O risco político voltou a ser tema de discussão nas mesas de operações ontem. O pacote de medidas anunciado pelo governo federal na terça-feira para reduzir as tarifas de energia elétrica e com novas regras para renovação das concessões de usinas que vencem entre 2015 e 2017 provocou estragos no setor elétrico, com ações registrando queda histórica de quase 30%, conforme os investidores assimilavam as informações e os analistas refaziam as contas.
Mas a onda de vendas não ficou limitada às elétricas. Foram penalizadas empresas de saneamento - cujas concessões são estaduais - Sabesp (-6,58%), Copasa (-9,43%) e Sanepar (-10,62%); a administradora de portos Santos-Brasil (-11,71%); e as concessionárias de rodovias CCR (-8,75%), Ecorodovias (-3,71%) e OHL (-5,96%).
"As intervenções do governo, quase que constantes, geram um grau de incerteza muito grande, principalmente entre os estrangeiros. Na dúvida, o investidor sai vendendo", afirmou o sócio-diretor da AZ Investimentos, Ricardo Zeno, ao resumir o sentimento do mercado em relação ao risco político de empresas de setores regulados. O "Financial Times" afirmou em seu site, ao comentar a forte queda das elétricas brasileiras, que os acionistas "foram rápidos em mostrar o que acham de ter seus contratos rasgados e reescritos". Pelo tom do jornal britânico é possível perceber como foi a repercussão do pacote brasileiro lá fora.
O analista Alexandre Montes, da Lopes Filho & Associados, faz o contraponto, mostrando que a queda das ações de saneamento, por exemplo, foi um "tremendo exagero". Ele acredita que um pânico irracional tomou conta do pregão ontem. "A chance de o setor de saneamento lidar com uma regulação extremamente dura como a anunciada para o setor elétrico é tão remota que não faz sentido neste momento", afirmou.
Voltando às elétricas, Cesp PNB (-27,53%) liderou as perdas do Ibovespa, seguida por Transmissão Paulista PN (-24,06%), Cemig PN (-19,71%), Eletrobras PNB (-4,82%), Eletrobras ON (-4,72%), Light ON (-4,31%), Copel PNB (-4,12%) e Eletropaulo PN (-1,99%). Cemig PN marcou o segundo maior volume do dia, com R$ 863 milhões negociados, atrás apenas de Vale PNA (R$ 901 milhões).
A ação da companhia mineira registrou sua maior queda em 14 anos. Já Cesp e Transmissão Paulista nunca tinham caído tanto em apenas um pregão e acumulam perdas de 36% e 32,8% em setembro, respectivamente. Bancos e corretoras divulgaram diversos relatórios tentando mensurar os impactos das medidas. Para o Bradesco, o pacote "foi pior do que as piores expectativas". No caso do Credit Suisse, a avaliação é que as medidas foram "de muito ruim para muito pior".
Apesar de toda pressão, a bolsa brasileira se manteve em alta e encostou nos 60 mil pontos, ajudada pelas empresas que se beneficiaram da redução nas tarifas de energia, como Vale PNA (0,66%), Usiminas PNA (8,04%), Klabin PN (3,1%) e Braskem PNA (2,52%). O Ibovespa subiu 0,84%, para 59.921 pontos. O volume foi de R$ 10,599 bilhões, o maior do ano para um dia sem vencimento de opções. Entre as mais negociadas, Petrobras PN ganhou 1,24%, OGX ON avançou 2,0%, e Itaú PN registrou alta de 2,64%.
Fonte: Valor / Téo Takar
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