Autoridades americanas dizem que dados de inteligência do país indicam que o Irã foi o local de origem de um duro ataque à indústria de petróleo da Arábia Saudita.
Essas informações já foram compartilhadas com a Arábia Saudita, enquanto os dois países avaliam ataques de retaliação, segundo pessoas familiarizadas com as discussões.
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A avaliação, que os EUA ainda não compartilharam publicamente, ocorre quando o presidente Donald Trump levanta a perspectiva de os EUA e a Arábia Saudita unirem forças para lançar um ataque de retaliação contra o Irã. Tal movimento poderia rapidamente se expandir para um conflito regional.
As autoridades sauditas disseram que ainda não chegaram à mesma conclusão de que o Irã foi a origem dos ataques, e indicaram que as informações compartilhadas pelos americanos não são definitivas.
A coalizão liderada pela Arábia Saudita que conduz a luta no Iêmen disse que as armas usadas para atingir o reino saudita eram iranianas, em sua primeira avaliação dos ataques no fim de semana.
O governo Trump disse ao governo iraquiano neste fim de semana que o Iraque não está acostumado a lançar o ataque de sábado (14), segundo autoridades dos EUA e do Iraque.
Os EUA já rejeitaram a afirmação de militantes houthis no Iêmen de que eles enviaram dez drones para atacar as instalações de petróleo sauditas, o que paralisou a indústria de petróleo do reino e fez os mercados de energia caírem vertiginosamente.
O presidente Trump alertou no domingo que os EUA estão "locked and loaded" ("com as armas preparadas") para atacar quando os EUA e a Arábia Saudita identificarem quem foi o responsável.
"Há razões para acreditar que conhecemos o culpado, estamos com as armas preparadas dependendo da verificação", escreveu Trump no Twitter. "Mas esperamos notícias do Reino sobre quem eles acreditam que foi a causa desse ataque e sob que termos nós procederíamos!"
Trump se reuniu na segunda-feira (16) com sua equipe de segurança nacional para discutir os ataques e as crescentes tensões no Oriente Médio, segundo uma pessoa familiarizada com as reuniões.
Trump e sua equipe, que incluía o secretário de Defesa, Mark Esper, e o conselheiro interino de segurança nacional, Charles Kupperman, discutiram planos de contingência para responder aos ataques, disse essa pessoa.
Autoridades sauditas e americanas disseram que o ataque de sábado a dois locais na Arábia Saudita usou mísseis de cruzeiro que atingiram 19 alvos. A Arábia Saudita enfrenta dificuldades para reparar os danos.
O secretário de Estado, Mike Pompeo, está convocando líderes regionais para discutir a situação, e esperava-se que falasse na segunda-feira com o príncipe herdeiro Mohammed bin Zayed, dos Emirados Árabes Unidos.
Na segunda-feira, Trump tuitou um lembrete sobre o comportamento do Irã quando derrubou um drone dos EUA em junho, ataque que levou os EUA a prepararem um ataque militar contra o Irã. Trump o cancelou depois de pensar melhor.
"Lembrem-se de quando o Irã abateu um drone, dizendo conscientemente que estava no 'espaço aéreo' deles, quando, na verdade, não estava nem perto", disse ele. "Eles se apegaram fortemente a essa história, sabendo que era uma grande mentira. Agora eles dizem que não tiveram nada a ver com o ataque à Arábia Saudita. Vamos ver?"
A perspectiva de ação militar dos EUA provocou reações divergentes dos legisladores. O senador republican Lindsey Graham, da Carolina do Sul, pediu durante o fim de semana para os EUA colocarem "sobre a mesa" o ataque às refinarias de petróleo iranianas.
A reimposição de sanções duras pelo governo Trump reduziu as exportações de petróleo do Irã, diminuindo o valor de sua infraestrutura de petróleo como alvo potencial. Ainda assim, o setor de energia do Irã continua sendo crucial para a economia interna do país.
Outros alertaram contra ações militares. O senador republicano Mitt Romney, de Utah, opinou no Twitter na segunda-feira que qualquer "envolvimento direto das Forças Armadas dos EUA em reação aos ataques do Irã à infraestrutura de petróleo saudita seria um erro grave".
Romney disse que os EUA venderam armas para a Arábia Saudita para que o país possa se defender. Se a Arábia Saudita responder aos ataques, disse ele, "os EUA devem estar prontos para apoiar em um papel não cinético".
O senador democrata Tim Kaine, da Virgínia, foi mais direto: "Os EUA nunca deveriam entrar em guerra para proteger o petróleo saudita", tuitou no domingo. O senador democrata Chris Murphy, de Connecticut, disse na segunda-feira que o envolvimento iraniano nos ataques é inaceitável, mas criticou a estratégia de Trump para o Irã como "escalada unilateral cega".
Fonte: Folha SP