Em mais uma tentativa de buscar uma solução para a desavença societária que enfrentam há dois anos na Usiminas, os principais dirigentes da Nippon Steel & Sumitomo, Kosei Shindo, e da Ternium - Techint, Paolo Rocca, se encontraram ontem, em uma grande cidade da Europa, para discutir a grave situação financeira da siderúrgica brasileira.
Uma das últimas reuniões dos representantes dos dois principais acionistas controladores da Usiminas ocorreu em Chicago, EUA, em outubro, durante o congresso anual da indústria do aço sediado na cidade americana. Como em outras ocasiões, desde o estopim do rompimento entre os dois sócios, no fim de setembro de 2014, não se espera avanço nas conversações. Todavia, hoje a realidade da empresa é muito mais grave.
PUBLICIDADE
Com uma alta concentração de compromissos da dívida em março, caso sejam todos quitados, o caixa da empresa pode zerar antes do fim do próximo mês. Por isso, a diretoria pede uma injeção de capital dos acionistas de R$ 900 milhões a R$ 1 bilhão para sobreviver neste ano. Se não fizer isso, corre o risco de sofrer pedidos de falência ou entrar com pedido de recuperação judicial, ações que a diretoria-executiva quer evitar.
O conselho de administração da siderúrgica deve se reunir na próxima semana, provavelmente no dia 3 de março, para analisar as alternativas de capitalização da empresa. O plano mais refinado da diretoria deverá apontar, além de um aumento de capital dos acionistas, alternativas de empréstimo dos controladores e mesmo de empresas vinculadas, como a Mineração Usiminas (Musa), que tem R$ 1,3 bilhão disponível em caixa, do total de R$ 2 bilhões contabilizado no balanço. A Usiminas tem 70% da Musa; a Sumitomo Corp. os outros 30%.
O caminho considerado de melhor operacionalização, e que é defendido pela Nippon Steel, é o de aumento de capital, pois não onera ainda mais a situação da empresa, como no caso de empréstimos e mútuos, que seriam mais complicados, como explicou uma fonte. A suspensão de pagamento dos credores pelo prazo de 180 dias, defendida pela Ternium, está fora de cogitação, afirmaram fontes do grupo japonês e a própria diretoria da Usiminas. O grupo ítalo-argentino é contrário a colocar mais capital.
Ao mesmo tempo, a empresa conversa com seus grandes credores - bancos comerciais (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander) e de fomento (BNDES e o japonês JBIC), para refinanciar e alongar os prazos de pagamentos de seus compromissos. Entre este ano - R$ 1,9 bilhão - e o fim de 2018 são ao redor de R$ 6 bilhões. Uma recuperação judicial traria impactos negativos para a empresa, os credores, funcionários e credores.
Conforme apurou o Valor, os quatro principais bancos foram visitados no fim de janeiro pelo presidente da Usiminas, Romel de Souza, pelo diretor financeiro, Ronald Seckelmann, e por representantes da Nippon Steel e da Ternium. Informaram à empresa que estão dispostos a renegociar as condições da dívida, mas pedem contrapartida de comprometimento dos acionistas para resolver a crise da siderúrgica.
Dos quase R$ 8 bilhões de dívida bruta da empresa no fim do ano passado, metade estava em mãos do BB, Itaú e Bradesco. A outra metade, com BNDES, JBIC, debêntures e eurobônus. Parte importante da solução do problema da empresa passa pelo entendimento com esse grupo credor.
Segundo fontes, a Nippon Steel está pronta para fazer uma injeção de capital na empresa e minorar suas dificuldades neste momento. Num passo seguinte estaria aberta para os dois sócios se entenderem sobre suas desavenças a respeito da gestão na companhia, desgastada desde 2013, um ano e pouco após entrada do grupo ítalo-argentino no capital.
Grupo japonês defende aumento de capital na siderúrgica para aliviar a crise no cruto prazo; a ítalo-argentina é contra
Atualmente, a Usiminas tem 20 diretores, entre estatutários e não estatutários. Sete deles são indicados pela Ternium, entre os quais o vice-presidente industrial, diretor de suprimentos e o diretor de controladoria. Da Nippon Steel, quatro, incluindo o vice-presidente de planejamento e o diretor adjunto de engenharia. Os demais são funcionários de carreira, como o presidente e o vice-presidente de negócios e executivos contratados no mercado.
A Ternium alega que a Nippon rompeu o acordo definido por ambas em 2012, pois foi acertado que ficaria com a gestão da empresa. Indicou o presidente e dois vice-presidentes, os quais foram afastados no fim de setembro de 2014. E, que, assim, teve seu plano para a siderúrgica interrompido.
É avaliado no setor que, em termos de medidas de ajustes operacionais, a Usiminas já fez o que era possível. Um plano de venda de alguns ativos leva um bom tempo, o que a siderúrgica não pode contar.
Em maio do ano passado, com a demanda interna de aço em forte baixa, suspendeu a produção de dois altos-fornos - um em Ipatinga (MG) e outro em Cubatão (SP). Em agosto, parou a linha de produção de chapas grossas de Cubatão devido à sua ociosidade. Em outubro, anunciou ao mercado que, para se ajustar ao tamanho do mercado no Brasil e às dificuldades de exportar, decidiu parar a produção de aço na usina paulista. Manteve só os dois laminadores. A medida foi concluída no fim de janeiro, com demissão de 1,8 mil pessoas.
Na semana passada, a companhia mineira divulgou seu balanço de 2015, que trouxe prejuízo líquido de R$ 3,7 bilhões. O resultado foi impactado por pesadas baixas contábeis feitas nas áreas de mineração de ferro e na siderurgia, de mais de R$ 2,5 bilhões.
Em relatório, ontem, o Goldman Sachs apontou que a Usiminas vai operar ainda com fluxo de caixa negativo em R$ 650 milhões este ano e em R$ 320 milhões em 2017. Vai gerar R$ 352 milhões de caixa neste ano. E que a empresa enfrenta grave risco de solvência.
A Nippon Steel tem 29% do capital votante da Usiminas; a Ternium, 27,5%, além de 10% de ações adquiridas da Previ em 2014 que estão fora do acordo de acionistas, que vigora até 2031.
Fonte:Valor Econômico\Ivo Ribeiro | De São Paulo