Com expectativas promissoras na demanda siderúrgica chinesa nos próximos meses, os clientes correram ao mercado transoceânico para elevar estoques em minério de ferro e ajudaram a commodity a ter sua maior alta mensal em mais de três anos. Durante fevereiro, a matéria-prima com teor de 62% de ferro subiu 17,8% no porto de Tianjin, na China, segundo a "The Steel Index", e terminou em US$ 48,90 a tonelada.
A última vez em que a commodity teve valorização de dois dígitos foi abril do ano passado, com alta de 10,2%, mas uma variação positiva dessa magnitude havia sido observada apenas em janeiro de 2013, de 17%. Naquela época, entretanto, o minério valia US$ 150 - o triplo de agora.
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A maior parte dos analistas não espera um repique tão significativo. "Tenho de ser honesta, eu não acreditava nessa recuperação para US$ 50", disse Caroline Bain, da consultoria Capital Economics, em entrevista ao Valor. "A cotação subiu rápido demais", escreveu Matthew Hope, do Credit Suisse, em relatório a clientes.
Mas também o consenso é que esse patamar para o minério tem vida curta. O Citi, por exemplo, ressalta que o avanço dos preços coincidiu com o período mais fraco sazonalmente das exportações das Austrália e do Brasil, em meio a uma produção siderúrgica ainda baixa na China. Mas o melhor momento para a fabricação do aço no ano se aproxima, quando o mercado de construção deve se aquecer.
Bain, da Capital Economics, disse que o cenário geral ainda é de sobreoferta com demanda em baixa. "Os fatores [que impulsionaram a commodity] são temporários e haverá queda", afirmou.
A dúvida sobre a sustentabilidade do repique é traduzida nas projeções de bancos, que permaneceram inalteradas. O Credit Suisse tem estimativa de US$ 41, em média, para 2016 - apesar de projetar a manutenção dos níveis atuais até maio -, o Citi, de US$ 36, e o Goldman Sachs, de US$ 38. A Capital Economics crê em patamar de US$ 42,75.
O ponto fora da curva é a opinião de Paul Gait, que analisa o setor para a Bernstein Research. Para ele, hoje o mercado de minério de ferro de fato está menos folgado e os indicadores macroeconômicos da China apontam para uma desaceleração menor do que se esperava. A previsão dele é de uma cotação média de US$ 54 para este ano.
Não só o minério teve um fevereiro positivo. Os metais não ferrosos também foram destaque, após alcançarem o que os analistas acreditam ter sido o fundo do poço em questão de valores. Na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês), os contratos para entrega em três meses do cobre subiram 3,4%, para US$ 4.695 a tonelada. O alumínio avançou 2,8%, para US$ 1.573, já o níquel recuou 0,6%, para US$ 8.490.
No geral, o mercado tem melhores perspectivas para o níquel e para o cobre, depois que cortes de produção aliviaram o excesso de capacidade internacional. Em relatório, a equipe de commodities do Standard Bank escreve que no caso do níquel, por exemplo, as posições vendidas chegaram a patamares históricos, o que ajudou na recuperação.
"Mas um elemento complicado [para apostar na alta daqui para frente] é o alto nível de estoques na LME", comenta Leon Westgate, do Standard. "Os estoques atendem por 21% dessas posições abertas. Sem esse número, o patamar de vendidos ainda é alto, mas já visto em meados de 2014", acrescenta o analista.
Outra commodity industrial importante, o petróleo se mostrou muito mais instável durante o mês. O barril do Brent registrou alta de 4,4%, para US$ 36,56, enquanto o WTI subiu 1,3%, fechando a US$ 33,78. Até a semana passada, o WTI, por exemplo, ainda estava no campo negativo.
Rússia e Arábia Saudita negociaram o congelamento de sua produção em fevereiro. Segundo levantamento da consultoria Rystad Energy, as duas nações são exatamente as que mais perdem com a queda dos preços da matéria-prima. A expectativa é que neste ano, frente aos patamares de 2014, a Rússia tenha uma perda de US$ 150 bilhões em receitas por conta da desvalorização e o reino saudita, US$ 250 bilhões.
Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem todo interesse em conseguir estabilizar o mercado internacional, já que os membros do cartel são os mais dependentes da commodity, em relação a seu Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo assim, investidores creem que paralisar a produção não será suficiente para a recuperação dos preços, dado que não se esperava alta muito significativa do volume de oferta nos próximos meses.
Mas a Capital Economics escreve em relatório que, se outras nações entrarem em acordo, a oferta pode, na verdade, ser cortada, em vez de congelada.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo