A inflação no atacado diminuiu em março, mas deve subir em abril. Passada a pressão sazonal do primeiro bimestre, os economistas apostavam em arrefecimento contínuo, mas os reajustes superiores a 100% nos preços do minério de ferro promovidos pela Vale devem afetar os índices de abril. Além disso, o peso do minério de ferro na ponderação do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) vai mudar. Segundo a FGV, que coleta o IGP-M, o minério de ferro, que hoje responde por 1,08% do Índice Preços no Atacado (IPA), vai passar a representar 2,54%.
O IGP-M de março, divulgado ontem, apresentou alta de 0,94% - em queda frente aos 1,18% apurados em fevereiro. Os produtos industriais puxaram a desaceleração, principalmente os bens finais, com o subgrupo alimentos processados caindo de 3,7% para 0,3% no período. Em rumo contrário, foram as matérias-primas brutas, especialmente alimentos em forma primária, que sustentaram a alta no atacado. Leite in natura, de 2% para 6%, e mandioca, de -1,1% para 5,2%, sofreram a maior variação. Ao todo, os produtos agropecuários subiram quase 2,5 pontos percentuais entre fevereiro e março.
Neste mês, o minério de ferro contribuiu para a queda na inflação, passando de alta de 4,73% em fevereiro para deflação de 2,84% em março. O movimento, acreditam os analistas, não deve se repetir em abril. A partir de amanhã, o reajuste da Vale começa a entrar em vigor, elevando o preço da tonelada do minério em 114%, na média. A alta serviu para desencadear ou fortalecer medidas semelhantes de outros "players" do mercado, como ArcelorMittal, Rio Tinto, BHP Billiton e Thyssen-Krupp, além do próprio preço do aço.
"Trata-se de um valor muito forte, que vai ser impulsionado pela mudança na ponderação da FGV", diz Laura Haralyi, economista do Itaú Unibanco. Laura calcula que um reajuste de 90% no preço do minério, devido à nova ponderação no IPA, equivalerá a 1,4% da alta do IGP-M ao fim de 2010. "Isso quer dizer que o minério de ferro sozinho explicará mais de 10% da elevação do IGP-M no ano", raciocina. Além disso, diz Laura, "é preciso considerar os efeitos em cascata pela cadeia, que atingirão o preço do aço e todos os setores industriais que trabalham com aço no seu processo fabril".
As fábricas metalúrgicas, por exemplo, devem ampliar o repasse de preços ao longo do ano. Apenas no primeiro trimestre, o setor acumulou alta de 4,2% - antes, portanto, do reajuste no preço do minério de ferro. A indústria metalúrgica, no entanto, ainda está longe de recuperar a queda de preços verificada em 2009, quando acumulou deflação de 12,2% no IGP-M. "O encarecimento do ferro vai permitir que indústrias da ponta da cadeia metalúrgica, como a automotiva, repassem preços maiores", afirma Leonardo Miceli, economista da SLW Asset Management.
Os reajustes no carvão mineral também devem pressionar na formação de preços do aço. O carvão mineral do tipo metalúrgico é usado nos altos-fornos de siderúrgicas junto com o minério de ferro para se obter o aço, depois vendido à indústrias de bens de consumo. Ainda não há consenso quanto ao reajuste que será aplicado ao preço do carvão, mas, segundo analistas, a faixa de US$ 130 a tonelada, válida desde o ano passado, pode atingir US$ 200 em 2010.
O reajuste forte pressionará a inflação, mas no caso do carvão, aponta Laura, "seu impacto será diluído pelo peso do produto no atacado". Neste caso, a nova ponderação da FGV, que vale a partir de amanhã, terá efeitos positivos: o carvão mineral terá peso de 0,06% no IPA, menos que o atual 0,07%.
Outro fator de pressão sobre o IGP, a partir do segundo trimestre, são os contratos de aluguel e condomínio, majoritariamente corrigidos pelo IGP-M, que não devem repassar o índice passado, mas sua variação presente. "Ninguém pode esperar que o aluguel em 2010 use o IGP-M negativo de 2009, mas os valores acumulados neste ano", diz a economista do Itaú Unibanco.
Fonte:Valor Econômico/ João Villaverde, de São Paulo
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