As turbulências políticas em países árabes do Oriente Médio e do norte da África, a disputa trabalhista nos portos da Argentina e as adversidades climáticas nos EUA impulsionaram as cotações de soja, milho e trigo a novas máximas em 30 meses ontem na bolsa de Chicago. Em torno desse patamar já há alguns meses, os preços desses produtos básicos para a produção de alimentos e rações estão entre os que mais pressionam os índices inflacionários globais e, por serem referenciados em bolsas importantes ao redor do mundo, estão no alvo dos que defendem medidas antiespeculativas capazes de reduzir sua volatilidade nos mercados.
De acordo com traders americanos, a tensão política em países como o Egito está levando grandes consumidores de alimentos como a China a avaliar a ampliação de seus estoques, ao passo que a Argentina, grande exportadora das três commodities, preocupa mesmo com a retomada das operações em portos exportadores, ainda em ritmo lento. A cereja do bolo altista de ontem, contudo, foi mesmo a forte queda das temperaturas em regiões produtoras de trigo nas Grandes Planícies americanas, outra ameaça a já afetada oferta global do cereal.
Daí porque o trigo, dos três grãos, ter sido o que mais subiu ontem em Chicago. Os contratos futuros com vencimento em maio - que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez - encerraram o pregão a US$ 8,94 por bushel, em alta de 3,2% em relação à véspera. No mercado de milho, a valorização da segunda posição (maio), que fechou a US$ 6,7975 por bushel, foi de 0,48%, ao passo que na soja a segunda posição (maio) subiu 0,41% e atingiu US$ 14,54 por bushel.
Com as novas altas, cálculos do Valor Data mostram que a segunda posição do milho passou a acumular uma variação positiva de 80,66% nos últimos 12 meses. No mesmo período, os papéis do trigo acumulam valorização de 78,27% e os da soja, 55,26%. Ainda segundo o Valor, são patamares bem próximos às máximas históricas de meados de 2008. No caso do trigo, o valor de ontem é o maior desde agosto daquele ano; no caso de soja e milho, desde julho de 2008.
É fato que esses grãos não são os únicos responsáveis pela galopante inflação dos alimentos que preocupa a FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, ou que motiva a cruzada do presidente da França, Nicolas Sarkozy - que em 2011 ocupa a presidência do G20 -, contra os movimentos especulativos nos mercados de commodities. Mas eles são os mais intercambiados entre exportadores e importadores e aqueles que têm nas bolsas vitrines que os mantêm sempre em destaque.
E é sobre as bolsas que o comissário encarregado de regulação de mercados da União Europeia, Michel Barnier, quer agir. Segundo ele, a UE deve, sim, tornar mais rígida a regulação dos mercados de derivativos agrícolas, uma vez que a especulação financeira está tendo impacto nos mercados físicos de commodities. As reclamações de Barnier foram endossadas pelo comissário agrícola do bloco europeu, Dacian Ciolos, que mais uma vez mostrou-se incomodado com a atuação dos grandes fundos de investimentos em mercados como o de grãos em Chicago.
(Fonte: Valor Econômico/Fernando Lopes | De São Paulo/Com Bloomberg e Dow Jones Newswires)
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