A Nippon Steel Corp. e a Sumitomo Metal Industries Ltd. anunciaram uma fusão que ocorrerá até o próximo ano, criando o que deve ser a segunda maior produtora mundial de aço bruto e uma ferrenha concorrente para rivais na China e Índia.
A transação é a primeira grande consolidação na indústria siderúrgica japonesa em uma década e ocorre num momento em que as principais siderúrgicas do país enfrentam dificuldades para recuperar suas finanças, enfraquecidas por uma recessão global. Numa encruzilhada entre os altos custos das matérias-primas e um fraco poder de ditar preços às montadoras e outros clientes importantes, as siderúrgicas do Japão têm tido dificuldades para aumentar suas margens de lucro.
"Isso vai acelerar nossa estratégia global e nos permitir reduzir custos e aumentar a qualidade", disse ontem o presidente da Nippon Steel, Shoji Muneoka, numa entrevista coletiva.
A Nippon Steel, maior acionista da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A., a Usiminas, e a Sumitomo Metal, que é sócia da francesa Vallourec S.A. na VSB - Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil, são respectivamente a primeira e a terceira maiores siderúrgicas do Japão em volume de produção. Elas informaram que vão se fundir numa nova holding, ainda por ser batizada. O anúncio deixou de fora muitos detalhes importantes, como a proporção da fusão e o quanto as empresas projetam economizar em custos a partir do enxugamento das operações, valor que pode ser limitado pelo relacionamento próximo que as empresas já têm e suas diferentes linhas de produtos.
"Esperamos gerar muita economia de custos a partir de sinergias, mas não temos números específicos para fornecer neste momento", disse o presidente da Sumitomo Metal, Hiroshi Tomono.
A fusão vai criar uma empresa cujo faturamento combinado no ano fiscal encerrado em março de 2010 foi de 4,774 trilhões de ienes (US$ 58,54 bilhões).
As duas produzem juntas 37,5 milhões de toneladas de aço bruto, de acordo com dados de 2009 da Organização Mundial do Aço. Isso torna a nova empresa a segunda maior do mundo, atrás da ArcelorMittal, de Luxemburgo, com 77,5 milhões de toneladas, e ligeiramente à frente da chinesa Baosteel Group Corp.
As duas empresas japonesas já têm várias associações em andamento, bem como participações minoritárias cruzadas. Mas a Nippon Steel é que deve assumir o papel de sócia principal no negócio, por que é bem maior que a Sumitomo Metal em termos de valor de mercado, produção e lucro. Na entrevista coletiva de ontem, Muneoka, da Nippon Steel, leu um comunicado conjunto e assumiu a liderança na resposta às perguntas. Tomono, da Sumitomo Metal, assistiu, mas deixou que seu parceiro respondesse a várias perguntas sobre questões estratégicas.
O negócio vai precisar de aprovação das autoridades reguladoras, mas o ministro da Indústria do Japão, Banri Kaieda, indicou que o governo não vai tentar barrar a transação. O ministro chamou a fusão de um "caso pioneiro" para se criar uma empresa que consiga "brigar no mundo", relatou a agência "Kyodo News".
As siderúrgicas japonesas enfrentam uma concorrência acirrada em duas frentes - rivais de baixo custo em outros países da Ásia, como China e Índia, e potências mundiais integradas, como a Arcelor. Recentes aumentos de preço feitos pelas grandes mineradoras que fornecem minério de ferro e outros materiais usados na fabricação do aço também representam um desafio para a indústria siderúrgica japonesa.
Embora o negócio fechado ontem pareça aumentar o poder de barganha das duas empresas com fornecedoras e usuários, elas informaram que isso não foi um fator na decisão de se fundirem.
"Não estamos tentando aumentar nosso poder de barganha com clientes ou fornecedores", disse Muneoka. "Trata-se de competir como uma empresa global de porte e conseguir atender às necessidades de nossos clientes em todo o mundo."
Alguns clientes japoneses estão cautelosamente otimistas quanto à fusão, que pode criar economias de escala e ajudar a reduzir os custos. "Dizer que elas vão ficar fortes demais e terão maior poder de negociação é um raciocínio muito grosseiro", disse Kiyoshi Ozaki, diretor financeiro da Mazda Motor Corp. A montadora aplaude o negócio se "o fato de se tornarem mais competitivas em termos de custo significar que elas podem repassar algo para nós" como cliente, disse ele.
Embora a Nippon Steel e a Sumitomo Metal tenham tentado elevar as margens de lucro nos últimos anos concentrando-se mais em produtos mais elaborados, como placas de metal usadas na fabricação de automóveis, a Sumitomo Metal desenvolveu uma especialidade na fabricação de tubos sem costura usados em projetos de infraestrutura. Essa estratégia, intensiva em tecnologia e de produtos mais caros, contrasta com a de outras grandes siderúrgicas, como a Arcelor, cujos principais produtos são aços mais baratos usados em áreas como a construção civil.
As conexões das duas siderúrgicas japonesas começaram em 2001, quando elas anunciaram planos de fusão de suas operações de solda e de considerar uma associação mais ampla, que foi formalizada no ano seguinte. A Nippon Steel também formou uma aliança de negócios similar com a Kobe Steel Ltd. em 2001. Esse relacionamento será mantido, já que a Kobe Steel não fará parte da empresa após a fusão.
Essas iniciativas rumo à integração se seguiram a uma decisão em 2000 das rivais Kawasaki Steel Corp. e NKK Corp. que numa fusão criaram a JFE Holdings Co., a segunda maior siderúrgica japonesa desde 2002. Especulava-se cada vez mais que novas fusões seriam inevitáveis, à medida que a indústria siderúrgica do Japão enfrenta uma economia doméstica enfraquecida e o fortalecimento do iene, que prejudica a competitividade das exportações japonesas.
Até certo ponto, o iene forte ajudou a mitigar o preço mais elevado das matérias-primas, mas os lucros continuam bem abaixo daqueles divulgados até alguns anos atrás, quando a demanda mundial em expansão gerava fortes vendas no país e no mundo.
A Nippon Steel prevê um lucro líquido de 95 bilhões de ienes neste ano fiscal, revertendo um prejuízo de 11,53 bilhões de ienes no ano passado. Mas esse lucro é pequeno se comparado aos 155,08 bilhões de ienes que a empresa registrou em 2008 e 354,99 bilhões de ienes em 2007.
A Sumitomo Metal prevê um lucro líquido de 60 bilhões de ienes neste ano fiscal, revertendo prejuízo de 49,77 bilhões de ienes. Ela divulgou lucro de 97,33 bilhões de ienes em 2008 e de 180,55 bilhões de ienes em 2007.
Muneoka, da Nippon Steel, disse que, embora não haja planos de expandir a entidade resultante da fusão imediatamente, ele não descartaria consolidações adicionais.
A fusão foi anunciada depois do fechamento de ontem da sessão de negociações da Bolsa de Tóquio, quando a ação da Nippon Steel teve alta de 0,7% e a da Sumitomo Metal fechou estável.
(Fonte: Valor Econômico/Chester Dawson e Kazuhiro Shimamura | The Wall Street Journal, de Tóquio/Colaboraram Kenneth Maxwell, Yoshio Takahashi e Kana Inagaki)
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