A América Latina tem se beneficiado dos bons preços das commodities, mas como não se pode contar com um novo ciclo de alta a curto prazo mais países da região começam a se preocupar em guardar para o futuro uma parte dos recursos obtidos com a mineração ou com o petróleo. O caso mais recente é o da Colômbia que, seguindo os passos do Chile, aprovou regra fiscal segundo a qual parte da receita do petróleo será poupada. "A Colômbia não é a Venezuela", diz Roberto Steiner, da fundação colombiana de estudos econômicos Fedesarrollo.
A Venezuela gastou boa parte do "boom" do petróleo e tem hoje um nível de gasto público e de salários em dólares baseados em um preço mais alto por barril. Já a Colômbia quer seguir uma regra fiscal segundo a qual o ritmo do gasto público não está baseado em um petróleo a US$ 100 por barril. Steiner diz que a nova regra fiscal começará a ser implementada em 2014, mas a partir deste ano será preciso se adaptar a ela. Isso significa que o orçamento do governo central tem que ser feito com base em receitas fiscais sustentáveis, incluindo crescimento da economia entre 4% e 5% e preço do petróleo na faixa de US$ 60 por barril.
Steiner é um dos economistas que participam, no Rio, do seminário "Para onde vai a economia da América Latina?", promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Se o preço das commodities cair, há mecanismos de ajuste endógenos, como a desvalorização do peso, que vão permitir que outras áreas da economia colombiana se beneficiem, caso dos têxteis e de parte do setor agrícola. Ele diz que a valorização do peso foi motivada em grande medida pela alta do petróleo. Há preocupação na Colômbia com o que Steiner chama de "petrolização" da economia.
José Guilherme Reis, economista do departamento de comércio internacional do Banco Mundial (Bird), disse que os países da região têm tomado medidas diferentes para "consertar o telhado enquanto tem sol". O Bird, diz ele, fez um relatório em 2011 chamado "Crescimento de Médio Prazo na América Latina - Made in China?", que buscou avaliar se a região dependia exclusivamente do país asiático. "A conclusão foi que não, que há elementos importantes que estão acontecendo na região, com exceções, que incluem boas políticas fiscais e monetárias."
Rodrigo Fuentes, da Universidade Católica do Chile, diz que há 12 anos o país tem uma regra fiscal para poupar parte do dinheiro arrecadado com o cobre. Quando o preço do mineral sobe mais do que o previsto, o país poupa. Quando o preço cai, o governo pode gastar mais. Com forte dependência do setor externo, preocupa ao Chile o quanto a crise europeia poderia alastrar-se para o resto do mundo e, assim, diminuir a taxa de crescimento do país, que é um dos que mais se expandem na América Latina (ao lado de Peru e da Colômbia).
O diretor do Ibre, Luiz Guilherme Schymura, afirma que todos os países da região, com uma ou outra exceção, aproveitaram a bonança das commodities para reduzir a dívida do setor público. "Tem sido feito o dever de casa", diz Schymura. Ele diz que desde o início dos anos 2000 o preço do cobre subiu mais do que cinco vezes, assim como o petróleo. "Isso mostra que quando a China cresce muito, também investe muito. Mas, se o crescimento cair, o investimento terá uma queda ainda maior. Menos investimento significa menor demanda por minério e cobre, por exemplo. A commodity agrícola é mais resistente. Nesse sentido, a Argentina está mais blindada."
Fonte: Valor / Francisco Góes e Guilherme Serodio
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