Os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estão avançando no plano de estender os cortes na oferta da commodity por nove meses, até o primeiro trimestre de 2020, enquanto lidam com o crescimento da produção de petróleo não convencional ("shale") nos Estados Unidos e com o enfraquecimento na demanda. Desde que a Rússia e a Arábia Saudita chegaram a um acordo em uma reunião às margens do G-20 no sábado para prorrogar os cortes em seis a nove meses, outros países têm verbalizado apoio à extensão até o próximo ano.
"Quanto maior o horizonte, mais forte fica o mercado", disse o secretário-geral da Opep, Mohammad Barkindo, em Viena no sábado depois de uma reunião com o ministro do petróleo da Arábia Saudita, Khalid Al-Falih. "Dará mais certeza sobre 2019. Acredito que a maior parte das previsões que vemos agora e a maioria das análises estão gradualmente mudando para 2020."
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Delegados da Nigéria e da Venezuela também expressaram apoio condicional à extensão por nove meses, que foge ao padrão das políticas da Opep, já que tradicionalmente a organização faz acordos relacionados à produção com duração de seis meses.
Permanece incerto se a proposta, a qual Al-Falih se disse favorável, vai ganhar apoio unânime de todos os 14 membros da Opep. Até este fim de semana, oficiais da organização discutiam prolongar os cortes até o fim de 2019. No entanto, o presidente da Rússia, Vladimir Putin -- depois de se reunir com o príncipe saudita Mohammed Bin Salman -- abriu a porta para que o corte fosse até 2020, ao sugerir restrições mais longas.
Isso reflete estratégia e tática: reconhece as perspectivas sombrias para oferta e demanda em 2020, em meio à desaceleração do crescimento da economia e o aumento da produção nos Estados Unidos. E isso vai permitir a Opep mostrar ao mercado que está disposta a continuar cortando a produção, ao mesmo tempo em que mantém flexibilidade para ajustar o acordo quando acontecer seu próximo encontro, antes do fim do ano.
"Achamos que claramente é um movimento orquestrado pela Arábia Saudita para manter os preços atuais em meio às previsões de demanda menor, ou ao menos uma tentativa de manter um limite para os preços", disse Joe McMonigle, analista de política energética na consultoria Hedgeye Risk Management LLC e ex-diretor no Departamento de Energia dos Estados Unidos.
Desde que a Rússia e a Arábia Saudita se juntaram para administrar o mercado em 2016, o preço do petróleo tipo Brent, referência no mercado, oscilou entre US$ 45 e US$ 85 o barril. Na sexta-feira, os contratos futuros para setembro fecharam em US$ 64,74.
O Brent deve "abrir com movimento mais positivo amanhã", depois do acordo entre Rússia e Arábia Saudita, disse Edward Bell, diretor de pesquisa de commodities no banco Emirates NBD, que fica em Dubai. Ainda assim, tensões comerciais e preocupações sobre a demanda devem impedir altas nos preços no terceiro trimestre, disse ele.
Horas depois da reunião de Putin em Osaka (Japão) com o príncipe saudita Mohammed, Al-Falih disse que a Arábia Saudita apoiaria uma extensão por nove meses, mas que eles "teriam que falar com os outros ministros". Ele alertou que o crescimento da demanda por petróleo foi "um pouco atenuado", mas disse que não há necessidade de cortes mais profundos.
Os ministros de petróleo da Opep e seus aliados terão uma série de reuniões em Viena na segunda-feira e na terça-feira, a fim de discutir a política de produção. A Arábia Saudita e a Rússia são os maiores membros do grupo, e geralmente ambos os países conseguem direcionar a posição da Opep de acordo com sua preferência. No entanto, outros países podem se opor.
Fonte: Valor