A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e seus aliados abandonaram as negociações sobre a produção de petróleo até segunda-feira, após a rebelião de um membro-chave ameaçar a unidade da aliança.
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As negociações terminaram sem um acordo para aumentar a produção, depois que os Emirados Árabes Unidos mantiveram a exigência de melhores termos. O impasse — que já havia levado as discussões para um segundo dia — corre o risco de perturbar a gestão do cartel da recuperação pós-pandemia do mercado de petróleo, enquanto os países consumidores se preocupam com o impacto dos preços mais altos.
As negociações serão retomadas na próxima semana, após o que provavelmente será um fim de semana de diplomacia furiosa. Os Estados Unidos já expressaram preocupação com o aumento dos preços da gasolina, já que o petróleo atingiu US$ 75 por barril.
O fracasso de alcançar um acordo sobre o aumento da produção pressionaria um mercado já apertado, potencialmente elevando os preços do petróleo bruscamente. Mas o cenário oposto também está em jogo: se a unidade se romper totalmente, um vale-tudo derrubaria os preços — como aconteceu durante a guerra de preços entre Opep e aliados no ano passado.
O impasse atual é um sinal claro das intenções dos Emirados Árabes Unidos: eles têm um mandato claro para aumentar a produção e querem exercer uma influência mais ampla”, disse Amrita Sen, da consultoria Energy Aspects Ltd. em Londres, à agência de notícias norte-americana.
Abu Dhabi apresentou a ideia de deixar a Opep no fim de 2020, pois quer bombear mais petróleo para fazer uso dos bilhões de dólares em investimentos que realizou para expandir sua capacidade. A amarga disputa interna esta semana — e a recusa dos representantes dos Emirados Árabes Unidos em fazer qualquer concessão — sugere que as tensões vão persistir.
Contornos do acordo
A maioria dos membros da Opep e aliados apoiou uma proposta para adicionar 400 mil barris por dia na produção a cada mês a partir de agosto — e aceitou adiar o vencimento de seu acordo de fornecimento mais amplo até o fim de 2022.
Mas os Emirados Árabes Unidos estão tentando mudar a base de referência usada para calcular sua cota, que eles afirmam ser injusta. O país apoia um aumento na produção a partir de agosto, mas insiste que qualquer extensão do acordo de fornecimento seja condicionada a uma revisão das bases de referência, disse uma pessoa com conhecimento da política dos Emirados Árabes Unidos no sábado à Bloomberg.
Uma mudança para alterar as bases de referência da nação poderia permitir o bombeamento de 700 mil barris a mais por dia. Foi proposto ir em frente com o plano de aumento de produção da Opep e aliados e adiar qualquer discussão sobre a extensão do pacto até que a questão das bases de referência possa ser resolvida.
“Se os Emirados Árabes Unidos não puderem garantir as concessões de base de referência que está procurando, eles declararão seu próprio Dia da Independência da Opep em segunda-feira?", disse Helima Croft, estrategista-chefe de commodities da RBC Capital Market, à agência de notícias.
A forte postura assumida por Abu Dhabi mostra como o governante de fato do país, o príncipe herdeiro Mohammed bin Zayed Al Nahyan, agora está flexionando seus músculos no mercado e na indústria do petróleo, após ousados movimentos de geopolítica do Iêmen a Israel.
O príncipe Mohammed apoiou fortemente o sultão Al Jaber, chefe da companhia nacional de petróleo do país, que está investindo pesadamente para aumentar a capacidade de produção. Ele já teve relações estreitas com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Mas a relação entre os dois herdeiros parece ter esfriado nos últimos meses.
Depois que a Opep e aliados suspendeu suas negociações na sexta-feira, a Arábia Saudita emitiu um comunicado proibindo os cidadãos de viajar para os Emirados Árabes Unidos e vários outros países, citando preocupações com o coronavírus.
Recuperação do petróleo
Os preços do petróleo aumentaram cerca de 50% este ano, à medida que a recuperação da demanda supera o renascimento da oferta da Opep e aliados.
A disciplina da OPEP liderou a reviravolta no mercado após a guerra de preços do início de 2020. Essa batalha punitiva — que eclodiu no momento em que a pandemia se instalou — foi iniciada por um desacordo entre a Rússia e a Arábia Saudita. Desta vez, sauditas e russos estão do mesmo lado, contra o aliado de longa data da Arábia Saudita.
"A questão é se Opep e aliados permanecerão coesos e eficazes no próximo ano", disse Bob McNally, presidente da Rapidan Energy e ex-funcionário da Casa Branca, à Bloomberg. “E isso depende muito de líderes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Rússia trabalhando em um compromisso aceitável sobre a base de referência dos Emirados.”
Fonte: Valor