Opep anuncia redução de 2 milhões de barris diários na produçãoOpep anuncia redução de 2 milhões de barris diários na produção Bloomberg
Na primeira reunião presencial da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) desde a pandemia, os membros do cartel, liderado pela Arábia saudita, decidiram nesta quarta-feira cortar em dois milhões de barris diários suas cotas de produção para manter os preços, medida considerada "decepcionante" pelo presidente americano, Joe Biden.
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Pouco depois do anúncio, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e o principal conselheiro econômico de Biden, Brian Deese, afirmaram, em comunicado, que Biden "estava decepcionado com a decisão de curto prazo da Opep+".
"O presidente Biden está decepcionado com a decisão de curto prazo da Opep+ de reduzir drasticamente sua produção", disse o comunicado, em um momento que o governo americano tenta conter a alta dos preços, acrescentando que "vai consultar o Congresso sobre instrumentos e mecanismos adicionais que permitam reduzir o controle da Opep+ sobre os preços da energia".
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"Em uma tentativa de amortecer o aumento de preços, os EUA colocarão no mercado no próximo mês 10 milhões de barris de petróleo". Eles fluem para fora da Reserva Estratégica de Petróleo do país, mas estão diminuindo rapidamente após retiradas recordes ordenadas pelo governo desde março.
As reservas do país estão agora em seu menor nível desde julho de 1984.
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, declarou, mais tarde, que com esta decisão "a Opep+ se alinha com a Rússia". A bordo do avião que o levava à Flórida, Biden disse que esta decisão "é um erro".
A decisão da Opep+ coloca Biden e o Partido Democrata em uma situação difícil ao potencializar aumentos nos preços dos combustíveis a apenas cinco semanas das eleições de meio de mandato, nas quais os republicanos esperam assumir o controle do Congresso.
Os EUA registram a inflação mais alta em quatro décadas devido, sobretudo, aos atrasos na cadeia de fornecedores por causa dos confinamentos decretados contra a Covid-19 e aos altos preços dos combustíveis.
"Essa é a redução mais importante desde o início da pandemia", disse Srijan Katyal da corretora ADSS, em nota. "Seguramente a decisão vai disparar os preços, contrariando os esforços dos EUA e do Ocidente de segurar os custos da energia, que alimentam a inflação e afetam o crescimento mundial".
A decisão da Opep+ também ocorre "justamente em um momento em que os consumidores começavam a respirar aliviados", já que os preços haviam recuado com força.
Nas últimas semanas, os preços mundiais do preço do petróleo vinham perdendo terreno , cotados em torno de US$ 90 o barril, longe das máximas de março, no inívio da guerra da Ucrânia, quando chegaram a US$ 140 o barril.
Depois do anúncio, o preço do barril do tipo Brent, negociado no Mar do Norte, para entrega em dezembro, subiu 1,7%, cotado a US$ 93,97 em Londres. Já o tipo West Texas intermediate (WTI), para entrega em novembro, avançou 1,43%, negociado a US$ 87,76 em Nova York.
Frente às críticas sobre o impacto para os consumidores, o ministro saudita de Energia, Abdel Aziz bin Salman, citou "as diversas incertezas" em torno da economia mundial.
Em várias ocasiões, ele destacou a necessidade de ser "pró-ativo" para "estabilizar o mercado".
Bjarne Schieldrop, da consultoria SEB, destacou que na reunião de setembro o grupo já havia decidido por um corte simbólico da produção buscando "evitar um eventual acúmulo de reservas e, consequentemente, baixos preços do petróleo".
Boas notícias para a Rússia
A decisão da Opep+ favorece a Rússia e permite aumentar os ganhos às vésperas da entrada em vigor - no mês de dezembro - de um embargo europeu às importações de petróleo bruto de Moscou.
"Poderia ser entendida como uma nova escalada nas tensões geopolíticas", adverte Ipek Ozkardeskaya, analista de Swissquote.
O vice-primeiro ministro russo de Energia, Alexander Novak, criticou a política europeia de sanções, censurando qualquer limite imposto ao petróleo russo, uma medida que a UE considera, já que isto "viola os mecanismos de mercado" e poderia ter um efeito "muito nefasto" na indústria mundial.
Novak levantou a possibilidade de "escassez" e alertou que as empresas russas "não fornecerão petróleo aos países que aderirem a este instrumento", segundo declarações à televisão russa.
A redução da produção é a mais importante desde os cortes históricos de quase 10 milhões de barris diários em 2020 diante da queda abrupta da demanda causada pela pandemia de Covid.
A Opep foi criada em 1960 com o objetivo de regular a produção e o preço do petróleo, etabelecendo cotas de produção e exportação. em 2016, foi ampliada com a entrada da Rússia e outros países produtores formando a Opep+.
Fonte: Valor