WASHINGTON - Empresas brasileiras de petróleo e gás enfrentam pressões sobre a sua capacidade de pagar dívidas, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em estudo divulgado nesta quarta-feira, o Fundo menciona a Petrobras ao descrever a deterioração dos balanços das companhias de petróleo de países emergentes, algo que, em média, antecedeu o recuo das cotações da commodity ocorrido em 2014. “No Brasil, preocupações com a governança corporativa da Petrobras resultaram no rebaixamento da nota de crédito e elevaram os custos de empréstimos ao nível mais alto em mais de dez anos”, afirma o FMI, no Relatório sobre Estabilidade Financeira Global (GFSR, na sigla em inglês).
Em países como Brasil, Argentina, Nigéria e África do Sul, as empresas de petróleo e gás têm lucros antes de juros e impostos (Ebit) pequenos em comparação com os seus gastos com juros, o que pressiona a capacidade dessas companhias de honrar o seu endividamento, diz o Fundo. No caso das brasileiras, essa medida de lucratividade é inferior a duas vezes as despesas financeiras, um pouco mais baixo que das argentinas e nigerianas, e bem inferior ao das tailandesas (superior a quatro vezes) e ao das russas (superior a oito vezes).
“As empresas de petróleo e as exportadoras de commodities foram severamente afetadas pela queda na valorização dos ativos e pelo aumento do risco de crédito”, aponta o relatório do FMI. A rentabilidade (como o retorno sobre ativos), o endividamento e a capacidade de pagar os juros da dívida das companhias emergentes do setor de energia estão nos piores níveis desde 2003, de acordo com o Fundo.
Outro problema do Brasil é que há uma fatia expressiva de “dívidas em risco”, definida como a parcela de débitos nas mãos de empresas cujos lucros antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) são inferiores a duas vezes os gastos com juros. Em 2014, essa fatia era de 25,3% no Brasil, superior aos 10% do Chile ou aos 18% do México, por exemplo.
Desde 2007, o nível de endividamento cresceu com força nos principais mercados emergentes, alerta também o FMI. Os maiores aumentos foram em Hong Kong, onde a dívida pública e privada cresceu o equivalente a 98 pontos percentuais do PIB entre 2007 e 2014, e na China, onde houve alta de 81 pontos percentuais do PIB. No caso do Brasil, a alta também foi expressiva, de 33 pontos percentuais do PIB, puxada especialmente pelas empresas não financeiras.
Ainda segundo o FMI, a rápida depreciação das taxas de câmbio nos últimos seis meses aumentou as pressões sobre empresas que fizeram pesados empréstimos em moedas estrangeiras, levando ainda a significativas saídas de capital em muitos emergentes. Esses movimentos podem aumentar o estresse sobre os países que aumentaram a exposição a financiamentos em divisas externas e têm uma fatia elevada da dívida local nas mãos de estrangeiros.
No Brasil, a fatia da dívida das empresas não financeiras em moeda estrangeira não é muito grande em relação ao tamanho da economia – em 2014, era de 15% do PIB, inferior aos quase 40% do PIB do Chile e aos 30% do PIB na África do Sul. A parcela da dívida pública interna brasileira nas mãos de estrangeiros tampouco era muito elevada no terceiro trimestre do ano passado, equivalendo a 20% do PIB, superior aos 15% do PIB do México, mas bem menor que os 38% do PIB do México e da Indonésia e os 47% do PIB da Malásia.
Em valores absolutos, porém, a dívida em moeda estrangeira do setor privado brasileiro aumentou significativamente nos últimos anos. Números do Banco Central mostram que o endividamento externo do setor privado não financeiro atingiu US$ 116 bilhões no quarto trimestre de 2014. No fim de 2007, esse número era de US$ 52 bilhões.
Nesta semana, o FMI e o Banco Mundial realizam em Washington o seu encontro de primavera.
Fonte: Valor Econômico/Sergio Lamucci e Juliano Basile
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