As grandes empresas de petróleo, que passaram anos perseguindo o crescimento, agora estão em uma nova corrida, para ver com que rapidez podem devolver dinheiro aos investidores.
O crescimento passou a ficar em segundo plano para os investidores em óleo e gás no ano passado, quando a pandemia fez a demanda por petróleo despencar e os preços desabaram.
Com a era do petróleo claramente passando de seu pico, os investidores estão procurando empresas que possam tratá-los bem na longa e lenta queda.
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As maiores empresas dos Estados Unidos, Exxon Mobil e Chevron, atraíram tanto críticas quanto elogios por manter pagamentos de dividendos e assim seguir com seu status de “aristocratas do dividendo”.
Para a Exxon, os dividendos são tão sagrados que ela fez mais dívidas para pagá-los. Na verdade, a empresa não conseguiu bancar seus dividendos apenas por meio de seu caixa mesmo em 2019, antes da pandemia.
Enquanto os dividendos ocuparam o centro das atenções no ano passado, as recompras de ações foram prodigiosas durante tempos mais felizes para os gigantes do setor. A Exxon gastou mais de US$ 250 bilhões em recompras de ações desde 2000, o ano seguinte ao fechamento da fusão com a Mobil, reduzindo sua contagem de ações em quase 40% durante esse período. A Chevron reduziu sua contagem total de ações em quase 10% desde 2001, ano em que se fundiu com a Texaco.
Recompras
A capacidade do setor de reiniciar as recompras dependerá da rapidez com que os balanços se recuperem, mas a disputa pelo coração dos investidores já está em andamento. A ConocoPhillips foi a primeira a restabelecer as recompras de ações, anunciando em 10 de março que retomou as recompras totalizando US$ 1,5 bilhão por ano. Isso ainda é um declínio acentuado em relação aos US$ 3,5 bilhões que fez em 2019, mas representa um desafio para os pares.
O reembolso de caixa já está na prioridade dos investidores, dada a percepção de que a demanda de petróleo está próxima de seu pico e podendo entrar em declínio.
Durante o dia do investidor, em 9 de março, a Chevron respondeu a várias perguntas sobre quando retomaria seu programa de recompra para valer. Embora a empresa não tenha dado um cronograma definitivo, o diretor financeiro, Pierre Breber, disse que um programa não seria retomado até que a companhia estivesse confiante de que poderia sustentá-lo por vários anos. Embora se espere que a Chevron gere caixa suficiente para cobrir os dividendos no primeiro trimestre, não sobrará uma quantia substancial.
A Exxon tem ainda menos espaço de manobra. Sua dívida cresceu US$ 20 bilhões ao longo de 2020, atingindo seu nível mais alto desde, pelo menos, sua fusão com a Mobil, há mais de 20 anos.
Não se espera que seu fluxo de caixa livre volte a níveis que possam cobrir totalmente seus dividendos até o terceiro trimestre deste ano. A EOG Resources, uma das maiores empresas independentes de exploração e produção dos EUA, também disse que daria prioridade à redução da dívida antes de buscar recompras de ações ou dividendos complementares.
Caixa
Ainda assim, as expectativas de caixa parecem estar se recuperando em um ritmo mais rápido do que os preços do petróleo, ajudadas por gastos de capital. A Exxon espera até US$ 19 bilhões em despesas de capital neste ano, um claro recuo em relação à média de US$ 29,4 bilhões em dez anos. Como resultado, espera-se que o fluxo de caixa livre se recupere rapidamente para US$ 15,3 bilhões neste ano, um nível visto pela última vez em 2018, quando o preço médio anual do petróleo Brent chegou a US$ 70 o barril. Para 2021, a autarquia de energia dos EUA espera que o Brent atinja uma média de US$ 60,67 o barril.
“Crescer lentamente, gerar fluxo de caixa livre e devolvê-lo aos investidores. Esse é o mantra que está vendendo bem com os investidores”, disse Michael Bradley, diretor do banco de investimento focado em energia Tudor, Pickering, Holt & Co. Investidores que costumavam prestar atenção aos múltiplos de avaliação, como preço/lucro, agora estão mais focados no fluxo de caixa livre, observou Bradley.
Fonte: Valor