Depois de quase um ano fora do mercado de capitais internacional, a Petrobras conseguiu levantar US$ 6,75 bilhões com a emissão de bônus em duas tranches, uma de cinco e outra de dez anos. A expectativa inicial era captar cerca de US$ 5 bilhões com o objetivo de financiar a recompra de papéis em circulação no mercado, numa estratégia de troca de dívida curta por longa. A demanda total atingiu US$ 20,5 bilhões, dos quais US$ 15 bilhões para o vencimento de cinco anos.
Da emissão total, US$ 5 bilhões foram captados com notas que vencem em 2021 e US$ 1,75 bilhão para 2026. As taxas, que começaram em 9% e 9,25% ao ano, respectivamente, fecharam em 8,625% e 9%. A forte demanda e a consequente redução do custo mostram que há apetite do investidor por ativos brasileiros e mesmo por Petrobras, altamente alavancada.
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"Os investidores reconheceram que a transação fazia sentido para a companhia mesmo pagando uma taxa mais alta dos que nas emissões originais, já que os recursos serão usados para rolar dívidas mais curtas", afirma uma fonte que acompanhou a operação. A demanda por papéis de cinco e dez anos, acrescenta esse interlocutor, mostra ainda a confiança do investidor no plano de negócio da empresa. Segundo outra fonte próxima à operação, levando em conta que a Petrobras deixou de ter o selo de "investment grade", a taxa é a melhor que ela poderia pagar.
Na avaliação da Moody's, que atribuiu rating "B3" à emissão, a operação deve melhorar o perfil da dívida da Petrobras, contudo a companhia ainda terá de lidar com vencimentos de US$ 9 bilhões neste ano e mais de US$ 11 bilhões em 2017, cerca de metade nas mãos de detentores de bônus no mercado internacional. "Levando-se em conta o volume relevante de vencimentos e um fluxo de caixa negativo, a Petrobras terá de seguir com sua estratégia de venda de ativos até 2017", destacou. Ainda segundo a agência, os indicadores de liquidez da seguem fracos.
O plano é usar US$ 6 bilhões para financiar a recompra dos títulos que vencem em 2017, 2018 e 2019, cujo estoque alcança cerca de US$ 17 bilhões, mas o total está sujeito à adesão do investidor. Os vencimentos em bônus neste ano, segundo uma das fontes, já estão equacionados. No total, a dívida da Petrobras no mercado externo de títulos é de cerca de US$ 50 bilhões, cerca de um terço do saldo de emissões privadas brasileiras.
Os bônus que vencem em 2018 e pagam cupom de 8,375% ao ano são os únicos que receberam uma oferta de recompra pela totalidade em circulação, que soma US$ 576,78 milhões. Segundo uma outra fonte que acompanhou a operação, esse é o título que carrega o pacote de "covenants" (cláusulas de contratos de dívida) e garantias mais restritivo. "Se detentores representantes de mais de 50% do estoque desses papéis aderirem, a empresa tem o benefício de alterar esses covenants", diz.
Na avaliação de um investidor que preferiu não ser identificado, essa é uma oportunidade de a empresa retirar de circulação títulos que pagam cupom alto e tem cláusulas restritivas. Do ponto do vista do investidor, diz ele, a oferta de recompra é interessante já que proporciona a oportunidade de alongar o perfil dos papéis da estatal em portfólio com um prêmio.
Para Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage, em Miami, o forte apetite pelos papéis da Petrobras é reflexo do otimismo com o país, com as mudanças políticas, já que a empresa tem o suporte do governo, mas também deve-se ao prêmio oferecido na nova emissão em relação às taxas dos papéis no mercado secundário. "Diria que operação foi bem-sucedida, principalmente levando em conta o balanço ruim da empresa", afirma.
Os bônus no mercado com vencimento em 2021, ou seja, em cinco anos, que foram emitidos com cupom de 5,375%, abriram os negócios ontem pagando uma taxa de 8,165%. No fim da tarde, o "yield" alcançou 8,362%. Já as novas notas para 2021 saíram a 8,625%, o equivalente a um prêmio de 0,26 ponto percentual.
Já a taxa da emissão para 2024, a mais próxima do vencimento de 2026, que abriu os negócios ontem a 8,514%, no fim do dia chegou a 8,707%, 0,30 ponto abaixo das notas de dez anos a serem emitidas. Vale lembrar que os bônus para 2024, emitidos com cupom de 6,250%, chegaram a pagar 12,6% em meados de fevereiro, na mínima do ano, o que mostra que os papéis de Petrobras também foram beneficiados pelo rali recente dos ativos de risco.
Fontes do mercado já vinham levantando a possibilidade de a Petrobras lançar uma emissão casada com uma oferta de recompra nas últimas semanas. Vale lembrar que os investidores estrangeiros, mesmo os dedicados à região, vêm com uma participação em Brasil bem abaixo da média nos portfólios e em busca de oportunidades. Com a queda no volume de emissões do país, está faltando papel. As últimas emissões corporativas ocorreram em junho de 2015, uma da própria Petrobras de US$ 2,5 bilhões em bônus de cem anos e outra da Oi, de € 600 milhões.
Lideraram a operação os bancos BB Securities, J.P. Morgan, Merrill Lynch, Pierce, Fenner & Smith Incorporated e Santander.
Fonte: Valor Econômico/Alessandra Bellotto e Aline Oyamada | De São Paulo