Proximidade da matéria-prima e logística de transporte serão fatores determinantes para a localização da nova siderúrgica de aços planos que o grupo ArcelorMittal planeja montar no Brasil. Nesse ponto, Minas Gerais pode vencer a disputa com o candidato até agora mais cotado por esse investimento, o Espírito Santo. Segundo apurou o Valor, isso está em discussão dentro do grupo, que vai definir qual é o projeto mais competitivo. O novo cenário de preços do minério de ferro, que dobrou de valor a partir deste mês, reforçou a análise dessa alternativa.
Até agora, era dado como certo que a ArcelorMittal faria a nova usina em parceria com a Vale, que desenvolve estudos para montar uma usina de placas em Ubú, litoral capixaba, conhecida como CSU. O desenho do projeto, conforme já divulgado pela mineradora, é de produzir 5 milhões de toneladas de aço ao ano. O investimento nessa obra é estimado em pelo menos US$ 5 bilhões e tem previsão de entrar em operação por volta de 2014/2015.
Ontem, Lakshmi Mittal, presidente do conselho e do grupo, disse em São Paulo, no congresso do aço, que há apenas conversações preliminares com a Vale sobre o empreendimento e que a empresa vai conversar também com outros interessados. "Vamos analisar, pois há outras oportunidades a serem avaliadas e depende também da demanda futura de aço", afirmou empresário, que comanda o maior conglomerado produtor de aço no mundo. Tem capacidade instalada de quase 120 milhões de toneladas por ano, mas com a crise global, em 2009 produziu pouco mais de 70 milhões de toneladas.
A alternativa de instalar a usina em Minas Gerais faz sentido, pois no Estado opera duas minas de ferro, uma na região de Serra Azul, que foi adquirida em agosto de 2008, e outra na região de João Monlevade, no Vale do Aço, chamada Andrade. Em Minas, o grupo já produz, aços longos em duas usinas - João Monlevade e Juiz de Fora - e inox, numa siderúrgica em Timóteo, a antiga Acesita.
O governo de Minas, na figura do secretário de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Barroso, já disse que o Estado está aberto para receber o empreendimento, oferecendo os mesmos atrativos fiscais concedidos aos outros investidores, conforme relato de uma fonte próxima ao governo mineiro. Ou seja, há uma nova rota aberta ao grupo.
Mittal foi bastante enfático ontem sobre a decisão do grupo em ampliar a produção própria de minério de ferro para assegurar suprimento de suas usinas, diante do encarecimento da matéria-prima. A meta é passar do índice atual de 54% para 75% até 2015, vindo a produzir 100 milhões de toneladas por ano. No Brasil, sem revelar o valor do investimento, a meta é elevar de 5 milhões para 15 milhões de toneladas a extração nas minas de Serra Azul e Andrade até 2014. Essa última mina já supre a usina de João Monlevade.
Se um dos fatores de instalação da nova siderúrgica no país é tirar vantagem de minério de ferro a preço de custo, nada mais sensato que se utilize o minério dessas minas e que o empreendimento seja próximo delas, para assegurar logística de suprimento, analisou um especialista. Com a Vale, na CSU, o minério, certamente, será da brasileira, a preço de mercado internacional. Nesse projeto, a Vale planeja ser apenas minoritária, com no máximo 20%, ao contrário da Alpa, no Para, na qual será dona de 100% do capital, pelo menos até quando entrar em operação.
A vantagem de ser no Espírito Santo é que o grupo poderia transportar as placas até a usina de Tubarão, em Serra, e ali fazer produtos laminados, como chapas a frio e galvanizadas para aplicações em automóveis e bens de linha branca. Com isso, poderia criar uma nova frente de produção desse material, com vistas ao mercado interno, principalmente, mas também para exportação. No ano passado, a ArcelorMittal já atingiu 26% das vendas de laminados planos no Brasil.
Em Minas, o projeto da usina teria de ser mais amplo, abarcando essas etapas de laminação. São discussões que a diretoria de aços planos nas Américas, comandada por Aditya Mittal, principal executivo financeiro e estrategista, entre outras atribuições, da ArcelorMittal vai analisar daqui para frente com os executivos brasileiros.
Lakshmi mostrou-se ontem bastante cauteloso quanto aos futuros investimentos no Brasil. O grupo, que sofreu um tranco forte com a crise, quer assegurar-se de fatores de competitividade para suas operações. Ele mencionou a questão do cambio, da inflação, do elevado custo de capital em novos investimentos, comparado a outros países, e a questão de infraestrutura logística.
O empresário reafirmou o propósito de investir US$ 5 bilhões no país em projetos iniciados em 2009 e em outros, no período até 2014. Nesse valor está a duplicação da usina de João Monlevade, para 2,4 milhões de toneladas, e a ampliação das duas minas de ferro, além de novas instalações na usina de Tubarão para fazer produtos laminados. Na semana passada, a companhia inaugurou a nova unidade de aço galvanizado em São Francisco do Sul (SC), voltada para o mercado de linha branca e para a construção civil.
Fonte: Valor Econômico/ Ivo Ribeiro, de São Paulo
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