A próxima década já está na mira dos produtores rurais de Mato Grosso e, a julgar pelas previsões, os resultados dos setores de agricultura e pecuária do Estado devem se tornar ainda mais superlativos. Pesquisa feita pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), vinculada à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), traz as projeções para o agronegócio local em 2022 e revela a tendência de contínuo crescimento na oferta de grãos e carnes.
Segundo o estudo, há 13,4 milhões de hectares em áreas já abertas com potencial para uso na agricultura em Mato Grosso. “São áreas de pastagens que possuem solo em boas condições, com nível de umidade e relevos adequados. Não consideramos nenhum incremento a partir de novos desmatamentos”, explica Seneri Paludo, diretor executivo da Famato.
A estimativa é que a área plantada com grãos na safra 2021/22 cresça 51,80%, para 11,9 milhões de hectares, dos quais devem ser colhidos 67,7 milhões de toneladas, um expressivo avanço de 77,69% ante o ciclo 2011/12. Neste cenário, o desempenho do milho seria mais vigoroso do que o da soja. O Imea prevê que a produção da oleaginosa no Estado cresça 61,91% na próxima década, de 24,1 milhões para 39,1 milhões de toneladas. No caso do milho, a ampliação esperada é de 105,6%, de 13,9 milhões para 28,6 milhões de toneladas.
“Quando se entra em áreas novas, a produtividade inicial não é muito boa. Como a quase totalidade do milho produzido em Mato Grosso é de segunda safra, o grão já é semeado em solo corrigido e acaba beneficiado por um potencial maior de rendimento”, diz Paludo.
Ainda há uma variação grande no que diz respeito ao rendimento do milho no Estado: a média é de 100 sacas por hectare, mas a colheita mínima é estimada em 80 sacas e a máxima em 150 sacas, o que evidencia o potencial de crescimento. O intervalo da soja (entre 40 e 65 sacas) é menos significativo.
O elevado custo de implantação do algodão (um hectare requer R$ 5 mil, comparado a R$ 1,8 mil de soja) deve deixar a fibra mais à margem dessa possível escalada da produção mato-grossense. A projeção é de que a área plantada avance somente 3%, para 536,1 mil hectares, enquanto a colheita deve chegar a 895 mil toneladas em 2021/22.
Nos pastos que não sucumbirem ao avanço da agricultura, a ordem será a intensificação do uso do solo para a criação bovina. A expectativa é que aumentem as áreas de confinamentos, semi-confinamentos (em que a engorda é feita com suplementação de ração) e de integração lavoura-pecuária. Assim, o estudo aponta que um crescimento de apenas 2% no rebanho se traduza em um aumento de produção de 42%, para 1,7 milhão de toneladas.
“Na pecuária extensiva, costumam-se levar quatro anos para o abate. Com a intensificação do confinamento, esperamos reduzir esse tempo para até dois anos e meio. Como o boi irá para o abate mais cedo, teremos menos estoque e mais giro de animais”, afirma Paludo.
O aumento da participação de Mato Grosso na criação de aves e suínos do Brasil também é previsto pelo estudo. O Estado — diferente do Sul do país que não tem tradição nestes setores — deve elevar de 5% para 9% sua contribuição na produção de carne suína no país, para 373,2 mil toneladas, e de 4% para 6% em aves, para 997,3 mil toneladas. No total, os mato-grossenses devem ofertar 1,18 milhão de toneladas de carnes em 2022, alta de 63% na comparação com 2012.
Tamanha pujança, no entanto, depende do encadeamento de diversos fatores, como melhoria da infraestrutura logística, ampliação da capacidade de armazenagem e qualificação de mão de obra. “Essa próxima década será marcada pelo início de um segundo ciclo da agropecuária em Mato Grosso, com a transformação do milho e da soja em ração, farelo e óleo vegetal. Será um desafio de toda a cadeia fazer essa agroindustrialização de forma ordenada”, conclui o executivo da Famato.
Fonte: Valor / Mariana Caetano
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