A questão do Custo Brasil parece insolúvel. Se tudo no país é mais caro, os recentes aumentos só vão agravar – e não amenizar – o problema. A inflação em 12 meses anda alta, por volta de 6,75% e, no Rio de Janeiro, consumidores residenciais vão arcar com alta de 17,75% em suas contas. Pior fica para indústria, comércio e serviços, que pagarão suas contas com acréscimo de 20,25%, mais de três vezes o total da inflação. No caso do Rio, em função do ICMS mais alto, os valores já são mais salgados para energia elétrica e combustíveis.
A todo dia se diz que os empresários são relapsos, por não fazerem mercadorias com preços asiáticos, mas mágica não existe, apenas ilusionismo. Se tudo no país é mais caro, como é que o carro e o navio “made in Brazil” seriam competitivos? O maior diferencial se dá nos juros. Europa e Estados Unidos estão com taxas próximas a zero e, para um grande projeto, possivelmente os bancos lá de fora cobrem de 3% a 4%. Já por aqui, dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac) indicam que o custo médio para obtenção de recursos para pessoas jurídicas é de 49,8 %. Os juros são de 25% para capital de giro, de 35% para desconto de duplicatas e de 98,5% na conta garantida.
Outro item é o câmbio. A Ásia sempre usou a taxa de câmbio para impulsionar suas vendas. No Brasil, nos últimos anos, a valorização cambial, utilizada para conter a inflação, onerou os produtos brasileiros. E, quando ocorre desvalorização do dólar, é por volatilidade, subindo um dia para cair no outro, o que mais desarruma do que estimula a indústria. Como reduzir os preços em contexto de altos impostos, juros estratosféricos e câmbio negativo?
Na Carta da Indústria, que acaba de ser divulgada, está escrito que o Brasil é coadjuvante no cenário industrial mundial e que “nossos custos crescem mais que a produtividade, alijando os produtos dos mercados”. Entre metas a serem cumpridas até o fim do mandato de Dilma, a indústria cita: sistema tributário sem cumulatividade e sem onerar exportações; redução dos excessos da justiça do trabalho; mais investimentos em infraestrutura; redução da taxa de juros e câmbio mais competitivo.
Com cuidado para não ofender Dilma – a Confederação Nacional da Indústria, na gestão de Robson Andrade, está alinhada ao governo – o setor pede, indiretamente, o fim da prioridade a vizinhos como Argentina e Venezuela, ao se referir a “política comercial ativa, com foco em mercados estratégicos”. A carta usa o termo “correção de rota”, e, após citar avanços industriais nos Estados Unidos e Europa, conclui: ”A maioria dos países emergentes se torna competitivo e se insere no mercado global. Essa é a prioridade para o Brasil”. Trata-se de dura crítica à linha do PT para indústria e comércio exterior, embora redigida com cuidado para não ofender os aliados federais.
Fonte>: Monitor Mercantil//Sergio Barreto Motta
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