A demora nas discussões sobre as políticas para contratação de conteúdo local na indústria de petróleo e gás ao longo da última década produziu perdas de bilhões de reais por ano não somente para as companhias, como também para a arrecadação governamental, segundo o ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e atual presidente da petroleira Enauta, Décio Oddone.
Durante o Fórum de Competitividade promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Oddone destacou o adiamento de projetos afetou não somente a arrecadação estatal, como também a contratação de bens e a geração de empregos.
“O Estado recolhe a maior parte da renda dos projetos e perdeu muito mais com os atrasos causados do que as empresas. Acelerar projetos é a melhor maneira de incentivar contratações de conteúdo local”, disse.
Na visão de Oddone, a política industrial deveria ser concentrada nos segmentos em que a produção local tem potencial para ser competitiva. “Competitividade artificial não perdura. Nós já temos alguns segmentos competitivos no Brasil, como os equipamentos subsea [equipamentos submarinos]”, complementou.
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Também presente à discussão, a superintendente de energia do BNDES, Carla Primavera, destacou que um sinal de uma estratégia industrial bem implementada ocorre quando a cadeia de fornecedores consegue atrair investimentos privados e se inserir no mercado global.
“Não podemos ter como premissa reserva de mercado. A estratégia tem que estar centrada na competitividade e inovação”, disse.
Baixa emissão de carbono
Os debates sobre políticas de conteúdo local na indústria de petróleo e gás devem incluir a questão da transição para uma economia de baixa emissão de carbono, segundo a superintendente de energia do BNDES, Carla Primavera.
“O debate no setor de óleo e gás precisa ir além da questão de custos, de competividade e de produtividade. Existe um novo debate em pauta que se acelerou desde 2020, que são as urgências da questão climática”, disse Carla, durante o evento on-line.
A executiva lembrou que diversos Bancos Centrais tem colocado em pauta a relação entre o risco climático e o direcionamento de investimentos para projetos que tenham um viés ambiental, social e de governança (conhecidos pela sigla “ASG”). “Existe um florescimento de novas soluções no mercado de capitais para investimentos deste tipo”, acrescentou.
Carla lembrou que, nesse contexto, o Brasil tem potencial para atração de investimentos, devido à alta participação de energias renováveis em sua matriz energética. A executiva defendeu a importância de aproveitar a oportunidade para aumentar a produtividade de pequenas e médias empresas.
“O mundo está olhando muito para essa transição. As empresas de petróleo já declararam qual é ao lapso temporal em que desejam zerar suas emissões, isso vai demandar investimentos em tecnologia. Devemos aproveitar essa oportunidade”, afirmou.
O presidente da petroleira Enauta defendeu a importância de atrair investimentos privados neste contexto. “Não há transição energética sem recursos, sem tecnologia, sem inovação. Países como Noruega e Inglaterra estão fomentando nas suas indústrias de óleo e gás a competitividade com essa visão”, afirmou Oddone.
Carla destacou ainda que a transição para uma economia de baixo carbono colocou os temas sociais, ambientais e climáticos como uma grande urgência. A executiva destacou que esse contexto pode ser uma oportunidade para o Brasil realizar mudanças estruturais e ampliar a atração de investimentos privados.
“O melhor é ampliar o debate, fazer nossas escolhas levando em consideração que o Brasil tem recursos naturais. Temos que ter uma estratégia muito bem desenhada e aproximar os investimentos públicos dos privados. É nisso que o banco centra seus esforços atualmente, temos que olhar para o resultado final das nossas políticas” afirmou.
Fonte: Valor