Os efeitos do fenômeno climático La Niña sobre a produção de grãos na Argentina e no sul do Brasil provocaram forte disparada dos produtos agropecuários, avaliam economistas, o que elevou a inflação no atacado. Com essa pressão, a estimativa média de 22 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) acelerou de 0,07% em fevereiro para 0,63% em março.
As estimativas para o indicador, a ser divulgado hoje pela FGV, vão de alta de 0,48% até 0,70%. Se confirmadas as expectativas, a inflação acumulada em 12 meses pelo IGP-M terá subido para 0,19% em março, voltando ao campo positivo. O índice nessa medida está em deflação desde junho do ano passado.
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Com peso de 60% no IGP-M, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) subiu 0,82% este mês, estima Fabio Romão, da LCA Consultores, depois de ter recuado 0,02% em fevereiro. A principal influência positiva, segundo Romão, veio dos produtos agropecuários, que saíram de -0,71% na medição anterior para alta de 2,86%.
Além da maior alta dos grãos, outros itens devem pressionar os preços agrícolas ao produtor em março, acrescenta Romão. Produtos in natura também devem ter desacelerado. Esses itens têm pouco peso no IPA agro, mas terão variações significativas. Já o IPA industrial deve ter perdido fôlego na passagem mensal, com alta de 0,16% no IGP-M deste mês, ante 0,21% no anterior.
A disparada dos preços agropecuários neste mês não anula o cenário de inflação ainda comportada de alimentos no varejo, mas reforça que não haverá nova deflação anual destes itens, diz o economista. Em 2017, esses preços caíram 4,9% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Para os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano, do Haitong, a leitura atual do IGP-M deve colocar em xeque o argumento de que os dados de inflação continuam tranquilos e, portanto, ainda há espaço para novos cortes da taxa básica de juros. Para o banco, o indicador aumentou 0,61% em março, puxado por avanço de 2,9% dos produtos agropecuários ao produtor.
"Se a nossa projeção for confirmada, será uma evidência de que as leituras favoráveis na inflação de alimentos podem estar perto do fim e, consequentemente, de que os preços ao consumidor também devem aumentar", dizem Santos e Serrano.
O Índice de Preços ao Consumidor - M (IPC-M), que representa 30% do indicador geral, desacelerou de 0,28% em fevereiro para 0,11% em março, projeta Romão, da LCA. Segundo o economista, os grupos de alimentação e educação registraram queda em seus preços, o que explica a perda de ímpeto prevista para a inflação no varejo.
Por fim, já divulgado pela FGV, o Índice Nacional de Custo da Construção - M avançou de 0,14% para 0,23% na passagem mensal. Materiais, equipamentos e serviços subiram de 0,32% para 0,50%.
Fonte: Valor