Houve “certo pessimismo exacerbado” sobre a demanda de aço no mercado brasileiro no primeiro trimestre, mas o consumo já se recuperou e, em termos reais, segue em crescimento, disse o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, em teleconferência com analistas.
Conforme o executivo, excluídos os efeitos da recomposição de estoques em 2021, a demanda real de aços longos e planos no Brasil segue similar ao registrado no segundo semestre do ano passado e 25% acima da média de 2019 e 2020, o que sustenta a visão de que a demanda real no ano pode crescer até 4%.
“De fato, houve problemas em janeiro e fevereiro, com as chuvas em Minas e a covid-19, mas demanda já se recuperou em março e abril trouxe números muito bons”, afirmou o executivo. “Entendemos que em 2022, de forma geral, a demanda deve crescer 2% ante 2021, que foi um ano muito forte”.
Os problemas vistos no início do ano, comentou, foram relacionados à maior entrada de fio máquina importado e à queda de consumo na autoconstrução e varejo. Já as entregas de vergalhão subiram quase 10% na comparação anual e a de aços planos se manteve estável. “Há fundamentos fortes que nos fazem ter essa visão positiva”, disse.
Na Argentina, as vendas de aço foram puxadas pela construção e pelo agronegócio no primeiro trimestre e a perspectiva é positiva para o ano, em particular na construção. Para o Uruguai, a expectativa é similar. No Peru, onde a companhia vai expandir a capacidade de laminação, a demanda se mantém saudável apesar do impacto de uma greve na logística e das incertezas políticas.
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Demanda de aço na América do Norte
Os resultados históricos alcançados pela Gerdau no primeiro trimestre foram influenciados por níveis elevados de demanda de aço na América do Norte.
“Os expressivos resultados no trimestre mostram a sólida presença da empresa em mercados em que atua e seu foco nas Américas”, afirmou Werneck.
Conforme o executivo, os primeiros efeitos da guerra na Ucrânia começaram a ser percebidos em meados de março, com aumento dos preços à vista de carvão e ligas e de energéticos, resultando em maior pressão de custos.
Por outro lado, restrições de suprimento de matérias-primas e a redução da oferta de aço acabaram resultando em alta de preços no mundo todo. “Nossas operações não foram afetadas por eventuais disrupções porque trabalhamos com estoques de segurança e base diversificada de fornecedores”, comentou.
Depois de registrar Ebitda recorde na América do Norte, de R$ 2,7 bilhões no primeiro trimestre, a Gerdau prevê continuidade das margens elevadas na região, com spreads metálicos perto das máximas históricas. Naquele mercado, a demanda de aço foi puxada pela construção não residencial e manufatureira.
“Para o segundo trimestre, as perspectivas seguem bastante positivas, com ‘backlog’ acima da média histórica”, disse Werneck. Neste momento, o backlog de pedidos é equivalente a 180 dias de compra, com mais de 1 milhão de toneladas, as fábricas da Gerdau na região exibem taxas de operação acima de 90%.
A companhia permanece otimista com demanda por aço na região no médio prazo, principalmente na indústria da construção e o pacote de infraestrutura anunciado pelo governo. Para fazer frente à demanda adicional na região, a Gerdau vai investir R$ 300 milhões neste ano para modernizar a aciaria no Canadá, elevando em 200 mil toneladas a capacidade na usina, com foco em perfis estruturais.
Em aços especiais, nos Estados Unidos e no Brasil, as montadoras seguem pressionadas pela falta de chips, reduzindo o crescimento da produção de veículos leves. Para veículos pesados, a perspectiva é mais positiva nos dois mercados.
Recompra de ações
Os programas de recompra de ações abertos por Gerdau e Metalúrgica Gerdau após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre refletem a confiança na capacidade de geração de caixa, disse o vice-presidente de finanças e de relações com investidores da siderúrgica, Rafael Japur.
Os programas abrangem 5% e 10% das ações preferenciais em circulação da Gerdau e da Metalúrgica Gerdau, respectivamente, com prazo de 18 meses.
“Entendemos que as ações estão subavaliadas nos últimos meses”, afirmou o executivo. “Entendemos que o desconto é importante em relação a nossos pares na América do Norte, por isso abrimos o programa”, acrescentou.
Japur também destacou o perfil financeiro confortável da companhia neste momento, com alavancagem financeira medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda de apenas 0,2 vez em março, a menor da história, o que permitiu nova rodada de distribuição de dividendos.
Custos
O maior desafio em termos de custos, neste momento, está relacionado ao carvão metalúrgico que é usado pela Gerdau Açominas, em Ouro Branco (MG). A inflação da sucata, por sua vez, já foi incorporada.
“Agora é gerenciar a cadeia de suprimentos para que as disrupções não afetem a capacidade produtiva, sobretudo na América do Norte”, afirmou Werneck.
Conforme o executivo, há escassez de sucata “prime” nos Estados Unidos, por causa da queda na produção das montadoras. Já a sucata de obsolescência, que é usada pela Gerdau em usinas de aços longos, exibe oferta adequada.
“A perspectiva do spread metálico, que está em patamares historicamente elevados, é bastante positiva. Isso, mais a evolução do nosso desempenho na América do Norte, vai sustentar, ao longo de 2022, o mesmo nível de resultados visto no primeiro trimestre”, acrescentou, referindo-se às margens na região.
Werneck disse ainda que a Gerdau deve aprovar um novo investimento no Texas, ainda em 2022, para aumento da capacidade a 2 milhões de toneladas.
Fonte: Valor