Os dois principais investimentos da Vale em fase final de implantação, o S11D e Moatize, poderão ter rentabilidades menores do que as imaginadas inicialmente. Esse cenário considera uma queda na demanda por commodities minerais resultante da desaceleração da China. Ainda assim, os projetos terão garantida boa rentabilidade. O S11D, na Serra Sul de Carajás, no Pará, é o maior projeto de minério de ferro da história da Vale. Vai exigir investimentos de mais de US$ 16 bilhões, incluindo a logística, e entrará em operação no fim de 2016. Moatize, projeto de carvão em Moçambique, na África, vai demandar mais de US$ 6 bilhões em investimentos e está em fase de aumento da produção.
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse ao Valor que no atual cenário de mercado os riscos serão menores para os projetos mais competitivos, caso do S11D e de Moatize: "Quem estiver no primeiro quartil [da indústria, em termos de custos], ou no começo do segundo quartil, os produtores de custo baixo, aqueles que tiverem melhor produto, esses vão sobreviver. Poderão ter rentabilidades menores, mas vão sobreviver e terão boa rentabilidade", disse Ferreira. Ele fez a afirmação em resposta a uma pergunta sobre os riscos para o S11D e Moatize em um ambiente de arrefecimento da demanda por commodities.
O S11D está no primeiro quartil da indústria da mineração de ferro em custos. Vai produzir minério com alto teor de ferro, o qual recebe "prêmios", em termos de preços. Segundo Ferreira, a Vale está com o cronograma de obras dos projetos "absolutamente" em dia. Afirmou que não há atrasos na implementação do S11D, em Carajás. Mas mesmo tendo projetos competitivos, Ferreira reconhece que a empresa precisará continuar a perseguir melhores retornos: "Sempre será necessário fazer um esforço adicional para que com novos investimentos em tecnologia e com criatividade seja possível assegurar o retorno prometido aos acionistas. Será um desafio permanente nesses novos tempos."
Segundo ele, a Vale trabalhou nos últimos anos para ter ativos de "classe mundial", projetos com escala, baixo custo de produção e boa qualidade dos produtos vendidos. Um exemplo é justamente Carajás, local do S11D, de onde sai um minério de ferro pelo qual a Vale obtém "prêmios" nos preços de venda no mercado. "O níquel que produzimos no Canadá é amplamente disputado no mercado internacional", afirmou Ferreira. E disse que o carvão produzido em Moatize também deverá tornar-se referência para preços no mercado daqui a alguns anos.
"O importante, em qualquer cenário econômico, é ter ótimo produto e ótimas reservas para dar continuidade à produção, ter ativos de primeira qualidade e custos baixos. Com isso você está assegurado na indústria", disse Ferreira. Como não determina preços no mercado, a Vale está focada em reduzir custos para garantir margens melhores no minério de ferro e também em outros produtos. A queda nos preços do minério de ferro tem comprimido as margens da companhia. Um analista avaliou que em um cenário de menor demanda por commodities minerais os preços tendem a permanecer em patamares mais baixos e, nesse ambiente, cai o retorno de projetos como S11D e Moatize.
Ferreira afirmou que, na atual situação do mercado, a abertura de capital do negócio de metais básicos não deve acontecer. "Sempre dissemos que não estávamos procurando recursos adicionais na operação do IPO [venda de ações] dos metais básicos. Seria para destravar valor [do negócio] e no nosso entendimento [o IPO] não se justifica neste momento", disse Ferreira. Ele falou ainda sobre a possibilidade de a Vale fechar o ano com investimentos na faixa de US$ 7 bilhões, 30% abaixo dos US$ 10 bilhões previstos para 2015. O investimento menor em dólares reflete, em boa parte, a desvalorização do real frente ao dólar. "Temos 70% do investimento feito em reais. A desvalorização [do real] permite investir menos dólares."
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio
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