Os planos de investimento da indústria química e petroquímica no país foram duramente prejudicados recentemente em razão de dois principais obstáculos. A conta inclui as dificuldades enfrentadas pela Braskem ao longo das negociações com a Petrobras em torno de um novo contrato de longo prazo de fornecimento de nafta - concluídas recentemente, mas que se arrastaram por quase três anos - e a oferta crescente de matéria-prima a preços competitivos nos Estados Unidos e no Oriente Médio.
Para os próximos quatro anos, a última previsão do setor é de que os desembolsos caiam sucessivamente até alcançarem o menor nível registrado desde 1995, segundo série histórica da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
PUBLICIDADE
O enxugamento dos recursos, na realidade, teve início no ano passado, quando foram investidos US$ 1,8 bilhão, frente a US$ 2,1 bilhões em 2013. Neste ano, demonstra a Abiquim, os aportes da indústria caíram um pouco mais, a US$ 1,7 bilhão. Nova diminuição é esperada para 2016, quando US$ 1,2 bilhão devem ser investidos no país. A trajetória de queda em ritmo acentuado se mantém até 2019, quando os desembolsos estão estimados em apenas US$ 200 milhões.
O acordo fechado no dia 23 entre Petrobras e Braskem prevê o fornecimento de 7 milhões de toneladas anuais de nafta por cinco anos e preço de 102,1% da referência internacional ARA. Ao longo das negociações, a Braskem propôs - sem sucesso - uma fórmula flexível de preço variando de 90% a 110% da referência ARA, de forma a refletir as alterações de cenário que acontecem na duração de um contrato de longo prazo. Devido à ausência da fórmula, o novo documento prevê direitos de renegociação para ambas as partes, caso determinadas condições de mercado sejam alteradas a partir do terceiro ano do contrato.
No tom do comunicado da Braskem sobre o acerto, fica claro o ambiente vivido pelas empresas do ramo. "Apesar do novo contrato não refletir integralmente as condições necessárias para garantir a competitividade da indústria química e petroquímica, a Braskem entende ser necessária a sua assinatura de forma a reduzir as graves incertezas que rondam o setor, evitando a paralisação das centrais petroquímicas e considerando o momento difícil da indústria e da economia brasileira."
A Braskem, que tem a Petrobras como segunda maior acionista e principal fornecedora do insumo, é também a principal fornecedora de petroquímicos básicos e resinas termoplásticas para toda a cadeia química nacional. Logo, as incertezas vividas pela companhia controlada pela Odebrecht se refletem integralmente, ou até de forma mais grave, em seus clientes.
O longo impasse em torno da assinatura do contrato, porém, não foi o único obstáculo à execução de novos investimentos da indústria. A nafta ARA, que é usada como referência para os preços pagos pela Braskem à Petrobras, já corresponde a uma das mais caras do mundo e, agora, a petroquímica aceitou pagar um prêmio de 2,1 pontos percentuais para receber o insumo nos próximos cinco anos. Uma possível revisão, se houver, só acontecerá daqui três anos.
A própria Braskem admite que o preço referenciado pela cotação ARA (usada no mercado europeu), neste momento em que o barril do petróleo Brent ruma para os US$ 35 o barril e a nafta é negociada a menos de US$ 400 por tonelada, é adequado - embora ainda muito bastante distante dos US$ 105 por tonelada de gás etano nos Estados Unidos. O problema, ressalta a companhia, é que um contrato de longo prazo não pode considerar cenários e premissas imediatos e que as circunstâncias atuais do petróleo podem mudar radicalmente nos próximos anos.
O cenário futuro considerado nas negociações de preço hoje em dia também deveria considerar a entrada em operação de novas centrais petroquímicas que utilizam matéria-prima tão barata quanto o gás de xisto. Essas novas unidades adicionarão ao mercado mundial volume de eteno (matéria-prima do polietileno) bem acima das 6 milhões de toneladas por ano de crescimento anual previsto para a demanda em 2017, com impacto nos preços internacionais.
Antes do anúncio do novo contrato, feito na semana passada, às vésperas do Natal, dois projetos integravam a lista dos prejudicados pela indefinição sobre o preço da nafta: o da alemã Styrolution, que pretende produzir estireno na Bahia, e o da polonesa Synthos, com o objetivo de fabricar borrachas sintéticas no sul do país.
Uma das maiores produtoras de borracha sintética da Europa, a Synthos havia suspendido o investimento de US$ 250 milhões para construir uma fábrica no Rio Grande do Sul.
A Styrolution, por sua vez, oficializou a suspensão do projeto de constituição de uma joint venture com a Braskem no Brasil, que poderia levar à construção de uma fábrica de resinas estirênicas, usadas em plásticos de engenharia, com capacidade para 100 mil toneladas por ano. Em comunicado, explicou que a decisão foi motivada pelas condições adversas de mercado e incertezas sobre o horizonte.
Fonte: Valor Econômico/Stella Fontes | De São Paulo