SÃO PAULO E RIO - O esquema de desvio de recursos da Petrobras teria alimentado em 2010 as campanhas eleitorais do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) com R$ 30 milhões, e do governador do Acre, Tião Viana (PT), com R$ 300 mil, segundo o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores da operação Lava-Jato.
Na delação, Costa citou também o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que teria participado de uma das reuniões em que teria sido negociado o repasse de recursos para o suposto caixa dois da campanha de Cabral.
Tanto Viana quanto Pezão são alvos da Procuradoria-Geral da República, que enviou nesta quinta-feira pedidos de abertura de investigação contra os dois governadores supostamente envolvidos no esquema de corrupção em contratos da Petrobras. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgará os pedidos.
Na delação, feita em agosto de 2014, Costa afirmou que o então governador do Rio Sérgio Cabral teria sido um dos “agraciados com o pagamento de propina da Petrobras”, com o valor de R$ 30 milhões de “ajuda”. O ex-diretor da estatal afirmou que conheceu Cabral no primeiro mandato do pemedebista, por volta de 2007, em uma reunião para tratar do projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Costa disse ainda que manteve contato próximo com o governador por conta do Comperj.
Em uma reunião marcada para tratar de contribuições para a campanha de reeleição de Cabral, no início de 2010, estavam o então-vice governador Luiz Fernando Pezão e empresas que atuavam na obra do Comperj. Na ocasião, segundo o delator, foi explicado que essas companhias deveriam ajudar a campanha do governador, “fazendo pagamentos para o caixa dois”. Essas afirmações estão registradas no termo de colaboração número quatro.
Ao falar sobre o suposto repasse de recursos desviados para Tião Viana em 2010, Costa disse que o montante foi para a campanha do petista ao Senado. No entanto, naquele ano, o então senador não disputou o Senado e sim o governo estadual.
PP
O ex-diretor da Petrobras afirmou que o pagamento foi feito a pedido do doleiro Alberto Youssef. O valor foi contabilizado como sendo da conta do PP, que teria sido registrado dessa forma a pedido de Viana. Ao ser questionado sobre o motivo de o PP ter permitido o débito, o delator disse que se o partido não autorizasse, poderia perder a indicação de Costa, que foi feita pela legenda. Uma outra pessoa, ligada ao PT, poderia ser nomeada para a diretoria de Abastecimento.
Costa detalhou o repasse de recursos e disse que dentro dos 3% do uso político relativo a contratos da Petrobras, 1% eram repassados diretamente pelas empreiteiras a Youssef, que controlava o caixa e fazia o pagamento a políticos de acordo “com as demandas apresentadas”.
Na delação, o ex-diretor reforçou que "todos os grandes contratos da Petrobras participavam empresas cartelizadas e que as empresas fixavam em suas propostas uma margem e sobrepreço de cerca de 3% em relação aos contratos da estatal a serem repassados aos políticos".
A declaração está registrada no termo de colaboração número 12, de setembro de 2014.
Nesta semana, Pezão, Cabral e Tião Viana negaram as acusações.
Pezão
O governador do Rio afirmou nesta quinta-feira que respeita a decisão da Procuradoria Geral da República de pedir abertura de inquérito no STJ para investigar a citação do seu nome em declarações em delação premiada dadas por Costa. Mas Pezão classificou como estapafúrdio o depoimento do ex-diretor da estatal e disse mais uma vez estar certo de que a investigação vai comprovar que a acusação é falsa.
“Estou à disposição da Justiça, só quero ser ouvido. Essa conversa nunca existiu. A acusação é falsa. Meu sigilo bancário está à disposição, só tenho uma conta. Minha declaração de bens é pública e também está disponível”, afirmou o governador. Pezão também disse que ainda não foi oficialmente notificado e não constituiu advogado.
Cabral também nega qualquer encontro com o ex-diretor da Petrobras. Em nota enviada por meio de sua assessoria, o ex-governador do Rio afirma: “É mentirosa a afirmação do delator Paulo Roberto Costa. Essa reunião jamais aconteceu. Nunca solicitei ao delator apoio financeiro à minha reeleição ao governo do Estado do Rio. Todas as eleições que disputei tiveram suas prestações aprovadas pelas autoridades competentes. Reafirmo o meu repúdio e a minha indignação a essas mentiras”.
Fonte: Valor Econômico/Cristiane Agostine e Rafael Rosas
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