Os principais exportadores do Japão, que passaram meses queixando-se da valorização do iene, saudaram cautelosamente as medidas tomadas ontem pelo governo para enfraquecer a moeda local. Mas para muitas outras empresas, como a Sony Corp., a Toyota Motor Corp. e a Nissan Motor Co., não será suficiente para ajuda-las a alcançar as metas anuais de lucro.
Isso porque as previsões de lucro dessas empresas para o resto do ano fiscal, que termina em 31 de março, apostavam num dólar a 90 ienes. A chance de que uma intervenção unilateral do Japão possa conseguir baixar o iene para esse nível ou enfraquecê-lo ainda mais nos próximos meses é considerada mínima.
"Se a intervenção poderá realmente ajudar as montadoras depende de até quando a intervenção vai continuar", disse Tatsuya Mizuno, analista da Mizuno Credit Advisory. "O melhor cenário é se o dólar voltar para 90 ienes."
Entre os que duvidam dessa possibilidade está o presidente da influente Câmara de Comércio e Indústria do Japão, Tadashi Okamura, ex-presidente do conselho da Toshiba Corp., que disse ontem que não acredita que a intervenção vai conseguir empurrar o dólar para a faixa dos 90 ienes. "Teria sido mais eficiente" se o governo tivesse agido antes, afirma.
O iene forte tem causado muita dor de cabeça aos exportadores, porque os prejudica de duas maneiras. Primeiro, torna seus produtos mais caros no exterior e reduz o valor em ienes de seus lucros em outras divisas.
Essas empresas, com suas marcas poderosas, conhecidas mundialmente, são o verdadeiro motor da economia japonesa - que foi superada recentemente pela China, passando, assim, para o terceiro lugar.
"Se ninguém administrar a rápida ascensão do iene, ela causará problemas graves para a economia japonesa, e achamos que é por isso que o governo e o Banco do Japão resolveram adotar uma postura mais concreta", disse o diretor executivo da Canon Inc. Toshizo Tanaka. "Achamos que esse primeiro passo é importante como uma mensagem para o resto do mundo."
As ações dos principais exportadores do país subiram após a intervenção e encerraram o dia bem mais altas. A da Toyota subiu 3,8%, para 3.010 ienes, a da Mazda Motor Co. teve alta de 6,3%, para 201 ienes, e a da Sony fechou com ganho de 4,1%, a 2.596 ienes.
O iene tem se valorizado gradualmente há vários anos, e as fabricantes de automóveis e eletrônicos tentaram compensar cortando custos e transferindo a produção para o exterior. Mas a valorização vertiginosa deste ano as obrigou a tomar novas medidas.
A Mazda aumentou em 1º de julho o preço de alguns de seus modelos em certos mercados europeus, para poder compensar a valorização do iene em relação ao euro. Um porta-voz da Mazda disse que a empresa vai estudar novos reajustes na Europa e nos Estados Unidos se a valorização do iene tornar isso necessário.
Uma porta-voz da Toyota disse que a empresa ainda não reajustou os preços, mas mês passado Takahiko Ijichi, um diretor-gerente da montadora, disse que estudaria aumentos como um meio de compensar a alta do iene no curto prazo.
A maioria das empresas ainda não diminuiu suas previsões de lucro para o ano fiscal, embora analistas afirmem que, se o dólar tivesse continuado na faixa de 82 ienes, isso seria inevitável. A Toyota prevê lucro líquido de 340 bilhões de ienes neste ano fiscal, que termina em 31 de março; a Honda Motor Co. aumentou recentemente sua previsão de lucro líquido, de 340 bilhões ienes para 455 bilhões de ienes, mas reduziu a previsão de faturamento de 9,35 trilhões de ienes para 9,1 trilhões de ienes.
A Sony, cujo lucro operacional cai 2 bilhões de ienes cada vez que a cotação do dólar baixa um iene, informou ontem que espera que o governo continue monitorando o câmbio, busque cooperar com outros países e adote medidas apropriadas. Ela prevê lucro de 60 bilhões de ienes este ano.
O problema na cotação entre o dólar e o iene não é a única preocupação cambial para as cambaleantes fabricantes de eletrônicos do Japão. Igualmente séria é a desvalorização do won sul-coreano, que aumenta a competitividade de concorrentes do país como a Samsung Electronics Co. e a LG Electronics Inc.
"O enfraquecimento do won permite que as empresas sul-coreanas baixem seus preços", disse uma porta-voz da Sony.
"O governo deveria comprar o won coreano em vez do dólar nessa intervenção", disse John Vail, diretor de estratégia mundial da Nikko Asset Management. A LG informou ontem que vai observar os efeitos da intervenção.
"Se a desvalorização da moeda japonesa continuar por um período prolongado, certamente terá um impacto [sobre nós], já que competimos com rivais japonesas em muitos mercados", afirmou a empresa.
Fonte: Valor Econômico/Mariko Sanchanta e Yoshio Takahashi | The Wall Street Journal/Colaboraram Atsuko Fukase, Juro Osawa e In-Soo Nam)
PUBLICIDADE