O mercado de aço no país trabalha com uma expectativa de forte desaceleração das importações de produtos siderúrgicos acabados neste ano. A avaliação é que o consumo de aço esfriou no país, puxado pela retração da economia brasileira, com inflação e juros em alta. Além disso, há a volatilidade do dólar, o que cria receios ao importador nas decisões de compra.
Cargas de material importado têm levado até 180 dias para chegar ao Brasil, segundo fontes do setor. “As importações vão cair com certeza”, diz um executivo.
A previsão para o consumo aparente (soma de vendas internas mais importação) total — incluindo todos tipos de aços, planos e longos principalmente —, do país em 2022 é de alta de 1,5%, conforme estimativa divulgada pelo Instituto Aço Brasil.
Um diretor da área comercial de uma siderúrgica de produtos planos afirma que o mercado está abastecido, com estoques refeitos, e esperando uma melhora das condições econômicas e políticas locais. No momento, afirma, está estável, indicando crescimento entre 2,5% e 3%.
Hoje, conforme as avaliações, o setor que apresenta maior fraqueza de demanda é o da indústria automobilística, afetado principalmente pela falta de chips. Por outro lado, os segmentos ligados ao agronegócio continuam com forte demanda — especialmente caminhões, apesar desse problema — e máquinas e implementos agrícolas.
O setor de construção civil e imobiliária ainda está bem, mas a inflação atrapalha um pouco, assim como as mais elevadas taxas de financiamento, assustando potenciais compradores de imóveis. Lançamentos com 70 a 90 metros quadrados mantêm-se firmes.
Outros fatores que podem inibir a entrada de aço estrangeiro no país são a guerra na Ucrânia e o problema da covid-19 na China. Neste momento, diz uma fonte, a China, com cadeias produtiva e logística afetadas pelo combate ao coronavírus, está privilegiando o mercado interno.
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A siderurgia chinesa é o maior exportador de produtos acabados de aço para o Brasil, com mais da metade do material plano que entra no país. A Rússia também era um fornecedor relevante.
De acordo com o Aço Brasil, no primeiro trimestre, as vendas internas caíram 19,7% e o consumo aparente, 17,7%. O impacto mais forte se verificou no mês de março. Ao mesmo tempo, as exportações, de produtos laminados e semiacabados, registraram alta de 28,3% no período.
Conforme os dados do Aço Brasil, as importações de aços planos ainda registraram aumento, de 5,3%, no primeiro trimestre, somando 544,8 mil toneladas. Já a entrada de produtos longos teve uma queda de 17,1%, para 268,9 mil toneladas de janeiro a março. No todo, a importação de aço mostrou decréscimo de 3,4% no período.
Após uma expansão de 144,2% no ano passado na entrada de aço de fora do país em relação a 2020, com total de 4,97 milhões de toneladas, as projeções da entidade dos fabricantes locais são de retração de 12%. O crescimento na importação foi impulsionado pela forte demanda interna e disrupção na cadeia de produção entre julho de 2020 e junho de 2021 por causa da covid-19.
A previsão do Aço Brasil é que o volume de aço importado fique em 4,38 milhões de toneladas — o que representa 16,3% do consumo aparente projetado no ano.
Fonte: Valor