No cenário difícil que se desenha para o Brasil até as eleições de 2018, em que a combinação do problema fiscal não resolvido com o potencial dos candidatos populistas pode romper a relativa estabilidade macroeconômica e financeira desde meados do ano passado, o comportamento das commodities é uma variável importante e que pode influenciar o rumo dos acontecimentos.
O Brasil se beneficia claramente de preços elevados das commodities metálicas e alimentares. Com as boas perspectivas para a produção do pré-sal, um panorama de níveis altos de preço do petróleo também tende a se tornar crescentemente um “plus” para a economia brasileira.
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Nesse sentido, as projeções são relativamente confortáveis, como fica claro no relatório “Commodity Markets Outlook” do Banco Mundial de outubro deste ano. O preço dos metais, segundo o documento, deve subir 22% este ano e recuar ligeiramente em 2018. Na verdade, a composição desse recuo projetado para 2018 não é a melhor para o Brasil, já que a previsão é de queda de 10% no preço do minério de ferro, parcialmente neutralizada por altas em diversos outros metais. Ainda assim, vindo das altas de 2017, o quadro não parece assustador.
No mercado de petróleo e gás, o cenário é tipicamente mais complexo, porque envolto em riscos geopolíticos, como fica ilustrado pela tensa situação atual entre Arábia Saudita e Irã. Segundo as projeções do Banco Mundial, depois de registrar uma média de US$ 43 em 2016, o preço do petróleo bruto deve fechar 2017 com uma média de RS$ 53, e 2018 com US$ 56.
O relatório nota que a oferta de petróleo é suscetível ao que pode ocorrer em diversos países “politicamente estressados” como Iraque, Líbia, Nigéria e Venezuela. Depende também – e aí o risco corre para os dois lados – da capacidade de países produtores da OPEP e fora dela de fazer valer na prática o acordo para cortar a produção.
O controverso consultor Dennis Gartman, especializado em commodities, disse que o aumento das tensões no Oriente Médio por causa da atuação voluntariosa de Mohammed bin Salman, o jovem príncipe herdeiro saudita – e o risco de conflito que ela traz, especialmente com o Irã –, poderia ser prejudicial aos preços do petróleo. Isto ocorreria porque qualquer ameaça de elevação do barril reforçaria as tendências de busca de fontes alternativas e de extração de petróleo mais caro, com o “shale oil” norte-americano.
Na verdade, como consta de gráfico do relatório do Banco Mundial, o preço médio de “breakeven” do “shale oil” americano vem caindo fortemente, tendo saído de mais de US$ 70 o barril no início de 2013 para menos de US$ 40 no início de 2017. De toda a forma, pelo menos no curto prazo, as previsões são de sustentação de preços no mercado de petróleo.
Em relação às commodities alimentícias, depois de um 2017 em que na média deve haver um leve recuo, os preços estão previstos para se estabilizar em 2018. Em termos climáticos, o risco de eventos perturbadores, como mais um ciclo de La Niña (quando as águas do Pacífico, especialmente na costa da América do Sul, se resfriam), se dissiparam.
Em suma, não se desenha no horizonte, segundo a vista alcança hoje, a reedição do boom de commodities, mas tampouco há perspectiva de quedas de preços que piorem o risco de países exportadores como o Brasil. Trata-se de um flanco que parece relativamente seguro, comparado a outros riscos mais preocupantes, como o eleitoral ou uma eventual alta de juros mais forte e abrupta nos Estados Unidos.
Fonte: Estadão