Mais recente grande fronteira agrícola a se consolidar no Brasil, o Matopiba se prepara, nesta safra 2021/22, para um novo aumento de sua produção de grãos. Se o clima continuar favorável como está neste início de período de semeadura, será a terceira temporada consecutiva de avanços na confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia depois dos problemas climáticos que afetaram a colheita em 2018/19, também estimulada pela ampliação de investimentos em infraestrutura e em tecnologias nos últimos anos.
Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada total de grãos e fibras, puxada por soja, milho e algodão, chegará a 8,4 milhões de hectares neste ciclo, 2,6% mais que em 2020/21. A produção deverá avançar 3,8% na comparação, para 28,2 milhões de toneladas. Em relação aos totais nacionais, a área no Matopiba representará 11,8% e a colheita, 10,8%. A Bahia é a locomotiva do agro na região, e em cada um dos quatro Estados da fronteira agrícola a produção de grãos deverá superar, mais uma vez, 5 milhões de toneladas.
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Como em 2018/19 as perdas climáticas foram concentrados na Bahia e no Maranhão, é possível afirmar que há cinco temporadas o Matopiba não é vítima de problemas generalizados, embora o regime pluviométrico seja sempre um ponto de atenção. Mas neste ano as chuvas chegaram mais cedo, e os trabalhos de cultivo, com destaque para o milho verão, puderam ser antecipados em semanas e estão em curso desde o início de outubro.
“Mais de 20% da área estimada já foi plantada, quando o normal seria começarmos os trabalhos no início de novembro. E, como as chuvas vieram em bom volume, podemos dizer que as coisas estão mais fáceis neste ano”, diz Júlio Cezar Busato, conselheiro da Associação dos Irrigantes da Bahia (Aiba) que produz grãos no município de São Desidério - que tem um dos maiores valores brutos da produção (“da porteira para dentro”) do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“De fato o clima começou bem, com chuvas acima do normal em todas as regiões do Estado, e o plantio dentro da janela ideal é bom para imaginarmos uma safrinha de milho maior nesta temporada”, acrescenta o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Maranhão (Aprosoja-MA), Vilson Ambrozi, de Chapadinha. Em 2020/21, a colheita no Matopiba até poderia ter sido maior não fosse a escassez de chuvas no começo da semeadura, que atrasou os trabalhos com soja e acabou por prejudicar o milho safrinha cultivado na sequência.
Clima camarada
“Tivemos La Niña no ano passado e as chuvas chegaram muito tarde e atrasaram o plantio. O que antecipou as chuvas até agora foi o Oceano Atlântico mais quente, que permite às frentes frias avançarem com maior regularidade, diferentemente do que foi em 2020”, explica o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Rural Clima. E a tendência, segundo ele, é que o clima continue camarada nas próximas semanas.
“As condições climáticas no Matopiba têm se mostrado, em geral, favoráveis. As terras são adequadas, projetos de infraestrutura tornaram viável o avanço do escoamento da produção pelo Norte e os produtores estão investindo, com crédito rural convencional e novas alternativas de financiamento, em suas estruturas e em novas tecnologias”, diz Tadeu Vino, superintendente comercial e de marketing da Kepler Weber, uma das maiores empresas de equipamentos de armazenagem e movimentação de granéis do país.
Nesse movimento, afirma Vino, mesmo o déficit de armazenagem da região começa a ser combatido com mais vigor, embora continue maior do que o recomendável - são cerca de 13,5 milhões de toneladas de capacidade, menos da metade da colheita estimada para 2021/22. Segundo a Kepler Weber, quase dobrou o número total de obras para levantar novas unidades de beneficiamento e armazenagem de grãos no Matopiba no primeiro semestre: eram 16, ante nove em igual período de 2020. “Os produtores têm investido para agregar valor ao pós-colheita, o que pode ampliar os ganhos em até 15%”, calcula a companhia.
Um dos grandes clientes da Kepler Weber na região é a BrasilAgro, cujo foco está na aquisição, desenvolvimento, exploração e comercialização de propriedades rurais com aptidão agropecuária. No Matopiba, também embalada pela valorização dos grãos e do açúcar, a receita bruta da companhia, que também tem cana, cresceu 67% de 2019/20 para 2020/21 e alcançou R$ 520 milhões, e o horizonte continua positivo. “Na safra 2021/22, apesar do aumento de custos, as margens serão novamente positivas, iguais ou melhores que em 2020/21”, afirma André Guillaumon, CEO da BrasilAgro.
São crescentes, ainda, os investimentos na sustentabilidade da produção agrícola do Matopiba. Gigantes como a americana Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, ampliam o mapeamento de seus fornecedores diretos de grãos - no caso da múlti, 100% da área de atuação já está mapeada - e, paralelamente, assistência técnica, de gestão e financeira aos produtores rurais que desejam corrigir eventuais falhas e melhorar suas praticas.
Causa e consequência da expansão dessa fronteira que amadurece a cada ciclo, a logística de escoamento também apresenta números cada vez mais representativos. Um dos termômetros dessa tendência são os resultados que vêm sendo obtidos pela Corredor Logística e Infraestrutura (CLI), empresa controlada pela IG4 Capital, e uma das quatro participantes do Consórcio Tegram, responsável pelas operações de grãos no porto de Itaqui, no Maranhão.
Com novos clientes e ampliação de contratos, de fevereiro a agosto deste ano a movimentação de soja no lote 3 do Tegram, administrado pela CLI, superou 2,2 milhões de toneladas, ante 1,3 milhão em igual período de 2020. Com o milho escoado neste segundo semestre, o volume total tende a atingir ao menos 3 milhões de toneladas em 2021.
Fonte: Valor