontem, durante a apresentação dos resultados do quarto trimestre de 2010, que se prepara para entrar como vendedor no mercado de minério de ferro depois de reavaliar para cima das reservas detidas em Minas Gerais.
A estratégia para ingresso no segmento, incluindo os investimentos e o cronograma do novo projeto, ainda não está definida, mas o anúncio foi suficiente para puxar a cotação das ações do conglomerado.
No mesmo dia em que o Ibovespa subiu 1,28%, as ações preferenciais (PN) da Gerdau avançaram 4,59%, para R$ 22,75, enquanto as ordinárias (ON) avançaram 5,17%, para R$ 17,49. Na Metalúrgica Gerdau, as PN tiveram alta de 4,82%, para R$ 26,70, e as ON chegaram a R$ 22,93, com valorização de 4,27%.
André Gerdau Johannpeter, diretor-presidente do grupo, disse que "todas as opções" de operação na área de mineração estão sendo examinadas, inclusive se o negócio será ou não explorado com algum parceiro e se será constituída uma empresa exclusiva para esse fim. No relatório apresentado junto com a divulgação do resultado, a Gerdau informou que tomou a decisão graças à "confortável situação no suprimento de suas necessidades atuais e futuras [de minério]".
As reservas estimadas pelo grupo passaram de 1,8 bilhão para 2,9 bilhões de toneladas graças a recentes aquisições de áreas adicionais e a reavaliações dos volumes e teor de ferro dos recursos minerais em Miguel Burnier, Várzea do Lopes, Gongo Soco e Dom Bosco.
Em 2011 a produção própria de minério já será suficiente para suprir 75% da demanda da Açominas e em 2012 alcançará 100% do consumo da unidade com o aumento do volume para 7 milhões de toneladas anuais, depois de um investimento de R$ 533 milhões em três anos.
Ainda assim os estoques serão suficientes para sustentar a expansão da Açominas até o "potencial" máximo de produção de 13 milhões de toneladas de aço bruto por ano no longo prazo e gerar excedente para comercialização, explicou o executivo. Hoje a usina tem capacidade para 4,5 milhões de toneladas por ano, mas não há um cronograma estabelecido para as ampliações futuras.
Parte do minério também poderá ser utilizada pelas outras duas usinas do grupo em Minas Gerais (Barão de Cocais e Divinópolis), além de ser exportada para suprir as usinas na Índia (uma parceria com o grupo local Kalyani) e no Peru. Atualmente a Siderperu está produzindo aço e laminados a partir de sucata e de tarugos importados devido aos altos preços do minério de ferro no país.
Segundo Johannpeter, o plano de investimentos da Gerdau para 2011-2015 será de R$ 10,8 bilhões, sendo 75% nas unidades no Brasil e 25% no exterior. O programa anterior, para 2010-2014, era de R$ 11 bilhões, e só no ano passado foram aplicados R$ 1,3 bilhão.
O novo pacote inclui, além da expansão da produção de minério, um aporte de R$ 2,47 bilhões na ampliação na capacidade da Cosigua (RJ) em 50% até 2012, para 1,8 milhão de toneladas de aço por ano, e a implantação de um laminador de fio-máquina e vergalhões na mesma unidade com 1,1 milhão de toneladas/ano de capacidade (a primeira fase, de 600 mil toneladas/ano, entrará em operação em 2013).
O plano quinquenal contempla ainda a ampliação do laminador de perfis estruturais da Açominas de 540 mil para 700 mil toneladas anuais em 2011, além da instalação dos dois primeiros laminadores de aços planos na usina (bobinas a quente em 2012 e chapas grossas em 2013) com capacidade somada de 1,9 milhão de toneladas por ano.
O novo laminador de aços especiais que será instalado no Brasil com capacidade para 500 mil toneladas por ano a partir de 2012, com aporte de R$ 350 milhões, também faz parte do programa, mas a definição do local ainda levará dois meses, disse.
No exterior, o plano 2011-2015 inclui a modernização da aciaria da Siderperu até 2013 e a instalação de um terminal portuário para desembarque de carvão e coque na Colômbia até 2013. Em aços especiais, o programa prevê ainda, até 2012, a entrada em operação de um novo laminador de aços especiais e vergalhões com capacidade instalada de 300 mil toneladas/ano na Índia e de um lingotamento contínuo de 200 mil toneladas/ano na unidade de Monroe, no Estado americano de Michigan.
Fonte: Valor Econômico/Sérgio Bueno | De Porto Alegre
PUBLICIDADE