Especialistas do setor de óleo e gás esperam poucas mudanças no plano de negócios e gestão da Petrobras 2019-2023, com previsão de investimentos de US$ 84,1 bilhões, pela gestão do presidente Roberto Castello Branco. Na avaliação deles, as principais alterações devem ocorrer no programa de desinvestimentos, que prevê levantar US$ 26,9 bilhões no período, a partir de uma reestruturação mais ousada do plano de venda de ativos, principalmente em refino.
O próprio Castello Branco já indicou que deve fazer apenas ajustes pontuais no plano de negócios, mas sinalizou que ativos que não fazem parte da competência principal da companhia - exploração e produção (E&P) - serão avaliados para possível venda. "Em princípio, ele [o plano] é muito bom. Depois vamos ter oportunidade de olhar com maior profundidade", disse o executivo, durante a cerimônia de sua posse no cargo, há duas semanas. "Tais ativos [campos terrestres e em águas rasas, ativos de logística e refino e abastecimento] devem ser objeto de análise para inclusão no programa de gestão de portfólio da companhia com vistas ao desinvestimento."
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Para Alexandre Calmon, especialista em petróleo e gás natural e sócio do escritório Tauil & Chequer, a principal medida que a Petrobras deverá implementar a partir de agora é uma reestruturação do plano de venda de ativos, com destaque para o refino.
Dois fatores contribuem para isso. O primeiro foi a recomendação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que a Petrobras venda a totalidade das quatro refinarias que integram hoje o seu plano de desinvestimentos (sendo duas no Nordeste e duas no Sul). O desenho inicial da Petrobras previa a venda de 60% de participação nessas unidades. O Cade recomendou ainda que a estatal venda uma refinaria no Sudeste.
O segundo fator é que, caso a Petrobras decida pela venda integral dessas refinarias, a operação de desinvestimento será simplificada e, em tese, livre de impedimento judicial. Na hipótese inicial, a Petrobras terá que criar uma subsidiária responsável pelas participações nas refinarias que serão vendidas. Hoje, porém, há uma liminar em vigor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski que impede a venda de estatais e subsidiárias sem a aprovação prévia do Legislativo. Mas, se a Petrobras vender a participação de 100% na refinaria, não haverá necessidade de criação de uma subsidiária e, com isso, não haverá efeito da liminar do STF.
Segundo o especialista, outra mensagem nessa linha foi a indicação de Anelise Lara para a diretoria de Refino e Gás Natural. Anelise respondia anteriormente pela gerência executiva de Aquisições e Desinvestimentos da companhia.
Paulo Valois, especialista em petróleo e gás do escritório Schmidt Valois, também vê espaço para a Petrobras aperfeiçoar a sistemática de desinvestimentos, para tornar mais rápido o processo de venda de ativos. "A Petrobras tem que ter um modelo mais célere de venda de ativos", afirmou, defendendo que o processo leve ao todo oito meses, desde o anúncio ao mercado até o fechamento da operação.
Segundo ele, por exemplo, o "rebid", ou seja, quando há uma segunda rodada de ofertas por potenciais compradores para determinado ativo, toma muito tempo e nem sempre traz o benefício esperado pela petroleira.
Com relação ao plano de negócios, Calmon, do Tauil & Chequer, destacou como fator positivo o aumento de investimentos em exploração, o que trará efeito de longo prazo para a indústria petrolífera. "Antes, a Petrobras priorizou o 'P' [de produção, na sigla E&P]. Agora, ela volta a ter investimentos em exploração", afirmou o especialista.
Dos US$ 84,1 bilhões de investimentos previstos no plano de negócios, US$ 68,8 bilhões serão para E&P. Desses, 16% (US$ 11 bilhões) estão previstos especificamente para exploração. O valor é 66% superior ao destinado para exploração no plano anterior (2018-2022), de US$ 6,6 bilhões.
De forma geral, Valois também elogiou o plano. "Ele é mais realista do que os anteriores. Espero que a Petrobras se desalavanque mais rapidamente". A nova meta de endividamento da estatal é de 1,5 vez a dívida líquida sobre o Ebitda em 2020, ante a meta de 2,5 vezes em 2018, contida no plano anterior.
Para Ludmilla Corkey, advogada especialista em Energia do escritório SV Law, as frentes de atuação definidas no plano da Petrobras levarão à melhoria financeira da companhia e ao desenvolvimento do setor. "Ao que aparenta, o plano busca crescimento e um crescimento que busca olhar para as novas demandas globais, esperamos, assim, que não sofra muitas alterações pela nova gestão", disse ela.
Na mesma linha, Bruno Gandolfo, especialista em Petróleo e Gás do Stocche Forbes Advogados, enxerga continuidade no plano de negócios, mas destaca um olhar da companhia para as fontes renováveis. "O plano apresenta uma tendência já seguida por outras petroleiras internacionais para investimento, ainda que tímido, em fontes renováveis de geração de energia, como por exemplo a eólica, tanto onshore [terrestre] quanto offshore [marítima], e fotovoltaica, com o intuito, majoritariamente, de cumprir com a agenda estabelecida pelo Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário", disse.
A Petrobras prevê US$ 400 milhões para energia eólica, solar e de biocombustíveis até 2023.
Na cadeia fornecedora, a expectativa também é positiva. "As notícias são boas, porque a quantidade de investimentos que serão feitos é muito grande. O plano é bastante satisfatório, ainda mais se você imaginar que estamos saindo de uma crise dos últimos quatro, cinco anos, em que as vendas de bens de capital para este setor caíram muito. Seria uma retomada", afirmou José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Fonte: Valor