Parlamento Europeu remove último obstáculo para rotular energia nuclear e gás natural como fontes verdesQuarenta e quatro países importaram gás natural no ano passado, quase o dobro de há uma década Asim Hafeez/Bloomberg
O Parlamento Europeu votou nesta quarta-feira para permitir que o gás natural e a energia nuclear sejam rotulados como fontes energéticas verdes, removendo a última grande barreira ao financiamento de bilhões de euros de investidores ambientais.
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Os legisladores europeus não conseguiram os 353 votos necessários para rejeitar a inclusão de gás natural e energia nuclear na chamada "Taxonomia da UE", uma lista de atividades econômicas consideradas alinhadas à transição do bloco para a neutralidade climática. Salvo uma improvável objeção dos países-membros, a regulamentação começará no início do próximo ano.
Com a votação, as novas usinas de gás poderão aproveitar dinheiro novo de investidores ambientais, sociais e de governança, embora por um tempo limitado e apenas quando essas instalações estiverem substituindo as usinas a carvão. O rótulo ambiental também servirá como um impulso para o setor nuclear da Europa, depois que países como a França apontaram o setor como uma fonte de energia de baixo carbono crucial para a substituição dos combustíveis fósseis russos.
O resultado é um alívio para a Comissão Europeia, o Executivo do bloco, que havia discutido a proposta pela primeira vez no final do ano passado. A legislação parecia cada vez mais impopular depois que a invasão da Ucrânia pela Rússia pôs em xeque o papel do gás como combustível de transição, em meio à alta dos preços e à ameaça de oferta reduzida.
A maior parte do conservador Partido Popular Europeu votou na terça-feira a favor da medida. Cientistas, ativistas ambientais e até mesmo uma grande parte do setor de gestão de investimentos criticaram o rótulo verde para o gás e a energia nuclear por preocupações de que poderia desviar investimentos de energias renováveis ??e manchar o que a UE havia lançado como um “padrão ouro” para finanças verdes.
— Como a inclusão da energia nuclear e do gás natural na taxonomia não é apenas política, mas também cientificamente controversa, teríamos preferido que o Parlamento tivesse decidido contra — disse Thomas Richter, diretor executivo da German Investment Funds Association.
Áustria e Luxemburgo já sinalizaram que planejam contestar legalmente a inclusão das duas fontes de energia na taxonomia, embora seja um processo que pode levar anos.
— Está completamente claro que tanto a energia nuclear quanto o gás fóssil não têm nada a ver com sustentabilidade — disse Leonore Gewessler, ministra da Energia da Áustria, na quarta-feira. — Vamos naturalmente contestar a decisão. Já fizemos os preparativos e Luxemburgo anunciou que se unirá a nós.
Fonte: O Globo