Os dois maiores grupos de transporte marítimo de contêineres do mundo, MSC e Maersk, suspenderam as reservas de carga de e para a Rússia nesta terça-feira, com as sanções ocidentais desencadeando uma nova onda de interrupção nas já pressionadas cadeias globais de suprimentos.
A suspensão, que excluiu alimentos e medicamentos, seguiu medidas parecidas dos grupos concorrentes Ocean Network Express e Hapag-Lloyd, uma vez que as companhias de transporte de contêineres vinham tentando evitar o risco de transportar cargas colocadas sob sanções ocidentais.
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A Maersk informou que as sanções à Rússia começam a ter um impacto sobre o comércio, provocando atrasos e levando à detenção de cargas por autoridades alfandegárias.
Isso deverá criar mais gargalos de fornecimento à medida que portos de todo o mundo continuam muito congestionados em razão de uma recuperação inesperada da demanda por bens durante os “lockdowns” causados pela pandemia de covid-19.
Na segunda-feira, o Reino Unido proibiu a entrada de todas as embarcações russas em seus portos. “Isso está piorando ainda mais um período já difícil para a logística mundial”, disse Peter Sand, analista da Xeneta, um grupo de pesquisas de navegação baseado em Oslo.
A interrupção também se espalhou para o mercado de transporte aéreo de cargas, onde executivos do setor esperam um aumento dos preços na medida em que aviões são forçados a mudar suas rotas.
Uma já existente escassez de aviões deverá piorar pela perda de aeronaves russas e ucranianas especializadas no transporte de grandes mercadorias. “Se eles forem deixados de lado agora, você estará tirando uma capacidade real do mercado. Provavelmente começaremos a ver as taxas do transporte de bens aumentarem”, disse Neel Jones Shah, diretor global de transporte aéreo de fretes da corretora Flexport.
As companhias aéreas russas e europeias estão quase completamente banidas dos céus umas das outras, complicando as rotas de voo para aviões que entregam bens e matérias-primas da Ásia para a Europa.
A indústria naval também enfrenta novos problemas por causa das dificuldades em trocar as tripulações russas e ucranianas que fornecem 14,5% dos marinheiros do mundo, segundo a International Chamber of Shipping.
Na semana passada a Rússia interrompeu o transporte comercial no Mar de Azov, enquanto a Ucrânia cessou as operações em todos os seus portos, incluindo os do Mar Negro em sua costa sul.
A invasão da Ucrânia também levou as seguradoras a cotar prêmios adicionais equivalentes a centenas de milhares de dólares para cobrir navios que viajam para o Mar Negro, contra o perigo de serem pegos num fogo cruzado. Três navios não militares podem ter sido atingidos por mísseis desde que o conflito começou.
Em outros lugares, a suspensão dos serviços de transporte marítimo está aumentando os preços de vários metais industriais.
O alumínio, usado em veículos elétricos e aviões, subiu 1,8% para o patamar recorde de US$ 3.457 a tonelada nesta terça-feira. A Rússia responde por cerca de 6% do da oferta mundial de alumínio.
Além disso, as taxas dos fretes para navios petroleiros aumentaram, com os traders apostando que mais petróleo será exportado da África ocidental, Oriente Médio e EUA para substituir os suprimentos russos.
Svein Moxnes Harfjeld, presidente executivo adjunto da DHT Holdings, uma empresa de navios-tanque, disse que as tarifas para os superpetroleiros que viajam entre o Oriente Médio e a Ásia - uma das rotas mais usadas - mais que dobraram para US$ 25.000 a US$ 35.000 por dia na semana passada.
Fonte: Valor