Parente, presidente da Petrobras: “Temos condições de mercado extremamente favoráveis, com múltiplos atraentes”
A abertura de capital da BR Distribuidora, cogitada inicialmente pela Petrobras em 2015, voltou a ser uma possibilidade. A diretoria da companhia submeteu ontem, ao conselho de administração, a proposta de fazer a oferta pública inicial (IPO) da distribuidora de combustíveis.
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Foram as condições atuais favoráveis do mercado de capitais que incentivaram a diretoria a optar por esse caminho, disse ontem Pedro Parente, presidente da companhia, depois de participar do 19º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, em São Paulo.
"Já vimos um grande número de IPOs neste ano e achamos que temos condições de mercado extremamente favoráveis, com múltiplos atraentes", afirmou o executivo. Segundo ele, a decisão pela abertura de capital da BR, que ainda precisa passar pelo conselho de administração, não tem relação com o processo anterior de venda da empresa, que foi paralisado por uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), e sim com a alternativa que mais vai gerar valor para a companhia.
Em 2015, quando as condições do mercado de capitais eram menos favoráveis e o mercado passava por uma "seca" de IPOs, o J.P. Morgan chegou a calcular que a oferta secundária de 49% das ações da distribuidora poderia levantar US$ 5 bilhões para a Petrobras.
"Nos parece que, dadas as condições de mercado e o histórico recente de IPOs, essa pode ser uma alternativa aprofundada", afirmou ontem Parente.
De acordo com uma fonte a par do assunto, porém, a opção da companhia de avançar com a abertura de capital se deu também porque a operação enfrenta menos resistência interna na estatal. A proposta da companhia de vender 51% do capital votante da BR para um sócio, a partir de um modelo de controle compartilhado, nunca foi uma unanimidade dentro do corpo técnico da petroleira.
A mesma fonte conta que o quadro técnico da estatal vinha apresentando pareceres contrários à venda do controle. As equipes de aquisição e desinvestimento e finanças, subordinadas ao diretor financeiro e de relações com investidores, Ivan Monteiro, defendiam a venda do controle da distribuidora, mas a opção não era consenso entre membros das áreas técnicas de estratégia e refino, por exemplo.
Frente à venda do controle, a opção pelo IPO é melhor vista também pelos trabalhadores. O entendimento dos funcionários era que a venda do controle poderia tirar a estabilidade do emprego.
Ainda não há uma definição sobre a manutenção ou não do controle da companhia pela Petrobras. Em comunicado, a estatal informou que o objetivo da oferta secundária de ações da BR será a "dispersão acionária" da companhia, sem, contudo, deixar claro se isso significará sair do controle.
Frente à venda do controle, a opção pelo IPO é melhor vista também pelos trabalhadores
Segundo Parente, todas as decisões dependem ainda do aval do conselho de administração, que deve se reunir no início de julho para apreciar a proposta. "Não temos discussão nesse sentido ainda, não podemos dar uma resposta objetiva porque temos que discutir no conselho", disse o executivo, se referindo à questão do controle societário.
O Valor apurou que ainda não há bancos contratados para a operação, também devido à necessidade de aprovação pelo conselho.
O plano anterior da Petrobras era a venda do controle da BR. Agora, com a abertura de capital, a empresa deve ser listada no Novo Mercado da B3 (antiga BM&FBovespa), segmento de maior nível de governança da bolsa.
A petroleira interrompeu o processo de venda do controle da BR depois que a operação foi suspensa por força de uma liminar concedida pela 3ª Vara da Justiça Federal de Sergipe desde dezembro. A decisão judicial saiu às vésperas da data para apresentação das propostas não vinculantes pelos 51% da distribuidora. Seria a partir do recebimento dessas ofertas que a estatal definiria quem teria potencial de negociação e teria acesso ao banco de dados da BR para um processo de diligência nos números, contratos e processos da empresa.
Posteriormente, o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que a Petrobras deveria reiniciar o processo de venda da distribuidora, dentro da nova sistemática.
Na defesa do processo na Justiça de Sergipe, a Petrobras informou que mantinha contato com 25 interessados até 7 de novembro - o Citigroup enviou a oferta de venda da BR a 105 potenciais interessados. Algumas empresas, como a Itaúsa e Lojas Americanas, chegaram a manifestar publicamente o interesse pela BR. Segundo uma fonte ouvida pelo Valor, Brookfield, Vital, Reliance, GP, Total e a Advent eram outras empresas que monitoravam a operação.
Além dos processos judicias, outro obstáculo para a venda da BR tem sido a questão da dívida bilionária que a Eletrobras tem com a distribuidora de combustíveis, devido à compra de óleo para geração de energia. A maior parte da dívida se concentra na Amazonas Energia.
"Hoje a BR só vende combustível em Manaus com pagamento antecipado. Sob o ponto de vista da companhia, esse é um problema que não aumenta de tamanho, o que já é extremamente positivo", afirmou Parente.
Quanto ao saldo devedor, a Petrobras segue negociando uma repactuação da dívida da Eletrobras com a distribuidora de combustíveis e também com a petroleira. "É muito prematuro falar sobre essas coisas porque, como eu disse, foi uma decisão que tomamos hoje [ontem]. Certamente, questões como essa, que são relevantes, deverão sair ao longo do processo", disse o executivo.
A venda da BR é tida como um dos principais trunfos do plano de desinvestimentos da Petrobras, que pretende se desfazer de US$ 21 bilhões em ativos em 2017 e 2018. (Colaborou Carolina Mandl)
Fonte: Valor