Apesar da recuperação dos preços do petróleo no fim de 2020, os resultados financeiros da Petrobras no quarto trimestre devem ser impactados negativamente pela queda da produção de óleo e gás em função da concentração das paradas para manutenção de plataformas no período.
A expectativa é que a estatal divulgue nesta quarta-feira, após o fechamento do mercado, um balanço anual contrastante: de um lado, recordes operacionais que mostram a força do pré-sal e a sua competitividade no mercado global; de outro, um prejuízo praticamente irreversível, que reflete a perda de valor dos ativos da empresa num cenário de desvalorização da commodity. A previsão é que seja o primeiro ano que a estatal feche no vermelho desde 2017.
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Segundo levantamento do Valor com base na média das projeções de quatro bancos de investimentos (Credit Suisse, Itaú BBA, Goldman Sachs e XP), a petroleira deve fechar o quarto trimestre com uma receita líquida de R$ 72,17 bilhões, o que representa uma queda de 11,7% ante igual período de 2019. Em relação ao terceiro trimestre de 2020, por outro lado, a previsão é de alta de 2%.
Já o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve totalizar algo em torno de R$ 32,2 bilhões, o que significa uma retração de 11,8% ante o quarto trimestre de 2019 e de 3,7% em relação ao terceiro trimestre de 2020.
Embora os preços do barril do tipo Brent, referência global, tenha se recuperado e ficado na média em US$ 45 entre outubro e dezembro – ou seja, 4,6% maior do que a média do trimestre anterior –, o resultado da Petrobras foi pressionado para baixo pelo desempenho operacional.
O Itaú BBA destaca que, diante da queda de produção de óleo e gás, a área de exploração e produção reporte números mais fracos no quarto trimestre, enquanto a área de refino deve ser puxada para cima por fortes vendas de diesel e maiores volumes de querosene de aviação e óleo combustível, em relação ao trimestre anterior.
A produção de óleo e gás da companhia caiu 11,3% no quarto trimestre, na comparação anual, e 9,1% em relação ao terceiro trimestre, para 2,682 milhões de barris diários de óleo equivalente (BOE/dia).
Devido aos impactos da pandemia de covid-19 sobre as atividades a bordo, a estatal acabou adiando, para o fim de 2020, as atividades de manutenção previstas inicialmente para o primeiro semestre. As paradas afetaram os principais campos do Brasil, ambos localizados no pré-sal da Bacia de Santos: Tupi e Búzios.
No ano, porém, os números foram recordes: um crescimento de 2,4% na produção, para 2,836 milhões de BOE/dia, e 33% nas exportações de petróleo, para 713 mil barris/dia.
“Diferentemente do que aconteceu em outros países, a Petrobras não foi obrigada a reduzir sua produção de petróleo durante a crise da covid-19”, destaca o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), vinculado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), em relatório.
“A menor formação de estoques, a recuperação de market share no mercado interno e o crescimento nas exportações de petróleo cru e óleo combustível deverão, portanto, fazer com que a Petrobras alcance um resultado [financeiro] negativo, em decorrência da pandemia, mas que foi mitigado pelas oportunidades de mercado encontradas pela companhia”, afirma.
Apesar do aumento de produção em 2020, o prejuízo no ano é praticamente irreversível. Até setembro, a companhia acumulava uma perda de R$ 52,782 bilhões, impactada, sobretudo, pela baixa contábil de R$ 65,3 bilhões anunciada no primeiro trimestre, devido à perda no valor de ativos e investimentos (“impairments”).
Para o quarto trimestre, os bancos consultados pelo Valor projetam, na média, um lucro líquido de R$ 6,2 bilhões – as projeções, em geral, contudo, não consideram os efeitos não recorrentes sobre o balanço. A previsão de lucro é geralmente um exercício de difícil projeção devido a isso, o que torna os indicadores como Ebitda, receitas e endividamento, por exemplo, mais importantes para o mercado financeiro.
A expectativa, portanto, é que a estatal registre um prejuízo anual em 2020, interrompendo dois anos seguidos de lucro. Apesar disso, uma distribuição de dividendos não pode ser descartada. Isso porque a estatal aprovou, no ano passado, uma revisão na política de remuneração aos acionistas que abre uma brecha para pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) mesmo em exercícios fiscais em que feche no vermelho.
Em outubro, na ocasião da divulgação dos dados do terceiro trimestre, a diretora financeira da companhia, Andrea de Almeida, disse que a empresa ainda monitorava as condições do mercado, antes de decidir sobre a remuneração dos investidores, mas antecipou que manterá o foco no corte da dívida e trabalhará, se possível, para antecipar a meta de redução do endividamento.
Fonte: Valor