A Petrobras avalia que os fatores que causaram o primeiro prejuízo da empresa em mais de 13 anos no segundo trimestre não devem se repetir na mesma intensidade nos próximos períodos, e a empresa crê numa reversão dos resultados negativos.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou nesta segunda-feira ter "extrema confiança" de que a estatal alcançará resultados prósperos nos próximos trimestres.
Na sexta-feira, a Petrobras divulgou um prejuízo líquido de 1,346 bilhão de reais no segundo trimestre, por conta da desvalorização do real e da defasagem de preços dos derivados no mercado interno. Uma queda na produção e maiores custos exploratórios também pesaram nos resultados.
"A conjunção de fatores (câmbio, poços secos, importação) não deve se repetir com a mesma magnitude nos próximos trimestres", disse a presidente da estatal a analistas e jornalistas nesta segunda-feira.
Após a teleconferência com analistas e a coletiva de imprensa, as ações da estatal reverteram queda e passaram a subir. Mas as ações preferenciais da empresa fecharam perto da estabilidade, com leve queda de 0,1 por cento, depois de terem caído a 5,6 por cento logo após a abertura da sessão.
O analista da Ativa Corretora, Ricardo Corrêa, disse que o sentimento do mercado é que as perdas da estatal já chegaram a um limite. E, depois do que ele chamou de "faxina contábil", agora a empresa está pronta para a nova gestão.
"Não acredito em grande melhoria, mas em uma acomodação", disse Corrêa, destacando que alguns eventos negativos ficaram para trás, como a ocorrência de gastos extraordinários com poços secos, aumentos de custos com compras de gás e mesmo a baixa contábil da refinaria de Pasadena, nos EUA.
Em relatório, os analistas do BTG Pactual disseram ainda que os reajustes da gasolina e do diesel anunciados em junho e julho representarão um aumento de 5 por cento na receita do terceiro trimestre.
Para o período entre julho e setembro de 2012, os executivos da estatal disseram também que esperam uma redução na necessidade da importação de combustíveis em razão ao aumento da produção local de diesel e gasolina --produtos importados, mais caros, foram citados como alguns dos fatores que afetaram os resultados da companhia.
CÂMBIO
Graça Foster, como costuma ser chamada a presidente da Petrobras, também disse esperar que o câmbio não pressionará da mesma forma o resultado futuro da Petrobras.
Ela explicou que a desvalorização do real frente ao dólar foi o fator que mais contribuiu para o mau resultado da estatal no 2o trimestre.
"O câmbio impactou mais no resultado do que a falta de paridade dos preços dos derivados", disse Graça Foster.
A propósito, a presidente da Petrobras afirmou que continua trabalhando junto ao governo para diminuir a distância entre os preços externos dos produtos e os praticados no país.
"Conversamos sim sobre o reajustamento (no preço da gasolina) na busca pela convergência absoluta e 100 por cento de paridade. Tenho que acreditar que vai ter sempre (aumento para ter paridade)", disse ela.
Graça Foster lembrou que os ganhos com os aumentos no preços da gasolina e do diesel, ocorridos nos meses de junho e julho, ainda não foram totalmente auferidos pela empresa e ajudarão nos próximos desempenhos da estatal.
O diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, disse que, com a economia em ritmo mais morno, é possível que a pressão por mais importação de combustíveis, um dos principais gargalos da Petrobras, arrefeça.
"Estamos num esforço para reduzir importação. Trabalhamos para reduzir as compras com novas unidades de conversão e reforma. Esperamos menores números", declarou ele sem revelar a nova projeção.
No primeiro semestre, a importação de diesel e gasolina somou 6 bilhões de dólares, sendo cerca de 3 bilhões em cada trimestre do ano.
POÇOS SECOS
A Petrobras teve um grande número atípico de poços secos no segundo trimestre, o que também afetou os resultados. Essas ocorrências têm relação, entre outras coisas, com uma maior exploração em novas fronteiras, afirmou José Formigli, diretor de Exploração e Produção da companhia.
No segundo trimestre, a Petrobras teve um custo de 2,7 bilhões de reais com a baixa de 41 poços que foram considerados secos (21), subcomerciais (8), cancelados (9), abandonados (2) e acidente mecânico (1).
A concentração de tantas baixas foi considerada atípica pela empresa, que não espera que o fenômeno se repita no mesmo nível nos próximos resultados. "Isso está associado à conclusão dos planos de avaliação de descoberta. Quando há indício de petróleo, não é dada a baixa imediatamente. Vários se viabilizam economicamente e outros não", disse Formigli.
"Agora, no 2o trimestre houve uma concentração atípica desse poços do período passado. A Petrobras trabalha com mais sondas nas novas fronteiras e por isso, ainda que se tenha a taxa de sucesso de 59 por cento, os poços de nova fronteiras são mais caros e mais profundos e por isso o endividamento é maior", disse o diretor da estatal.
GÁS
No 2o trimestre houve ainda um despacho de usinas térmicas mais intenso no país, o que obrigou a estatal a ampliar a importação de GNL (Gás Natural Liquefeito). Isso também não deverá se repetir no 3o trimestre, segundo a presidente da Petrobras.
Por conta do despacho, a empresa aumentou as compras de GNL para 14 cargas entre abril e junho ante 3 cargas adquiridas no mesmo período de 2011. "Aumentamos o volume num momento de preço mais elevado. Isso fez com que os custos subissem", afirmou o diretor da área de gás e energia da empresa, José Alcides Santoro.
DIVIDENDOS
Já o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou durante a teleconferência que a empresa manterá sua política de dividendos para quem detém as ações preferenciais após o prejuízo no segundo trimestre, mas o pagamento a quem possui ações ordinárias poderá ser afetado e será discutido no Conselho de Administração da estatal.
Fonte: Reuters
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