A globalização dos negócios está levando pequenas e médias empresas a aprofundar sua presença no exterior. Hoje, a abertura de unidades comerciais, de suporte ou de produção, não são mais atributos exclusivos das grandes corporações e, além de viabilizar a ampliação de mercados, rendem desde acesso a novos produtos até melhor planejamento fiscal e tributário.
Boa parte das iniciativas se concentra em cadeias corporativas, mas já surgem casos de pequenas empresas voltados ao consumidor final ágeis na abordagem internacional. A pequena Sofá Café, rede de cafeterias com pouco mais de dois anos de atuação e duas unidades no Brasil, chegou agora a Boston, nos Estados Unidos, onde investiu US$ 130 mil e conta com sete funcionários. Deve faturar mais de US$ 250 mil este ano.
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Além de preparar a implantação de franquias, entender o mercado externo de cafés especiais e alimentar o intercâmbio com outras empresas, a meta é torrar café por lá e controlar o processo, o que não é possível por aqui. "No Brasil não conseguimos trazer café verde de outros países. Mas posso importar de mim mesmo", diz o proprietário Diego Gonzalez.
O potencial do portal de vendas de passagens rodoviárias Click Bus atraiu R$ 5 milhões em investimentos do fundo alemão Rocket para expansão. Em 11 meses de vida, já está presente no Brasil, México, Alemanha, Polônia, Turquia, Tailândia e Paquistão, com diretor local e áreas comercial, de marketing e tecnologia para acelerar parcerias com empresas de ônibus locais, formatar a plataforma de TI e promover o serviço. Uma das principais dificuldades, segundo o co-fundador Cesário Martins, é localizar talentos. "Os gestores da Ásia e do México são brasileiros e do Paquistão é inglês", exemplifica. Como a estrutura de TI é centralizada no Brasil, também foi preciso ampliar a gestão na área para entregar os novos sites nos prazos esperados.
O tamanho do mercado também levou a Fanem, fabricante de equipamentos médicos e de laboratório especializada em neonatologia, a implantar fábrica na Índia, em 2010, e escritório comercial na Jordânia, em 2011 - os produtos da empresa já estão presentes em mais de 110 países. Até agora, já investiu US$ 1 milhão, de US$ 3 milhões projetados, para produzir sete modelos enviados daqui semi-montados (CKD). "Na Índia nasce um bebê por segundo", justifica o diretor executivo Djalma Luiz Rodrigues.
A participação da unidade nos negócios externos fica em torno de 5% - a América Latina representa 50% das exportações, que somaram US$ 100 milhões nos últimos dez anos e no ano passado cresceram 15%. Este ano, a empresa espera uma expansão global de 17% graças a inovações como a Dueto, um misto de incubadora estacionária e cuidado intensivo irradiante.
Já a CZM, fornecedora de equipamentos para fundações sediada em Contagem (MG), implantou sua fábrica nos Estados Unidos como alternativa à redução do ritmo do mercado brasileiro de construção. Depois de atuar por meio de representação desde 2007, investiu US$ 10 milhões, dos quais US$ 2 milhões só na planta industrial inaugurada em 2012 no Estado da Georgia, que no ano passado fabricou 20 equipamentos e faturou US$ 15 milhões. A escolha do local foi estimulada por benefícios fiscais. A empresa tem 30 funcionários lá e 130 aqui, onde fatura, em média, R$ 100 milhões anuais. "Exportamos para 25 países", diz o gerente financeiro Marcello Clo.
Outra empresa que avançou para o exterior na área de infraestrutura foi a distribuidora de flanges e conexões industriais HCI, que em maio abriu a unidade HCIbr na Ilha da Madeira, em Portugal, para fortalecer o atendimento ao setor de óleo e gás nacional e internacional. A meta da empresa, que faturou R$ 100 milhões em 2013 e investiu R$ 3 milhões na nova filial, onde mantém seis funcionários, é ganhar 20% com as novas operações.
De acordo com o diretor superintendente Marcos Alves de Lima, a decisão foi motivada por programas de incentivos fiscais, que beneficiam clientes compradores de material no exterior para fabricação de plataformas e navios por estaleiros brasileiros, e pela maior atuação da concorrência internacional no mercado nacional. "O próximo passo é atender de forma global nossos clientes internacionais", antecipa Alves de Lima.
Algumas acompanham clientes para fora do país. A Finnet, empresa de TI especializada em soluções para fluxos de dados financeiros, investiu mais de R$ 1 milhão em subsidiária nos Estados Unidos, inaugurada em junho na cidade de Melbourne, na Flórida, selecionada por incentivos concedidos pelo governo local. A unidade comporta dez funcionários e visa aproximação com clientes estratégicos como Bank of America, Deutsche Bank, Bunge e também a General Motors. "A facilidade, receptividade e burocracia mínima rendeu sentimento de que algo estava errado", descreve Marcos Bonfá, presidente da subsidiária.
Já a Pman, fabricante de soluções para panificação industrial, está sendo instada a transformar representantes em sócios de subsidiárias locais para sustentar seu modelo de negócio, calcado na oferta de equipamentos em comodato para uso dos produtos vendidos, como as misturas concentradas conhecidas como núcleos para panificação.
A medida já atingiu países como os Estados Unidos, Chile e Peru e chega agora à Colômbia. "Não é possível o comodato internacional. Podemos exportar temporariamente, mas depois é necessário nacionalizar", explica o diretor Paulo Cavalcanti.
A Raumak, por sua vez, fornecedora de soluções para acondicionamento e movimentação de produtos com atuação em 35 países, abriu em janeiro unidade em Atlanta, nos Estados Unidos, com aporte de US$ 1 milhão previsto até 2015 para sustentar operação comercial própria com quatro funcionários. "O país é o centro do consumo, mas não estava crescendo como esperávamos", diz o presidente Raulino Kreis Junior. A previsão é faturar este ano US$ 1 milhão, com US$ 3 milhões em 2015, e a meta é depois oferecer show room e máquinas semi prontas para acelerar o processo de entrega e adequação ao perfil do cliente.
Fonte: Valor Econômico\Por Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo