Usinas siderúrgicas chinesas já começaram a cortar sua produção, diante das condições mais apertadas de crédito e do esfriamento do mercado imobiliário no país, que estão se fazendo sentir no maior mercado de aço do mundo, pressionando o custo do minério de ferro para o menor patamar em 15 meses.
O preço do minério de ferro no mercado à vista chinês despencou nesta terça-feira, para seu nível mais baixo desde julho do ano passado, tendo perdido substanciais 7,2% - a maior queda intradiária em mais de 26 meses -, para US$ 128,50 a tonelada, segundo a agência de preços Platts. O preço do minério de ferro caiu mais de 30% nas últimos seis semanas.
A rápida queda abriu uma enorme discrepância entre os preços à vista e os contratos trimestrais, pressionando as siderúrgicas chinesas a exigir uma renegociação de contratos. Traders disseram que algumas siderúrgicas estão ameaçando descumprir seus contratos, caso as mineradoras se recusem a aceitar preços mais baixos para o período de outubro-dezembro.
Os cortes de produção em siderúrgicas chinesas de pequeno e médio porte constituem novas evidências de que o aperto monetário imposto por Pequim está repercutindo em uma desaceleração da demanda por matérias-primas. Embora as perspectivas para a demanda por aço na China não tenham mudado nas últimas semanas, traders e executivos no setor dizem que o financiamento secou para algumas siderúrgicas, levando-as a reduzir a produção e reduzir as compras de minério.
"Cerca de 20 a 30% das usinas pequenas e médias nesta área desligaram seus fornos", disse um executivo do setor do aço, no sul da China. "Nossa usina ainda não reduziu a produção, mas estamos sentindo a pressão da redução de liquidez. Quando realizamos vendas, o dinheiro volta cada vez mais devagar. Liquidez é uma grande preocupação".
Um trader na cidade siderúrgica de Rizhao acrescentou que algumas usinas estão com fornos novos ociosos. "Eles não querem produzir, porque acreditam que vão perder dinheiro".
O contrato na Shanghai Futures Exchange para vergalhões de aço, geralmente usado na construção civil, caiu 18,1% desde setembro, para 4,021 mil yuans a tonelada, na terça-feira. Na semana passada, o aço atingiu um mínimo em um ano.
O custo do minério de ferro é crucial para a rentabilidade dos setores siderúrgico e minerador, e também impacta a inflação, pois repercute no custo de itens de uso diário, como refrigeradores e máquinas de lavar. As commodities respondem pela maior parte dos lucros em empresas de mineração mundial, como a Vale, do Brasil, a Rio Tinto e a BHP Billiton.
A consultoria MySteel estima que 5% da produção de aço na China foi desativada, nas últimas semanas. As pequena usinas siderúrgicas que cortam sua produção normalmente compram minério de ferro no mercado à vista, em grande parte de mineradoras indianas, e por isso sua ausência pode provocar uma queda desproporcionalmente grande nos preços do mercado à vista. Usinas siderúrgicas maiores, que compram suas matérias-primas de mineradoras maiores, ainda estão com sua produção aquecida, segundo traders, embora algumas já tenham anunciado cortes de produção relacionados com operações de manutenção.
O setor de construção civil, uma grande fonte de demanda por aço, esfriou neste ano, depois que Pequim começou a tentar conter a alta dos preços dos imóveis. Durante o ano passado a China elevou as taxas de juros e as reservas compulsórias dos bancos, num esforço para combater a inflação, e essas medidas estão restringido o fluxo de crédito na economia.
Fonte: Valor Econômico/Leslie Hook | Financial Times, de Pequim
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