Os contratos futuros de petróleo desabaram mais uma vez e encerraram a sessão próximos de seu nível mais baixo desde o início dos anos 2000. A perspectiva sombria para a demanda pela commodity com a propagação da pandemia de coronavírus aliada à guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia têm feito os investidores se perguntarem se há um fim para a queda nos preços.
Na Bolsa de Mercadorias de Nova York (Nymex), os contratos futuros mais ativos do WTI, para abril, fecharam o dia em queda de 24,41%, aos US$ 20,37 o barril. Na ICE, em Londres, os preços do Brent para maio perderam 13,40%, aos US$ 24,88 o barril. Foi o menor fechamento para o WTI desde 2002 e para o Brent desde 2003.
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A mais recente baixa moderna foi de cerca de US$ 18 por barril para o petróleo WTI, com base na inflação ajustada, e "poderíamos testar esses níveis agora, contanto que nem a Rússia nem a Arábia Saudita indiquem uma trégua", disse Michael Lynch, presidente da Strategic Energy & Economic Research. Ele se refere à situação do mercado de petróleo como a pior que já viu.
"O problema é que as empresas, angustiadas, podem sentir a necessidade de aumentar a produção e vender a qualquer preço, o que criará dor em todo o setor, fato que é diferente de tudo o que se viu antes", disse ele ao MarketWatch.
As negociações do Brent em torno de US$ 25 "confirmam que o mercado está começando a apreciar o desequilíbrio bruto entre oferta e demanda", disse Louise Dickson, analista da Rystad Energy, em comentários enviados por e-mail.
"A cada dia, parece haver mais um alçapão abaixo dos preços do petróleo, e esperamos ver os preços continuarem caindo até que um equilíbrio de custos seja alcançado e a produção seja interrompida", afirmou.
"O impensável está prestes a acontecer: à medida que a pandemia se agrava, mais países provavelmente imporão o tipo de medidas de bloqueio e distanciamento social usadas na China e na Itália", afirmaram os analistas de commodities do Citi, em relatório enviado a clientes. Assim, segundo eles, o crescimento da demanda por petróleo em 2020 pode acabar diminuindo em 2,8 milhões de barris por dia, ante uma alta de 1,25 milhão de barris por dia esperada no fim de 2019.
Já o analista de commodities da Capital Economics, Kieran Clancy, destaca que os preços das commodities ainda podem atingir novas mínimas por três razões. “Primeiro, porque a “financeirização” dos mercados de commodities aumentou a influência de compras e vendas especulativas. Como resultado, os preços das commodities tendem a superar e abater o que é teoricamente justificado pelos fundamentos, ou seja, demanda e oferta físicas, pelo menos no curto prazo”.
Em segundo lugar, de acordo com o economista da Capital, alguns produtores de commodities podem enfrentar um período de preços baixos sem ter que reduzir a produção. “Muitos produtores agora usam o mercado futuro para proteger sua exposição a uma queda nos preços. Outros, principalmente os grandes produtores estatais da Rússia e da China, também poderão, por um tempo, armazenar a produção para vender posteriormente, assim que os preços começarem a se recuperar”, observou.
“E, finalmente, a ruptura econômica relacionada ao vírus ainda está no auge em outras grandes economias. Enquanto as medidas de contenção permanecerem em vigor em grandes centros da economia global, o apoio político fará pouco para aumentar a atividade econômica”, disse Kieran. “Serão necessárias evidências claras de que a disseminação global do vírus está diminuindo antes que uma recuperação ampla dos preços das commodities possa começar”, concluiu.
Fonte: Valor