As medidas de incentivo do governo e o afrouxamento da política monetária surtiram efeito sobre a atividade no terceiro trimestre e sustentaram a expansão de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) sobre o período anterior, descontados os efeitos sazonais, estima a economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), mas não foram suficientes para dinamizar o investimento.
Depois de quatro trimestres seguidos de queda na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil), Silvia projeta novo recuo, de 0,5%, para essa variável da demanda na passagem do segundo para o terceiro trimestre, tendo em vista o comportamento ruim das importações de máquinas e equipamentos e o fraco avanço da produção interna no setor entre junho e agosto.
"O cenário doméstico é de melhora, mas não temos visto um vigor tão forte na economia como um todo", diz Silvia. Na edição de outubro do documento, ela aponta que a recuperação da atividade ainda está muito concentrada no setor de bens duráveis, particularmente na cadeia automobilística, beneficiada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Para que o investimento acompanhe a retomada da atividade, diz Silvia, é necessário que mais ramos da economia deem sinais de melhora, algo que pode ocorrer apenas a partir do quarto trimestre, período para o qual prevê alta de cerca de 0,7% da FBCF.
Para 2012, o Ibre trabalha com recuo de 2,3% da formação de capital físico em relação a 2011. "Mas essa queda pode ser maior caso tenhamos notícias piores no quarto trimestre", diz Silvia, para quem a capacidade ociosa relativamente elevada da indústria e o ambiente externo negativo ainda podem adiar o cenário de reação tímida do investimento no fim do ano.
Enquanto a atividade econômica aumentou 1% no trimestre encerrado em agosto sobre igual período terminado em maio, segundo o Indicador de Atividade Econômica (IAE) do Ibre, o Indicador Mensal do Investimento (IMI) calculado pela instituição encolheu 0,5%, retração que Silvia credita ao tombo de 6,5% do volume importado de máquinas e equipamentos na mesma comparação. Os cálculos são do Ibre, com base em dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Uma parcela dessa queda pode estar relacionada à greve dos servidores federais nos portos nesses meses e números de setembro mostram alguma recuperação, segundo Silvia, mas a alta não é suficiente para compensar a contração dos meses anteriores.
Medida pelo IBGE, a produção de bens de capital, também de acordo com cálculos do Ibre, subiu 1% no trimestre encerrado em agosto sobre os três meses terminados em maio, acima dos 0,4% registrados pela indústria geral, mas muito abaixo do salto de 5,5% do setor de bens duráveis. No caso dos insumos típicos da construção civil, houve alta de 0,3% no período, estima Silvia. "Olhando esses indicadores, projetamos nova retração da formação bruta, porque o crescimento da produção não é suficiente para compensar a queda muito grande da importação", diz.
Sondagens do Ibre referentes a setembro - com melhora na confiança da indústria, do comércio, dos serviços e da construção - mostram um quadro um pouco mais favorável para o investimento nos meses finais do ano, diz Silvia, que prefere aguardar dados de outubro para cravar esse cenário.
Também justificam essa cautela, de acordo com a economista, dados da Sondagem de Investimentos da entidade referentes a julho e agosto, na qual 33% das cerca de mil indústrias consultadas afirmaram que pretendem aumentar sua capacidade produtiva nos próximos 12 meses, frente 53% que planejam estabilidade e 14% que podem reduzir investimentos.
Silvia acrescenta que as revisões para baixo nas projeções de crescimento e comércio global inspiram incertezas e podem adiar decisões de investir. Do lado interno, diz que o excesso de medidas setoriais do governo também dificulta planos de investimento. "Medidas horizontais, como a redução dos custos de energia, são boas, mas com medidas pontuais, o empresário prefere pedir mais algum benefício do que investir mais."
Fonte: Valor / Arícia Martins
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