A vacinação global de trabalhadores marítimos é lenta, o que aumenta o risco de surtos em navios e de mais gargalos no comércio, que também podem desacelerar a recuperação das economias.
Infecções em navios podem pressionar ainda mais as cadeias de suprimentos globais, quando Estados Unidos e Europa se recuperam e empresas começam a estocar para o Natal.
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A indústria naval soa o alarme com o aumento dos casos de Covid-19. Alguns portos continuam a restringir o acesso de trabalhadores marítimos de países em desenvolvimento, que respondem pela maior parte dessa mão de obra, mas não podem vaciná-los.
“É uma tempestade perfeita”, diz Esben Poulsson, presidente da Câmara Internacional de Navegação, que representa os armadores. “Com esta nova cepa delta, não há dúvida de que ela está nos atrasando e a situação está piorando. A demanda por produtos não diminuiu, as mudanças de tripulação não têm sido feitas com rapidez suficiente e os governos continuam enterrando a cabeça na areia.”
Todos os sinais agora apontam para um agravamento da crise nos oceanos, justo quando o setor parecia emergir de meses de restrições portuárias que prejudicaram a capacidade das empresas de navegação de trocar tripulações e deixaram centenas de milhares de trabalhadores presos no mar por meses.
Rebocadores alinham gigante Ever Given, no Canal de Suez. De acordo com a Autoridade do Canal de Suez (SCA), o meganavio começou a flutuar parcialmente e foi reorientado em
Os riscos foram destacados por dois eventos recentes que afetaram portos e rotas marítimas essenciais.
Em maio, um marinheiro morreu e dezenas de funcionários de um hospital na Indonésia foram contagiados com a variante delta do coronavírus, depois que um navio com tripulação filipina infectada ancorou.
Quase na mesma época, o transporte marítimo global enfrentou o caos: um dos portos mais movimentados da China ficou fechado durante semanas porque pelo menos um estivador foi infectado em um surto em Shenzhen.
Vacinação limitada
Apesar dos esforços nos EUA e em outros países para imunizar trabalhadores marítimos nos portos, a maioria ainda depende em grande parte de seus países de origem para a vacinação, e mais da metade dos 1,6 milhão de marítimos ao redor do mundo vem de países em desenvolvimento como Índia, Filipinas ou Indonésia, que estão bem atrás da maioria das economias desenvolvidas nas campanhas de vacinação.
A falta de coordenação internacional pode ser observada no fato de que não há estimativa de quantos trabalhadores marítimos foram efetivamente vacinados. Isso porque não há uma organização ou empresa acompanhando a situação de todos os trabalhadores em várias empresas, navios e portos.
A Câmara Internacional de Navegação estima que apenas de 35 mil a 40 mil trabalhadores marítimos - ou apenas 2,5% do total global - estejam vacinados. No entanto, mais de 23 mil trabalhadores marítimos foram vacinados nos EUA com a ajuda de várias instituições de caridade, e a Cosco Shipping Holdings da China disse no mês passado que todos os marítimos que estão em terra e podem ser vacinados foram imunizados.
Fonte: O Globo