A forte massa de ar frio que passará pela região Sul do Brasil ao longo desta semana coloca em risco parte importante das lavouras do principal Estado produtor do país, o Paraná, onde cerca de 450 mil hectares estão suscetíveis a perdas por causa de geadas.
"É praticamente metade das lavouras... Diria, hoje, que a área que mais preocupa é o oeste do Paraná. O norte preocupa um pouco menos", afirmou o analista do Deral (Departamento de Economia Rural do Estado), Carlos Hugo Godinho.
PUBLICIDADE
A frente fria já provocou geadas fortes no oeste do Paraná, levantando preocupações quanto às lavouras de trigo na região, que estão na fase de enchimento de grãos e suscetíveis a perdas.
De acordo com o Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), o frio mais intenso será observado nesta quarta-feira (19), com possibilidade de geada forte na parte sul do Estado, moderada no oeste e, no norte, fraca.
Segundo ele, os episódios desta terça se concentraram entre os municípios de Campo Mourão (oeste) e Cascavel (sudoeste), onde as lavouras de trigo estão em fase de enchimento de grãos e, portanto, mais suscetíveis a perdas.
Apenas esses municípios semearam 115 mil e 99,2 mil hectares com trigo, respectivamente, e estão entre os principais produtores do Estado, o maior produtor do grão no país.
O Estado deve produzir pouco mais de 3 milhões de toneladas de trigo neste ano, ou mais da metade da colheita nacional do cereal, prevista em 5,6 milhões de toneladas.
Perdas no Paraná podem elevar a necessidade de importação de trigo pelo Brasil, um importador líquido do cereal, com compras externas estimadas em 7 milhões de toneladas pelo Ministério da Agricultura.
Já para o milho, cuja colheita de segunda safra deve alcançar 30% da área nesta semana no Paraná, a preocupação é menor.
"Poderá haver perda de qualidade, mas dificilmente de produtividade", afirmou Edmar Gervásio, técnico de milho do Deral. A cultura no Estado já está em estágio avançado de maturação, o que reduz acentuadamente a possibilidade de perdas.
O Deral estima produção de 13,8 milhões de toneladas de milho no Paraná em 2016/17, em uma área de 2,4 milhões de hectares. Para o trigo, a expectativa é de 3,07 milhões de toneladas, com 977 mil hectares.
ALÉM DO PARANÁ
As lavouras de cana de açúcar e de café arábica de São Paulo e Minas Gerais, os dois principais produtores nacionais dessas culturas, foram poupadas de geadas, afirmou o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos.
De acordo com ele, a massa de ar polar já provocou geadas na faixa oeste do país que vai do Rio Grande do Sul até o sul de Mato Grosso do Sul.
"[As geadas] só não chegaram a São Paulo porque estamos com uma linha de instabilidade, um sistema de chuvas que impede [esse avanço]. Também não chegou nem perto de Minas Gerais", disse.
Os dois Estados não devem registrar geadas também nos próximos dias, segundo ele.
De acordo com Santos, até agora a cultura mais prejudicada pelo fenômeno foi o trigo, no oeste do Paraná.
"Essa região não deve perder 100%, mas deve perder alguma coisa", disse, acrescentando que uma avaliação mais precisa só poderá ser feita em uma semana.
Com relação ao Rio Grande do Sul, Santos destacou que as geadas também pegaram áreas de trigo, mas em estágio inicial de desenvolvimento e, portanto, mais tolerantes ao frio.
Outra cultura afetada pela geada, segundo o agrometeorologista, foi a cana de açúcar em Mato Grosso do Sul, "de Dourados para baixo", mas, mesmo assim, não em larga escala.
"O impacto deve ser pequeno."
Santos afirmou que as temperaturas deverão voltar a subir a partir de quinta-feira (20).
Fonte: Folha SP