A transferência dos ativos de alumínio da Vale para o grupo norueguês  Norsk Hydro ASA, numa operação de US$ 5 bilhões, foi o maior negócio já  feito por uma empresa fora da Noruega, revelou ao Valor o  vice-presidente da recém-criada área de bauxita e alumina do grupo,  Johnny Undeli, que também acaba de assumir a presidência da Hydro  Alumínio no Brasil. Até agora, o grupo já investiu US$ 6,5 bilhões no  país, mais do que dobro dos US$ 12,5 bilhões faturados em 2010.
 
 A transação com a Vale, que recebeu parte em dinheiro e parte em ações  da norueguesa, passando a deter 22% do capital da companhia, vai tornar a  Norsk-Hydro na maior empresa de alumínio do mundo, dado o domínio que  terá sobre toda a cadeia de produção do metal, com destaque para  matérias-primas como bauxita de Paragominas (PA) e alumina da Alunorte,  prevê Undeli.
 
 Segundo ele, o fortalecimento da Hydro em nível global coloca o negócio  num contexto político para a Noruega em relação ao Brasil. "Acho que é  correto eu dizer que as relações políticas entre o Brasil e a Noruega  são muito boas, excelentes e estão sendo desenvolvidas ainda mais. O que  nós estamos, agora, conseguindo junto com a Vale e nossos empregados no  Brasil é uma perspectiva de longo prazo"., afirma. "Agora, somos uma  empresa de 23 mil empregados, dos quais 4.500 no Brasil, e vamos  cooperar de maneira a berta e transparente envolvendo as comunidades  locais e autoridades locais. Nós, juntos, podemos ser muito mais. As  relações entre os dois países se fortalece na medida em que vamos para a  frente", acrescenta o executivo.
 
 A Norsk-Hydro é hoje a terceira maior produtora de alumínio do mundo. O  governo da Noruega tem 43,89% do seu capital. Essa fatia caiu para 34,5%  depois que a Vale passou a ser a segunda maior acionista da empresa.  Pelo acordo, a Vale não pode ampliar sua fatia e tem que mantê-la por  pelo menos dois anos.
 
 Além de ter muitas operações de fundição e reciclagem na Europa, a  empresa norueguesa é também operadora e tem sócios em Qatar, no Oriente  Médio, onde instalou uma das maiores operações de fundição do mundo que  estará operando a plena capacidade de 600 mil toneladas no segundo  trimestre. Outros parceiros globais na área de fundição estão no Canadá e  na Austrália. Na Noruega tem equipamentos de fundição na costa do país.  "Agora, fizemos uma fusão com a Vale e nos tornamos uma empresa  norueguesa-brasileira", disse o executivo.
 
 Para Undeli, o negócio com a Vale foi excelente. "Antes desse grande  negócio estávamos sentados em posições minoritárias e éramos donos de  pequenas partes da operação. E, no total, então, seríamos capazes de  atender as necessidades que tínhamos para fundição". Mas agora, ressalta  o executivo, "o grande negócio nos tornou um ofertante ativo no mercado  global para alumina e isso é novo para nós. Isso nos torna um parceiro,  um sócio atraente para o futuro". E, ao mesmo tempo, diz ele, nos dá  força e segurança para o suprimento de matéria-prima, porque somos  atualmente donos das matérias-primas", disse entusiasmado o executivo da  Hydro..
 
 Os planos para os ativos brasileiros recém adquiridos passam  inicialmente por expandir o volume das operações. "Isso vai nos exigir  investimentos em expansão de volume e em investimento de capital  (Capex). Estamos avaliando e amadurecendo ideias porque assumimos estas  operações na semana passada. Vamos trabalhar com orçamento e números  mais tarde".
 
 A Hydro recebe da Vale a Albrás, uma fundição de metal com capacidade de  460 mil toneladas por ano; a Alunorte, com porte de 6,3 milhões de  toneladas de alumina/ano; e a mineradora de bauxita Paragominas, que já  faz 9,9 milhões de toneladas anuais de minério; e o projeto da CAP, uma  nova refinaria de alumina.
 
 Undeli informou que a mina de Paragominas deve ser expandida para 10  milhões a 15 milhões de toneladas. Para a Alunorte, os planos passam por  melhorias contínuas. "Sempre fazer um pouco melhor do que fizemos no  ano anterior. O mesmo para a Albrás, apoiada por novas tecnologias".
 
 O executivo confirma que a intenção é também atender o mercado  doméstico, apesar da principal força motriz do negócio aqui ser a  bauxita e a alumina. Ou seja, matéria-prima. Mas Undeli promete examinar  a possibilidade de fabricar lingotes de extrusão na Albrás para  introduzir o produto acabado no Brasil. Hoje, o mercado brasileiro  importa lingotes de extrusão. "Isso poderia servir como oportunidade  para melhorar a situação aqui". O projeto CAP deve entrar em operação em  2015, produzindo 1,8 milhão de tonelada de alumina.
 
 O foco da Hydro é atualmente o alumínio, para o qual Undeli desenha um  cenário de crescimento de 8% da demanda para 2001, contra 2010. O grupo  vendeu as participações que detinha na Statoil, empresa norueguesa de  óleo e gás, e elegeu a água limpa como matriz energética. Também se  desfez dos ativos de fertilizantes no Brasil. Da época em que se  instalou aqui, em 1974, até agora, a Hydro mantém, além das  participações que possuía nos negócios de alumínio da Vale no Norte do  país, uma empresa de extrusão de alumínio em Itu, São Paulo, com 400  empregados, onde ainda produz para abastecer o mercado brasileiro.
 
 Apesar de estarem confortáveis em relação ao fornecimento de energia  para as operações da Alunorte e da Albrás, pois há contratos de  fornecimento de longo prazo firmados com a Eletronorte até 2024, os  noruegueses não descartam estudar o mercado de energia no Brasil para o  futuro. Na Noruega, a Hydro é a maior empresa local de energia do país,  insumo que lá custo barato. No Qatar, existe uma combinação de energia e  produção de alumínio. "Nesse contexto, também vamos ter interesse em  entender e ver como o mercado de energia no Brasil funciona", falou  Undeli.
 
 A decisão da Vale de se desfazer da área de alumínio devido o alto custo  da energia no Brasil expressa a preocupação dos produtores locais de  alumínio. Para o setor, o país corre o risco de virar importador do  metal.
Fonte: Valor Econômico/Vera Saavedra Durão | Do Rio
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