O senador Alfredo Nascimento (PR-AM), presidente do PR, afastado do cargo de ministro dos Transportes após denúncias de irregularidades na Pasta, declarou ontem independência do partido em relação ao governo Dilma Rousseff e anunciou a decisão da legenda de devolver os cargos que tem na administração petista.
"Não fazemos política cultivando ressentimentos, mas também não abrimos mão da construção e manutenção de relações de confiança, respeito e lealdade junto àqueles a quem emprestamos o nosso apoio. No momento em que tais condições não mais se colocam como base de nosso relacionamento com o governo, entendemos ter chegado o momento de atuar com mais autonomia", disse, em discurso da tribuna do Senado.
"A partir de hoje, manteremos a atitude responsável que caracteriza a nossa trajetória no Legislativo brasileiro, mas atuaremos de forma independente. Nesse momento, abrimos mão de todos os cargos hoje ocupados por indicações de nossas bancadas. Tais espaços estão à disposição da administração federal", disse.
No discurso, Nascimento fez elogios ao atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, que é filiado ao PR, mas disse que Passos não representa o partido no governo. "Sua nomeação reflete decisão pessoal e isolada da presidente da República que, certamente, não merece discussão de nossa parte."
A decisão de deixar a base de apoio do governo rachou o PR. Enquanto a bancada da Câmara dos Deputados decidiu majoritariamente pela posição de "independência", cinco dos sete senadores do partido pressionavam o presidente da legenda, senador Alfredo Nascimento (AM), a amenizar o tom do discurso.
O mais irritado era o líder do partido no Senado, Magno Malta (ES). "Na semana passada, anunciamos a saída do Bloco de Apoio ao Governo (PT, PDT, PSB, PCdoB, PRB e, até então, PR) e apoio crítico ao governo. Não sou moleque para mudar de posição. Sou homem de palavra. Sou da base e, para mim, zerou o jogo", dizia Magno. Um irmão do líder, Maurício Malta, é assessor parlamentar do Dnit.
O afastamento de Nascimento do Ministério dos Transportes, provocado pelas denúncias de corrupção na Pasta, e o caráter dado às demissões no ministério - medida chamada de "faxina" pelo Planalto - causou revolta no PR. Dirigentes do partido ligadas a Nascimento e lideranças municipais pressionam por uma reação mais forte.
O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), convidou todos os deputados do bloco formado pelo PR (42) e os aliados PTdoB, PRB, PRTB, PTC e PSL - que totalizam 52 parlamentares - a prestigiar o discurso de Nascimento no Senado. "Os 52 votos do bloco não estão indo para a oposição. O partido vai fazer um trabalho de entendimento sobre as matérias mais polêmicas. O que queremos é deixar o governo com um pouco mais de conforto em relação ao partido e o partido com um pouco mais de conforto em relação ao governo", disse.
Na semana passada, em jantar na casa do deputado Luciano Castro (RO), o deputado Valdemar Costa Neto (SP), secretário-geral e presidente de honra do partido, anunciou aos correligionários que o ex-ministro Alfredo Nascimento reassumiria o comando da sigla e tomaria a decisão sobre o rumo a ser tomado. "Foi colocado de forma firme que não existiriam dois PRs. Tomaríamos uma posição comum", afirmou o vice-líder na Câmara, Bernardo Santana de Vasconcelos (MG).
Nascimento disse que os 48 parlamentares do PR - 42 deputados e seis senadores (são sete, mas um está licenciado) - passarão a votar com as suas consciências e vão atuar "sem as amarras impostas seja pelo governismo seja pela oposição". Afirmou que o PR não fará "o jogo político rasteiro da revanche ou da vingança, do constrangimento ou da chantagem", mas lançará mão do que chamou de "crítica proveitosa" e do "embate sereno e elevado" na defesa das bandeiras do partido.
Fonte: Valor
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