Movimento ousado surpreende mercado
A oferta de compra da Cimentos de Portugal (Cimpor) pela CSN é vista como um movimento audacioso do grupo brasileiro, conhecido principalmente como produtor de aço e que estreou há pouco tempo no fragmentado mercado cimenteiro global.
No curto prazo, a preocupação é sobre o nível de endividamento da CSN se a operação for bem sucedida, embora no médio e longo prazos a aquisição possa ajudar na estratégia do grupo de diversificar seus negócios.
Enquanto as ações da Cimpor disparavam na bolsa de Lisboa em reação à notícia, as da CSN recuavam na Bovespa, tendo fechado a sessão de sexta-feira em baixa de 4,98%, a R$ 55,69. "O que assusta é o valor da operação. Ela vai dobrar a dívida líquida da CSN. Isso, num primeiro momento, assusta", afirmou o analista Pedro Galdi, da corretora SLW.
A CSN informou que pretende usar recursos próprios e tomar empréstimos para financiar a compra da Cimpor.
A companhia brasileira encerrou o terceiro trimestre com endividamento bruto de R$ 14,8 bilhões e com R$ 8,9 bilhões em recursos disponíveis. Assim, a dívida líquida em setembro era de R$ 6,3 bilhões - quase uma vez e meia a geração de caixa anualizada.
Apesar do viés negativo no curto prazo, Galdi acredita que num horizonte maior a compra reforça o posicionamento do grupo de criar divisões fortes no setor de infraestrutura - que receberá pesados investimentos devido à Copa do Mundo no país em 2014 e à Olimpíada no Rio em 2016.
A tese de diversificação da CSN é compartilhada pelos analistas Gilberto Cardoso, da Banif Investment, e Antonio Emilio Ruiz, do BB Investimentos.
"A companhia vislumbra um consenso do mercado de que a infraestrutura no Brasil vai se expandir por conta dos eventos grandiosos. Com a aquisição, a empresa começa a ser um grande player nesse setor", afirmou Cardoso.
"A compra da Cimpor está ligada à diversificação dos negócios e mesmo dos negócios internacionais, mas o valor me parece muito alto e não está muito claro o objetivo", observou Ruiz.
Para o analista do BB, apesar de a CSN apresentar caixa confortável, a companhia pode contar "com alguma coisa dos ativos de mineração". Em 2008, a CSN vendeu 40% da mineradora Namisa para um consórcio asiático por US$ 3,12 bilhões.
Nesta semana, o Conselho de Administração da CSN aprovou a cisão dos ativos de minério de ferro do grupo em uma nova empresa, o que abrirá caminho para uma eventual oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
NOVO EIKE? Os analistas veem a estratégia do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, como parecida com a do empresário Eike Batista, que montou o grupo EBX para controlar empresas de capital aberto nos setores de infraestrutura, petróleo e mineração.
"O que ele (Steinbruch) quer fazer é o que o Eike Batista fez. Você tem uma holding por cima e embaixo as empresas de capital aberto, cada uma no seu segmento", comentou Galdi.(Fonte: Jornal do Commercio/RJ/Alberto Alerigi Jr. Da Agência Reuters)