Os investimentos no setor de infraestrutura continuam tropeçando, apesar das inúmeras oportunidades de negócios em várias áreas. No ano passado, o volume de recursos aplicados em transportes, eletricidade, petróleo e gás, telecomunicação e saneamento básico teve crescimento real de apenas 2% em relação a 2010, de R$ 170 bilhões para R$ 173 bilhões, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).
Para este ano, a expectativa é que os investimentos tenham desempenho um pouco melhor e alcancem R$ 194 bilhões - aumento real na casa de 6%. Mas é muito pouco diante das necessidades do País, já que a economia tem crescido numa velocidade maior que os investimentos em infraestrutura. Enquanto o Brasil investe cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) no setor, os concorrentes China e Índia aplicam algo próximo de 13% e 6%, respectivamente.
Oportunidades não faltam, garante o presidente da Abdib, Paulo Godoy. Mas, na avaliação dele, o poder público precisa acelerar as concessões de serviços públicos para atrair os investidores, nacionais e estrangeiros. "O governo já percebeu que o desempenho do setor está fraco. Por isso, deverá anunciar o pacote de concessões rodoviárias e ferroviárias (a expectativa é que o PAC das concessões seja lançado até o fim do mês)."
Água e esgoto. Por outro lado, o executivo avalia que houve retrocesso na área de saneamento básico, com o adiamento dos prazos para regularização dos contratos entre municípios e companhias de saneamento dos Estados. Em 2007, quando foi criada a lei do setor, a previsão era que até dezembro de 2010 tudo estaria adaptado. Mas o prazo foi estendido para 2013 e agora para dezembro de 2016 - ou seja, quase dez anos depois do marco regulatório do setor. Sem a regularização, os municípios não conseguem ter acesso aos financiamentos para execução das obras.
O resultado de tanta instabilidade está na lentidão dos negócios do setor, que lidera a lista de maior carência do País. De acordo com os dados da Abdib, os investimentos - já insuficientes para universalizar os serviços - recuaram no ano passado, de R$ 8,7 bilhões para R$ 7,9 bilhões. Enquanto isso, quase 60% das residências de todo território nacional continuam sem rede de esgoto e 15% sem água tratada.
O setor de petróleo e gás, responsável por 43% de todos os investimentos do setor, também teve ligeiro recuo nos recursos aplicados, de R$ 78,1 bilhões para R$ 73,3 bilhões. Nos projetos de transportes, o volume de investimentos se manteve estável em R$ 30 bilhões. Apenas os setores de energia elétrica e telecomunicações apresentaram evolução em 2011: cresceram 18,9% e 13,54%, respectivamente. Para Godoy, apesar da crise internacional elevar a aversão ao risco, bons projetos sempre estarão na mira dos investidores.
Segundo a Abdib, ao contrário dos anos 80, quando o esgotamento do modelo de investimento vigente foi reflexo da falta de recursos, agora o esgotamento do modelo parece ser por falta de capacidade de gestão e execução no ritmo adequado de obras. Basta verificar o andamento dos projetos incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Boa parte deles está com o cronograma atrasado por uma série de questões, como dificuldades de desapropriação, licenciamento ambiental e indícios de irregularidades.
Fonte: AE / Renée Pereira
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