Em meio ao cenário global conturbado, algumas empresas encontram brechas para fechar operações de captações externas. É o caso da trading de grãos Multigrain, cujo controle foi adquirido pela japonesa Mitsui em maio, que fechou na semana passada um empréstimo sindicalizado de US$ 500 milhões. A linha de pré-pagamento à exportação, uma das maiores já liberadas para uma empresa de agronegócios no país, tem prazo de 19 meses e será usada para capital de giro e refinanciamento de dívida.
A demanda dos bancos para participar da operação - que levou menos de um mês entre o lançamento e o desembolso - chegou a US$ 740 milhões, de acordo com Samuel Canineu, vice-presidente para a área de empréstimos sindicalizados para as Américas no ING, que liderou o negócio, ao lado de ABN Amro e Credit Agricole. A operação contou ainda com outras oito instituições financeiras.
A taxa obtida pela companhia na operação não foi revelada, mas Canineu diz que as condições seriam melhores se o prazo para os bancos participarem do empréstimo fosse estendido. Apesar da forte procura, a Multigrain acabou optando por não elevar o valor nem reduzir o preço porque queria fechar o negócio logo para não ter de se sujeitar à volatilidade do mercado. "Diante do interesse demonstrado, a demanda poderia chegar a US$ 900 milhões", estima.
As condições do empréstimo acabaram agradando aos bancos. Segundo Canineu, o mercado não tem visto muitas operações do tipo com prazo mais curto e, como não contou com garantia do controlador, o prêmio foi considerado atrativo.
A participação dos bancos no negócio teve ainda uma motivação estratégica. Como a Multigrain passa por um momento de transição após a reestruturação societária, é provável que a companhia volte logo a mercado. "Os bancos que entraram no empréstimo certamente desejarão participar de uma possível colocação de bônus da companhia no futuro", afirma.
A Multigrain é um dos principais negócios da Mitsui no Brasil, ao lado da participação no bloco de controle Vale. Os japoneses entraram no capital da trading - que atua principalmente nos mercados de soja, milho e algodão - em 2007. Neste ano, a Mitsui pagou US$ 274 milhões pela fatia de 44,2% no capital da companhia que pertencia à americana CHS e os 10% das ações que estavam em poder da PMG Trading, do empresário Paulo Garcez.
Incertezas à parte no exterior, as empresas brasileiras continuam a acessar o mercado, seja em busca de recursos ou para sondar o interesse do investidor. Na quinta-feira, o conselho de administração da Usiminas aprovou a contratação de uma linha de crédito rotativo de US$ 750 milhões. As condições da operação não foram reveladas pela siderúrgica.
Nesta semana, o Banco Safra agendou uma série de reuniões com investidores de bônus nos Estados Unidos e em Londres, segundo informações da agência Bloomberg. Os encontros serão intermediados por J.P. Morgan e UBS. Algumas empresas, no entanto, optaram por interromper os processos de captação por causa do ambiente ainda incerto no mercado internacional, que atrapalha a definição de preços para as operações.
Fonte: Valor Econômico/Vinícius Pinheiro | De São Paulo
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