Os preços do petróleo se afastaram das mínimas desta quinta-feira e passaram a operar em alta, estendendo a recuperação das duas últimas sessões.
Por volta das 15h30, os contratos futuros do West Texas Intermediate (WTI) para março subiam 0,31%, a US$ 51,34 o barril na Bolsa de Mercadorias de Nova York (Nymex), enquanto os preços do Brent para abril avançavam 0,52%, a US$ 56,08 o barril na ICE, em Londres.
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Mesmo em meio ao surto de coronavírus e seus reflexos na demanda chinesa e incertezas relacionadas aos cortes de produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), os contratos da commodity têm mostrado resiliência ao longo da semana.
"Os preços do petróleo estão se mantendo firmes, apesar da onda de aversão ao risco decorrente de um aumento nos casos de coronavírus", escreveu o analista-sênior de mercado da corretora Oanda, Edward Moya.
A percepção é de que, apesar de uma reunião técnica na semana passada ter acabado sem consenso a respeito de novos cortes de produção como resposta aos efeitos da epidemia, a Opep+ poderá de fato decidir por uma redução.
"Os russos sinalizaram que todos estão a bordo da Opep+, para cortes mais profundos na produção. A decisão final vem do governo e isso pode significar que estejamos apenas esperando o presidente Putin garantir algumas concessões adicionais não públicas dos sauditas", completou Moya.
Após a referência americana ter perdido o patamar dos US$ 50 o barril e fechado nas mínimas de um ano na segunda-feira, os investidores acreditam que os preços encontraram um piso.
"A ação dos preços do petróleo possivelmente sugere que há 'um piso firme' em vigor. Desde que o coronavírus não mostre fortes sinais de que a propagação esteja se intensificando, o petróleo WTI pode voltar a testar patamares mais altos", escreveu Moya.
No início do dia, os contratos de Brent e WTI operavam em queda com o retorno dos temores sobre o coronavírus, depois que uma mudança na metodologia de diagnóstico do coronavírus resultou no relato de quase 15 mil novos casos de Covid-19 e mais 254 mortes em um dia.
AIE projeta desaceleração da demanda
Como consequência dos efeitos econômicos da epidemia, a Agência Internacional de Energia (AIE) informou em seu relatório mensal, divulgado mais cedo, a redução em sua perspectiva de crescimento da demanda pela commodity para 2020 em 365 mil barris barris por dia, para 825 mil barris por dia, menor nível desde 2011, e um corte de 30% em relação à previsão anterior, feita em janeiro.
A agência também alertou para uma queda geral da procura global por petróleo neste trimestre, de 435 mil barris por dia, o que a AIE diz ser a primeira queda trimestral em mais de 10 anos.
O corte das previsões de demanda da AIE foi significativamente maior do que o anunciado na véspera pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que reduziu suas estimativas em 230 mil barris por dia.
"As consequências [do vírus] para a demanda global de petróleo serão significativas", afirmou a AIE no seu relatório.
A AIE disse ainda que "já existe uma forte desaceleração no consumo de petróleo e na economia, em termos gerais, na China".
A organização sediada em Paris disse que a China representou mais de três quartos do crescimento da procura global por petróleo em 2019, e a demanda pela commodity mais do que duplicou desde a epidemia do Sars, em 2003.
"Há poucas dúvidas de que o vírus terá um impacto maior na economia e na demanda do que o Sars", afirmou a agência.
A oferta global de petróleo também caiu. No relatório, a AIE revela uma queda de 800 mil barris por dia, cerca de 710 mil referentes à produção dos países da Opep.
Fonte: Valor