Diante da mais dramática crise do setor, os principais executivos da siderurgia brasileira revelaram que a pressão deve permanecer no mínimo durante o médio prazo e reforçaram suas estratégias para sobreviver durante esse período. No fechamento do 27º Congresso Brasileiro do Aço, realizado pelo Instituto Aço Brasil, os empresários disseram ontem que a saída momentânea se dará por meio das exportações.
Mas Benjamin Steinbruch, acionistas e presidente da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), disse acreditar que o mercado interno é "o futuro" do setor e o melhor caminho para gerar empregos, renda e até mesmo impostos para a União. Segundo ele, é necessário que o governo crie mecanismos para que as condições de concorrência sejam as mesmas que em outros países. Ele também reclamou da alta taxa de juros no país atualmente.
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"O que precisamos é ganhar competitividade", declarou o empresário. "Se nos forem oferecidas ao menos perto das condições que são oferecidas lá fora, tenho certeza que o Brasil se sai muito melhor. Não queremos subsídios, mas condições iguais", afirmou. "Se isso não for garantido, fundos estrangeiros certamente ficarão com ativos nacionais a preços muito baixos". Segundo Steinbruch, o Brasil não conta mais com dinheiro dos fundos de pensão e do BNDES para colocar em ativos.
"Se oferecerem as condições oferecidas lá fora, tenho certeza de que o Brasil se sai muito melhor", diz Steinbruch
Políticas equivocadas do governo nos últimos anos levaram a um grande empobrecimento do país. "É o maior empobrecimento pelo qual uma nação passou sem que estivesse em período de guerra", disse. "E as autoridades não deixaram de ser avisadas sobre as medidas que estavam tomando.
O novo presidente da Usiminas, Sergio Leite, explicou que o foco do momento é a sobrevivência - nos próximos três a cinco anos essa será a ordem do dia. Enquanto isso, pede prioridade do governo para um programa para a indústria de transformação do país. "Reestruturar e adequar as empresas à realidade do mercado [é necessário]". O "fundo do poço" já se aproxima, mas recuperação ainda vai demorar, afirmou.
André Gerdau Johannpeter lembrou que a crise atual do setor já se anunciava. Há algum tempo, explicou, já se discute a pressão que o excedente de capacidade chinesa poderia exercer sobre o mercado brasileiro. Na opinião do presidente da Gerdau, essa sobreoferta da China terá impacto ainda sobre pelos próximos cinco a dez anos.
"No curto prazo, o que podemos fazer é buscar a exportação, não haverá retomada doméstica", afirmou Gerdau. "Sem exportações, os números são dramáticos, de demissões e unidades fechadas. No médio e longo prazo, precisamos de competitividade estrutural, mexer nos juros, nas leis trabalhistas e nos impostos", acrescentou.
Steinbruch, além de criticar a alta taxa de juros, disse que o endividamento está se tornando um problema estrutural no Brasil. Governos municipais, estaduais, empresas e pessoas físicas necessitam, em sua opinião, de um grande programa nacional de desalavancagem. Sua sugestão é utilizar parte dos depósitos compulsórios de bancos, que hoje rendem perto de zero, para um financiamento a juros mais atrativos, por exemplo. "Hoje, os bancos estão fechados, não estão concedendo crédito para ninguém. Isso estimularia não só a siderurgia, toda a indústria".
O evento também trouxe especialistas sobre China e comércio exterior, os quais disseram que o reconhecimento do país asiático como economia de mercado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) poderia distorcer a siderurgia e outros setores no mundo.
Usha Haley, professora da Universidade de West Virginia, afirmou que usinas chinesas têm acesso a capital barato e fácil, ao mesmo tempo em que recebem grandes subsídios do governo local. Ela acredita que o grande objetivo é exatamente aumentar a produção e, enquanto mantém emprego e volumes garantidos no mercado doméstico, conseguir se tornar grande exportadora do material.
Para Aluísio de Lima-Campos, especialista em dumping na American University Washington College of Law, o artigo 15 do acordo com a OMC cita especificamente que cada país-membro da organização que importa produtos chineses teria de reconhecer a China em sua legislação, o que abre espaço para que defesa comercial continue sendo aplicada.
Antônio Delfim Netto, economista e ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, não acredita na atuação da OMC. Para ele, cada país terá de se resguardar com medidas de proteção e citou que Índia e EUA. "Se diplomacia resolvesse, o mundo não teria guerras".
Fonte: Valor Economico/Renato Rostás e Ivo Ribeiro | De São Paulo