As siderúrgicas brasileiras de aço plano estão tendo dificuldade de repassar o aumento de custos para os seus clientes, em meio a um cenário de queda de demanda e excesso de capacidade ociosa no setor.
Com o preço em alta do minério de ferro e do carvão, insumos usados na fabricação do aço, a margem de lucro de empresas como Usiminas e CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), as principais no segmento, está cada vez menor.
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Especulações sobre um iminente aumento de preços --que variam de 5% a 7%-- turbinaram as combalidas ações das duas companhias nesta semana, depois de terem amargado fortes quedas no primeiro semestre.
A falta de confirmação do ajuste por parte das empresas e o agravamento da crise externa, que reduz o consumo global de aço, levaram, no entanto, os papéis de novo para o campo negativo.
Ontem, as ações preferenciais (que não têm direito a voto) da Usiminas caíram 5,93%, e as ordinárias (com direito a voto) perderam 8,67% na Bolsa. As ações da CSN recuaram 7,56%.
Em uma queda de braço com os clientes --que mais se assemelha a um jogo de truco, segundo um analista do mercado--, as empresas tiveram que recuar do plano de fazer o reajuste em junho.
Apesar de vendas recordes de veículos, a produção de carros no país caiu 9,4% no primeiro semestre. O aço plano é usado, principalmente, em veículos (7,9% do seu preço) e em produtos da chamado "linha branca" (geladeiras e fogões).
EXPECTATIVA
Agora, diante de um câmbio mais favorável à blindagem das importações, as siderúrgicas voltaram a conversar com clientes, segundo analistas. Oficialmente, as empresas não confirmam.
A expectativa do mercado é que, a qualquer momento, os preços do aço voltem a subir. "O preço do aço ficou parado por muito tempo e os custos subiram. A Usiminas teve prejuízo no primeiro trimestre e no segundo não será diferente", disse à Folha o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi.
Para ele, a tendência é que as siderúrgicas esperem até o fim do mês para dar o aumento. "As siderúrgicas estão pensando: 'Se eu fizer agora, corro o risco de que entre aço importado; então vou esperar o final do mês'. Estão jogando truco com os clientes", afirmou Galdi.
Em janeiro do próximo ano, com a mudança na Lei dos Portos, as importações ficarão mais caras.
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, não vê impacto na inflação, mas acha que não é o melhor momento para aumento de preço.
"À medida que você tem uma economia fraca e a demanda razoavelmente fraca, eu acho que, como tem a alternativa de importação, apesar do dólar um pouco mais caro, não é um bom momento", disse Freitas, ex-diretor do Banco Central.
O economista vê mais chances de o governo prorrogar a redução do IPI para automóveis, que tem previsão de vigorar até agosto.
Ele também não vê risco para as importações com novas regras nos portos. "Eles podem importar e estocar. Não precisa usar agora."
Fonte: Folha
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